A tênue linha verde

A linha verde que separa um ecochato de um ambientalista consciente é muito, muito tênue.

Outro dia descobri que o Bradesco por meio da Fundação Amazônia Sustentável paga para os moradores de uma determinada região da Amazônia uma bolsa-floresta para que eles não desmatem a floresta. Num primeiro momento fiquei absolutamente chocada com essa atitude. Ouço tanta gente do meu convívio criticar as bolsas dadas pelo governo que achei absurda essa atitude, mas conversando com uns amigos e pensando melhor essa não é uma atitude ruim. Baseando-se do princípio que estamos pagando por serviço ecológico prestado pela floresta e evitando que ela seja desmatada é bastante interessante a idéia.

O problema do Bradesco não é financiar a “bolsa-floresta”, na realidade é uma atitude super interessante para um banco. O problema do Bradesco é ele financiar as hidrelétricas do Rio Madeira que vão devastar uma parte da floresta. Uma atitude bastante contraditória, não? Ou será que eles estariam pagando para se preservar a floresta pra compensar o financiamento das hidrelétricas?

Será que por financiar as hidrelétricas do Rio Madeira o Bradesco é vilão? Ou será que ele é bonzinho pois financia a preservação da floresta? Eu chego à conclusão que no mundo hoje não podemos ser maniqueístas achando que só há esse tipo de classificação, bons e maus, empresas sustentáveis ou não. Nenhuma empresa do ponto de vista de responsabilidade sociambiental, sustentabilidade e afins é 100% perfeita. Mas será que pelo simples fato dela se preocupar com o assunto já devemos achar o suficiente e que essa preocupação vai levar a ações mais acertadas no futuro?

Todos sabemos que o Bradesco, o Banco Real, a Natura, a Petrobrás, a Odebrecht e todas as empresas por ai tem problemas, nenhuma é perfeita, na grande maioria das vezes elas acertam num ponto, mas pecam num outro e todo mundo sabe que os grandes culpados por isso são o sistema econômico, os acionistas, o governo que só conseguem entender crescimento e lucro como variáveis realmente importantes e significativas.

Não quero dizer que as empresas são boas simplesmente porque resolveram fazer algum movimento em relação à sustentabilidade, ou são más porque resolveram se maquiar de verde, mas podemos ser um pouco mais flexível com as empresas que tentam fazer alguma coisa, não há perfeição, infelizmente é o que temos no momento. Jogar pedras por jogar não vai fazer nada ficar melhor. Temos por obrigação como ambientalista cobrar coerência nas atitudes das empresas, não simplesmente dizer que tudo que ela faz é errado, atacá-las por atacar só faz com que o nosso discurso perca a credibilidade.

Esse é um dos desafios que enfrento aqui no blog, tento não ser uma ecochata que implica com tudo que não é como deveria ser e tento não achar tudo lindo e maravilhoso só por que a empresa se declara verde. Acho que já cometi os 2 pecados por aqui, mas tenho tentado melhorar e me policiar mais. Acho todos deveriam.

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