Descascando as Lithops

Publicado por Descascando a ciência em

As suculentas são as queridinhas de muitos jardins, e também da internet. No texto O segredo das suculentas demos algumas dicas de cultivo e te incentivamos a aprender mais sobre essas famosas plantinhas.

Hoje vamos falar sobre uma suculenta bastante peculiar, muito bonita e que nem parece planta: as famosas Lithops, também chamadas de “plantas pedras”

O que são Lithops?

Lithops é um gênero de plantas nativas da Namíbia e África do Sul e o nome é uma junção de duas palavras gregas: Litho (“pedra) e ops (“face”). 

Estima-se que existam mais de 300 espécies de Lithops, sendo muitas delas endêmicas (só ocorrem em determinados habitats). Há espécies de Lithops adaptadas a condições um tanto inóspitas, como regiões rochosas ou arenosas, e algumas são muito raras. 

Este gênero de plantas apresenta adaptações morfológicas e fisiológicas bastante peculiares, para tolerar os ambientes em que crescem. Elas foram selecionadas para sobreviver em ambientes muito secos, e não à toa são chamadas de “plantas pedra”. 

Elas são bastante parecidas com rochas, ficando quase imperceptíveis em seu ambiente natural (Figura 1)

 

Figura 1: Lithops se camuflando entre rochas, seu ambiente natural.

Por apresentarem esta curiosa camuflagem, as Lithops chamam bastante a atenção das pessoas, impulsionando o interesse em seu cultivo como planta ornamental. 

Esta camuflagem seria uma estratégia de sobrevivência, já que assim ela acaba enganando possíveis predadores em busca de reservas de água, armazenada em suas folhas (Figura 2).

Características das espécie de suculentas

Uma das características das Lithops são as “Janelas” ou “entradas de luz” (Figura 2). Este é um tecido translúcido que permite que luz solar penetre na planta. Ao passar por ele, esta luz é filtrada, bloqueando raios UV prejudiciais, e chegando ao interior da planta nos espectros de luz adequados para a fotossíntese (que acontece nas paredes internas das folhas). 

Além do mais, estas janelas funcionam como termorreguladoras, deixando a temperatura interna adequada para o metabolismo. 

Figura 2: Corte transversal de Lithops (à esquerda) e imagem da planta inteira (à direita). F1 e F2 indicam as folhas da planta

O formato e a dimensão das janelas são extremamente variáveis entre as espécies (Figura 3), sendo que plantas de clima mais chuvoso e, portanto, com mais incidência de nuvens apresentam janelas maiores, enquanto plantas de clima muito seco e com pouquíssimas nuvens apresentam janelas menores. 

Figura 3: Diferentes espécies de Lithops evidenciando as diferenças entre as janelas. 

As Lithops são plantas pequenas que raramente apresentam mais de dois pares de folhas unidas na base e fundidas na raiz (Figura 1). Na base da fissura fica a região que é responsável pelo crescimento das plantas e pelo florescimento. 

Todos os anos a Lithops produz um único par de folhas, que substitui o antigo. Esse novo par de folhas vai drenando as reservas de água e nutrientes das folhas mais velhas e, neste período, a rega deve ser suspensa

O novo par de folhas só substitui o antigo e completa seu desenvolvimento se a planta não receber água. Portanto, quando observar que na fissura da sua Lithops tem um novo par de folhas nascendo, você pode parar de regá-las. 

Lithops: como cuidar?

Veja a seguir outras dicas para que suas Lithops cresçam fortes e felizes na sua casa.

Luz

Muitas Lithops são cultivadas em condições ambientais bem controladas, como viveiros. Então, apesar de ser uma planta de ambientes bem quentes e secos, antes de colocar sua plantinha direto no sol, é necessária uma aclimatação, expondo sua muda gradativamente a maiores intensidades de luz. 

