- “A natureza é uma guerra(1) entre espécies(2)…”
(2) Não. A luta pela existência (em termos darwinianos) ocorre entre indivíduos e não entre espécies. O histórico deste pensamento essencialista é muito bem retratado por Ernst Mayr em seu livro “Uma ampla discussão” (FUNPEC editora, 2006), onde ele discute este assunto em um trecho intitulado “Luta entre espécies ou entre indivíduos?”. A unidade de seleção (onde realmente a seleção natural atua) é o indivíduo, já que a diferenciação das características “visíveis” pela seleção natural (fenótipo) ocorrem neste nível. Existe uma frente de cientistas que defendem o gene como a unidade de seleção. Segundo um de seus mais famosos defensores, Richard Dawkins, “(…) A unidade de seleção no sentido de replicador é o gene. E no sentido de veículo, o organismo. Ambas são igualmente importantes. Só fazem coisas diferentes. Não estão competindo pelo papel de unidade de seleção”. Divergências a parte, a unidade de seleção definitivamente não é a espécie. Quando definimos que a unidade de seleção é o indivíduo abrimos os olhos para a competição intraespecífica, que pode ser tão ou até mais importante do que a competição interespecífica. Se pensarmos apenas em espécie, esquecemos este componente tão importante das interações.
- “(…) e que as mais fortes e mais adaptáveis são as que sobrevivem”
- “(…) Quando as espécies se reproduzem fazem cópias de si próprias, nem sempre idênticas, pois ocorrem mutações ou desvios que criam variedade. Darwin chamou isso de seleção natural.”
Depois dessa aula de como a divulgação científica não deve ser feita, nada melhor do que o grande biólogo Ernst Mayr para ensinar aos jornalistas da Globo o que realmente é seleção natural.
“(…) O termo, simplesmente, refere-se ao fato de que somente uma pequena parte da prole de um grupo de genitores sobrevive o suficiente para se reproduzir. Não há uma força seletiva particular na natureza, nem um agente seletivo definido. Há muitas causas possíveis para o sucesso de poucos sobreviventes. Alguma sobrevivência é devido a processos estocásticos, isto é, pura sorte. A maior parte, entretanto, é devido ao trabalho superior da fisiologia do indivíduo sobrevivente, que permite enfrentar as vicissitudes do ambiente melhor do que os outros membros da população. A seleção não pode ser dissecada em porções internas e externas. O que determina o sucesso de um indivíduo é precisamente a capacidade da maquinaria interna do organismo (incluindo o seu sistema imune) de enfrentar os desafios do ambiente. Não é o ambiente que seleciona, mas o organismo que enfrenta o ambiente com muito ou com pouco sucesso. Não há nenhuma força externa.”
Valeu pela força pedro. Tentamos escrever algo interessante nas horas vagas :)Abraços.
Fala Luiz!Ótimo post cara. Descobri que você e o Breno tinham um blog agora! Gostei dos posts!Abraços,Pedro
Tenho o Darwinismo como a maior verdade do mundo, mas realmente esses detalhes do video passam despercebidos.Falando em Darwin, começa nesse domingo 01/02 na NatGeo uma série de documentários sobre ele, Domingo as 22h00.
Estava brincando. A evolução vê individuos mas actua em termos de probabilidades. Por isso é mais facil lidar com mais de um individuo de cada vez, formando uma amostra estatisticamente valida. A teoria é a mesma. São apenas abordagens diferentes. Acho eu.
Oi,Sim, o fenotipo é aquela coisa à volta do DNA. 🙂
Fala joão,Concordo que é difícil visualizar a evolução dos indivíduos, mas não resta dúvida de o que a "seleção" realmente "vê". É o fenótipo dos indivíduos. Então ela realmente atua neste nível. Se a seleção de grupo também é importante é uma discussão longa. Dawkins tem um longo discurso contra este conceito. Mas muita gente defende.A ideia do dawkins também me seduz muito, pois quem realmente cria a variação é o genótipo, sendo o fenótipo apenas um veículo transportador desta maquinaria. Realmente é uma ideia interessante 😀
Mas a mais pequena unidade que retem todas as propriedades nesseçarias para explicar a evolução é o gene. Sou um bocado Dawkinista .:p
Sabe porque digo isto? Porque é muito dificil visualizar genes a evoluir, e literalmente impossivel visualizar individuos a evoluir (porque eles, individualmente não evoluiem, nascem e morrem com os mesmo genes). Já vi muita confusão por causa disso. Uma população é mais facil para explicar. Tem dois inconvenientes. Como unidade não é nada basica e requer a capacidade de lidar com numeros grandes (muito grandes) para funcionar.
Fala João, obrigado pela visita. A discussão sobre a unidade de seleção vai longe. Já conheci e li sobre defensores ferrenhos do indivíduo e genes. Interessante o seu ponto de vista.Abraços.
Oi,bom post mais uma vez. Estou de acordo com o erro apontado e com a critica a mais um sensacionalismo na divulgação cientifica. Serio. Tenho no entanto algumas reservas acerca de considerar o individuo como unidade basica da evolução. Dawkins diz que é o gene. Eu penso que ele tem razao em muitos aspectos mas cheguei à conclusao que populaçoes é uma unidade basica muito util para pensar sobre o assunto. De qualquer modo é uma questão de perspectica. Especies nao, essa esta mesmo errada.
Oi Tata, obrigado pelo elogio e pela visita.Como você ressaltou, muitas vezes falamos as coisas sem pensar em seu sentido estrito. Tenho certeza que muita gente fala "espécie" com o sentido de indivíduo, ou às vezes nunca parou para pensar nisso. Acho que é o nosso papel trabalhar estes conceitos.Abraços.
Muito bem escrito o post!!! Adorei!Me fez lembrar daquela idéia que muitas pessoas fazem de que os animais lutam pelo "bem da espécie".