Gostaria de indicar neste domingo de calor africano uma leitura bem interessante. O artigo intitulado “Solução global, problema local” do nosso vizinho de Scienceblogs Brasil Igor Zolnerkevic publicado na ótima revista de divulgação científica Unesp Ciência.
O artigo do Igor fala sobre um dos vários problemas consequentes de um plantio em monocultura de larga escala e que são mascarados quando só olhamos para o problema ambiental da moda, no caso, o Aquecimento Global. Somente uma pequena parte do nitrogênio adicionado via fertilização é absorvido pelas plantas, fazendo com que os agricultores tenham que usar cada vez mais fertilizantes para obterem um crescimento satisfatório. Este nitrogênio em excesso pode ser lixiviado pela água da chuva para os ecossistemas aquáticos adjacentes ou ser emitido para o ar. O excesso de nitrogênio em ecossistemas aquáticos resulta em um processo já bem conhecido, chamado de eutrofização artificial. Mas a emissão de nitrogênio em forma gasosa pode resultar na chamada “chuva seca” de fertilizantes, transferindo o nitrogênio para regiões bem distantes de onde eles foram inicialmente alocados. Para entender melhor este processo, nada melhor do que ler o artigo do Igor e visualizar o extremamente bem feito infográfico sobre o assunto. Também tratei um pouco sobre o efeito do excesso de nitrogênio em um post bem antigo aqui no blog.
Para quem ainda não entendeu o ponto de interrogação no título do post, o objetivo foi ressaltar o meu ponto de vista que os biocombustíveis de plantas terrestres estão longe de serem “a” Solução global para os nossos problemas ambientais. E isso é um assunto para uma série de posts que está sendo preparada.
Todos os artigos da revista Unesp ciência são disponibilizados em pdf, então recomendo a leitura deste bom exemplo de jornalismo científico brasileiro.
Olá Manuel,
Claro que a culpa não é do nitrogênio em si, mas sim da forma com que o utilizamos. Ao invés de investir em técnicas para melhorar a taxa de eficiência da absorção de nitrogênio e do aumento da desnitrificação no solo, preferimos colocar cada vez mais nitrogênio. O que resulta na intensificação do processo de lixiviação de nutrientes.
E quanto ao etanol ser "sempre" melhor que a gasolina eu tenho minhas dúvidas. Devo postar mais sobre o tema.
Abraços e obrigado pelas palavras!
Caro Luiz Bento
Fui ler o artigo,e vou-me deter num ponto,o que está ao meu alcance. Trata-se da ineficiência na aplicação do azoto,da qual ele culpa não tem,devendo ficar muito melindrado por isso,por ir manchar a sua brilhante folha de serviços,pela muito fominha que ajudou,e ajuda, a matar,com outros companheiros,como o P e o K.
Quanto ao etanol,como se sabe,sempre será melhor que o combustivel fóssil,que estava lá muito escondidinho,sem fazer mal a ninguém. O pior é o reflexo no preço dos "staples",o que é o diabo.
E pronto,por agora é tudo. Muito boa saúde.
Caro Vinícius,
Obrigado pela participação e pela relevante pergunta.
Primeiro, acho complicado se referir ao assunto Aquecimento Global como algo recente, que em poucos anos tomou conta da grande mídia. Concordo que que a nossa grande mídia acaba fazendo um alarde muitas vezes exagerado em relação as principais consequências previstas, mas o assunto não é recente. Um argumento para iso é que o primeiro relatório do IPCC é de 1990. Então desde a décade de 80 temos uma movimentação política e científica em relação ao tema.
Concordo que existem problemas até mais prioritários do que o Aquecimento Global para resolvermos e é por isso que eu tento não me restringir ao tema. O que eu mais me preocupo é com as ditas "soluções" pro problema do Aquecimento que podem trazer gravíssimas consequências para outros temas, como biodiversidade.
Em relação a parte política, acho que todos querem a sua parte no bolo. Não importa o tamanho do problema, se ele está sendo tratado como prioridade pela grande mídia, todos os políticos querem mostrar serviço. Aí acabamos caindo na mesmisse, ambientalismo de quinta categoria...
Finalizando...acho que o Aquecimento Global é sim um tema prioritário e que acões que tentem minimiza-lo podem trazer boas consequências para o nosso sistema de desenvolvimento. Mas não a qualquer custo. Quando causamos uma mobilização mundial em relação ao um tema científico, corremos o risco de torná-lo ralo demais e as pessoas não conseguem diferenciar as ações realmente efetivas das puramente ambientalistas. Temos que lutar contra isso e mostrar que temos problemas tão sérios como o Aquecimento Global para serem resolvidos.
Luiz, qual a sua opinião sobre toda essa comoção em torno do aquecimento global? Acho estranho o assunto ter tomado conta da mídia em poucos anos, e ser a referência em termos de problemas ambientais. Mas convivemos há muito mais tempo com outros problemas graves (como desmatamento e poluição de ambientes aquáticos, por exemplo), que já são bem conhecidos e cujas soluções estão sendo desenvolvidas há décadas, cada vez mais eficientes e com custos mais baixos. Não seria prioritário, até por ser mais rápido e barato, zerar esses passivos? Não é muito mais atraente a relação custo x benefício de terminar o PDBG (despoluição da Baía de Guanabara), ao invés de o governo do estado neutralizar suas emissões de carbono? Por que todo esse frisson da mídia e do povão em relação a isso?