Em 2009 escrevi sobre o Zoneamento Agroecológico da cana-de-açúcar (parte um e parte dois). O argumento principal da iniciativa era estudar as melhores áreas para o plantio de cana e impedir a sua expansão para biomas como Pantanal e Amazônia. Independente das críticas que eu fiz na época sobre a iniciativa em si e o estudo que serviu como base, a discussão foi importante para colocar a questão em pauta. Enquanto em países como os EUA existe uma disputa direta entre a produção de alimentos e a de biocombustíveis (além de outros problemas como o uso em excesso de fertilizantes), o nosso problema estaria mais voltado a conservação da biodiversidade. Na época da divulgação do Zoneamento, o Ministério do Meio Ambiente publicou a seguinte nota:
“(…) o governo vai proibir a expansão do plantio de cana no Pantanal e na Amazônia. (…) Dois argumentos convenceram Lula a impedir a expansão do plantio de cana nos biomas pantanal e amazônico. Um deles é que o Brasil precisa manter um discurso ambiental forte para defender a ampliação da produção de etanol frente a outros combustíveis no mundo. Isso abriria portas para exportação do etanol brasileiro.”
Parece que o Brasil não precisa mais impedir o avanço da cana-de-açúcar na Amazônia, nem se for apenas para manter um discurso ambiental forte. Pelo menos é o que os nossos representantes da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do senado acham. Eles aprovaram hoje o plantio de cana na Amazônia Legal. Mas e o Zoneamento Agroecológico da cana? Segundo a maior parte dos membros da comissão temos outras prioridades:
“(…) Para o autor da proposta, senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), o plantio de cana na região vai estimular a produção de biocombustíveis. Em voto favorável, o relator, senador Acir Gurgacz (PDT-RO), apontou a necessidade de ampliar as áreas de cultivo para o atendimento das demandas futuras de etanol e açúcar.
(…) os senadores Ivo Cassol (PP-RO), Valdir Raupp (PMDB-RO) e Ataídes Oliveira (PSDB-TO) defenderam a ampliação da produção de etanol, sob argumento de que o cultivo levará desenvolvimento a seus estados.”
Somente os senadores Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) e Ana Rita (PT-ES) votaram contra. Você está espantado com isso? Eu não. Sabe quem é o presidente da comissão de Meio Ambiente do senado? O digníssimo senador Blairo Maggi, um dos líderes da bancada ruralista e um dos maiores produtores de soja do Brasil. E você achando que o nosso maior problema era o Feliciano…
Preservada quando for habitada? Acompanha o Google Earth, toda estrada aberta é seguida de devastação, e sem exceção, pelo menos aqui no Brasil. Olha a "manchinha" lá em Rondônia... De acordo com um relatório da ONU, o mundo rasga 4,7 trilhões de dólares pela degradação do meio ambiente; levando em conta que 50% de todo alimento produzido no mundo é disperdiçado, que podemos dobrar a produção de alimentos sem derrubar nenhuma arvore, e que temos que agregar valor aos produtos, manufaturando-os e nao apenas exportando matéria prima e importando produto acabado.... É burrice destruir um bioma com potencial de trilhões de dólares em patentes de medicamentos e toda sorte de substancias benéfica para os seres humanos; e sem contar o potencial turístico da floresta, e principalmente a perda de informação genética, que é gigantesca na Amazônia, o que levou quase 4 bilhões de anos para evoluir se perde num piscar de olhos...
Não quero ser chato, mas muita gente há de concordar que "potencial de trilhões de dólares em patentes de medicamento" é um argumento fraco. É um valor imaginário e depende de inúmeras variáveis incontroláveis. É apenas uma aposta.
Em oposição, por bem ou por mal, a cana e a agropecuária produzem recursos de valor conhecidos e em prazo definido. São uma realidade.
Existem outros motivos mais tangíveis para se preservar uma floresta e são esses que devem ser usados, ou mais discussões como essa do Senado estarão perdidas.
Que bom! Fico satisfeito com essa notícia. Quem sabe a Amazonia possa ser melhor conhecida, explorada e preservada quando for habitada.
Isso me lembra alguma coisa Genimar...