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Navio alemão utilizado para fertilizar o oceano. Fonte: NatureNews

Bem, como o Breno ressaltou no post anterior, a ecologia não é tão direta como a matemática. Nem sempre 2+2=4. Na verdade, muitas vezes 2+2=5 e, depois de alguns meses ou em um outro ambiente, 2+2=3.

Essa semana um navio alemão zarpou em direção a Antártica. Ele não estava carregado com sal, alimentos ou qualquer outro tipo de carga usual. Ele na verdade estava carregado com 20 toneladas de ferro. Quer dizer, ainda está carregado, mas por pouco tempo. O objetivo do grupo de 50 cientistas de várias partes do mundo é descarregar todo este ferro em pleno oceano, em busca da indução de um bloom algal. Além de estimular a produtividade primária desta porção de água normalmente limitada por ferro, os cientistas pretendem acompanhar todo o processo em várias escalas, como: biologia marinha, fluxo de carbono, diversidade biológica, dentre outras.

Esta saída de campo tem um carácter um pouco diferente de outras tentativas de fertilizar o oceano pretéritas. O foco desta pesquisa está exatamente em acompanhar as consequências da fertilização, não só em termos de fixação de carbono, como pensando na cadeia trófica como um todo. Mesmo assim o navio alemão tem causado uma grande discussão na mídia científica gringa. Isso porque as tentativas anteriores visavam apenas a fertilização em si em busca dos preciosos créditos de carbono, principalmente financiadas por empresas que em nenhum momento se preocupavam com a alteração marcante na cadeia trófica marinha que elas estavam causando.

Vamos tentar entender o problema. Pensando como um empresário:

As mudanças climáticas são um problema gigantesco para o planeta Temos muitas algas nos oceanos que são limitadas por ferro. Ferro é um mineral relativamente barato. Então vamos pegar um navio cargueiro e jogar ferro no oceano! Assim além de salvar o planeta ainda vamos vender muitos créditos de carbono e ficar milionários!

E agora pensando como um ecólogo:

O aquecimento global é um fenômeno que tem se mostrado cada vez mais real pelas pesquisas cientificas e pode trazer conquências para a vida humana na terra. As algas nos oceanos são limitadas por ferro, mas podem também ser limitadas por outros nutrientes, principalmente com ferro em excesso. Além disso, blooms de algas tem se mostrado no mundo todo como fenômenos imprevisíveis e que podem muitas vezes ser dominados por algas tóxicas. Outro problema está na decomposição por microrganismos do fundo do oceano de toda esta nova biomassa gerada, o que pode diminuir a oxigenação do fundo e ao mesmo tempo liberar grande parte do carbono fixado pelas algas. Isso sem contar em alterações na teia trófica que um input tão grande de nutrientes pode causar.

Podemos ver então onde o problema se concentra. Pelo que eu li, os cientistas desta pesquisa recente estão muito cientes do problema e, na veradade, querem entender as consequências reais da fertilização do oceano por ferro. Assim poderemos no futuro entender se este processo pode ser feito em larga escala em nossos oceanos ou se ele pode trazer mais problemas do que vantagens em termos ecossistêmicos.

Mais uma vez gostaria de ressaltar o que a histeria quanto ao aquecimento global pode causar. Empresas pilantras como as que tentaram fertilizar os oceanos com ferro sem nenhuma base científica foram estimuladas pela geração “Al Gore”, geração “verde”. Espero que a pesquisa na antártica tenha resultados científicos relevantes, para entendermos um pouco mais como lidar com a natureza. Bem diferente de tratar a complexidade de ecossistemas como uma equação matemática simples, como muitos engenheiros fazem.

Para ler mais sobre esta iniciativa e sobre fertilização do oceano, leia o artigo da NatureNews e da NewScientist.

Para ler outros posts sobre aquecimento global, clique aqui.

UPDATE – 15/01/09 13:50

Segundo o NatureNews, o experimento citado no post foi suspenso. O ministro das ciências da Alemanha pediu para o grupo de pesquisadores responsável pela pesquisa providenciar um novo estudo de impacto ambiental. Ulrich Bathmann, oceanógrafo e um dos responsáveis pelo experimento disse que “É lastimável que o LOHAFEX (codinome do experimento) seja comparado de forma indiferenciada com atividades industriais poluidoras, as quais não tem absolutamente nada em comum.”

Mais uma vez os ambientalistas conseguiram. Através de força política e comoção da opinião pública eles suspenderam um projeto de pesquisa sério. Parabéns.