Mas cuidado! Estas plantas não são de sombra, então o ideal é deixá-las no sol por uma hora durante uma semana e ir aumentando este período aos poucos. Quando não estiver exposta ao sol direto, ela deve estar em um ambiente que receba claridade indireta ou difusa. 

De modo geral, plantas com pouca luz estiolam, isto é, apresentam um crescimento exacerbado em direção à luz, com afinamento das folhas. Também, observe se suas plantas apresentam uma película esbranquiçada. Isto é sinal de que ela está sofrendo queimaduras, então reduza o tempo no sol direto.

Irrigação

As Lithops são plantas de clima árido com o verão chuvoso e o inverno seco. A recomendação é tentar seguir o calendário de chuvas da região onde você está, para ter sucesso com o cultivo. Assim, o inverno é um período de “dormência”, que não requer regas.

Nesta fase as folhas novas vão consumindo as velhas, até que estas se tornem uma fina película sobre a nova. Ao final deste processo, as regas podem ser retomadas (1 a 2 vezes por semana). 

Em geral, nunca deve haver mais de dois pares de folhas em uma planta. Irrigação na época de troca de folhas faz com que as folhas velhas não murchem e isso impedirá o completo desenvolvimento das folhas novas. É preciso que estas antigas folhas sequem, para que as novas venham fortes e bonitas.

Em períodos chuvosos, com alta umidade relativa do ar, não há a necessidade de regas frequentes, a menos que elas apresentem murcha nas folhas. Portanto, sempre fique atento às condições climáticas de onde você está cultivando suas Lithops

Solos 

O solo natural destas plantas é geralmente bastante arenoso e com presença de cascalhos, o que permite uma rápida drenagem da água. O ideal é buscar imitar essas condições nos potes onde serão cultivadas as Lithops.  

Busque fazer uma mistura de substrato para cactos com areia e vermiculita, na proporção de 2 partes de solo, uma de areia e uma de vermiculita. Para realizar o plantio  cave um buraco para colocar ¾ da planta enterrada sob o solo, e cuidado para não quebrar as raízes. Depois do plantio, aplique sobre o solo uma fina camada de areia grossa e finalize com seixos.  

Pragas e doenças 

A principal causa de doenças em Lithops é resultante do excesso de água. Esta umidade favorece o desenvolvimento de patógenos que apodrecem suas raízes, matando a planta. Na dúvida, evite regar suas Lithops. Lembre-se que elas vivem em condições desérticas, sem chuvas por até 6 meses. 

Outro problema que pode ocorrer é o ataque do ácaro marrom, que se alimenta da seiva das plantas. Ele pode ser controlado por outro ácaro (chamado de “ácaro predador”), que pode ser encontrado à venda em casas agropecuárias. Alguns produtos contendo óleo de Neem também podem ser eficazes no combate a esta praga das Lithops

Se você quer cultivar Lithops, atente-se a estes cuidados básicos aqui apresentados. Estas são plantas bastante resistentes, e há exemplares com mais de 50 anos de idade. Lembre-se sempre de tentar ao máximo provê-las de um ambiente bem próximo ao natural que você terá sucesso!

Autor

Luciano Delmondes de Alencar M.Sc

Agroecólogo, mestre em genética, melhoramento vegetal e biotecnologia e doutorando em genética e biologia molecular. Atualmente é servidor público federal no IFSP e coordena a SmartBiofactory: uma biofábrica inteligente. É um colecionador entusiasta de cactos e outras suculentas, seu projeto de doutorado busca compreender a evolução de um gênero de cactos endêmicos do Brasil através de biologia molecular.

Categorias: Plantas

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1 comentário

Andrea · 9 de janeiro de 2024 às 15:37

Boa tarde Luciano!
Obrigada por suas dicas! Gostaria de cultivar lithops, mas moro no Nordeste do Brasil e tive informações de que os lithops precisam de estação fria para quebrar a dormência e produzir novas folhas. Logicamente, isso não aconteceria aqui. Seria possível cultivá-los em cidade litorânea do NE?

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