Desde o lançamento do livro Arrabalde – Em busca da Amazônia estou curiosa para saber o que um herdeiro como João Moreira Salles tinha a dizer sobre o assunto. Eu sei que ele é documentarista, produtor de cinema e fundador da revista Piauí, mas nada disso seria possível se ele não tivesse antes de mais nada nascido herdeiro de uma das maiores fortunas do Brasil. Acontece, nascer na classe trabalhadora ou na classe dona dos meios de produção é uma loteria.
Pois bem, dito isso vamos ao livro…
Passei boa parte do início da leitura procurando o que eu estava esperando, histórias sobre a Amazonia hoje, sobre a experiência do homem rico ir viver por lá um tempo para poder escrever sobre sua experiência. Ele começa o livro com um resgate histórico de como o Brasil iniciou sua exploração da região, histórias que muitas vezes me entediaram, mas por certo ele achou necessário, só não era o que eu esperava.
Quando ele começa a relatar dados, fatos e causos da Amazonia hoje, começou a me interessar mais, mas isso só começou lá pelo meio do livro. Seja paciente.
Talvez eu não seja a pessoa mais desinformada sobre a região, acompanho mais ou menos o que se passa, tenho amigos que moram ou moraram por lá e posso dizer que boa parte do que li no livro não me foi totalmente novo ou uma grande descoberta, mas o fato de ter tudo isso em detalhes e compilado em um só lugar é muito importante e necessário. Para pessoas que não entendem a Amazônia, o que se passa por lá ou a complexidade de lidar com a floresta o livro é muito bom, porém ele é escrito por um intelectual para outros intelectuais, ok, um livro, por si só já é coisa para intelectual nos tempos de hoje, uma pena.
Fiquei imaginando um livro menos cabeçudo e com menos divagação para pessoas comuns lerem e não morrerem de tédio. Por que se você não quiser saber mesmo sobre a Amazônia, você se distrai fácil e não engata a leitura ali. Enfim, não é um livro para pessoas comuns, e tá tudo certo.
É triste a constatação de que o Brasil nunca teve um plano decente para a região. Todas as vezes que o Estado tentou alguma ação por lá a opção sempre foi derrubar a floresta e fazer outra coisa. Me pergunto quando esse ponto de vista sobre desenvolvimento vai ser superado e vamos todos concordar que manter a floresta de pé e conseguir usufruir de suas benesses sem destruir é possível e a melhor opção. Clamo para que consigamos chegar nesse consenso logo, na verdade acho que já estamos atrasados.
O livro é uma ótima referência sobre como o Brasil tem lidado com a Amazônia ao longo do tempo. Você encontra referências históricas e muita coisa recente, o livro foi lançado em dezembro de 2022. Se fosse escrito de forma mais simples eu recomendaria para alunos do ensino médio, mas a verdade mesmo é que o brasileiro médio se interesse pouco pela floresta amazônica, é algo tão distante que parece que ela nem nos pertence ou dela dependemos aqui no Sudeste. Então só pessoas metidas a intelectual como eu vão se interessar por essas 424 páginas que pedem por um melhor tratamento para o ar condicionado do mundo que muito em breve vai começar a dar defeito.
Em tempo, para quem não sabe, assim como eu não sabia, arrabalde segundo o Aurélio significa: Cercanias de uma cidade ou povoação; subúrbio. Entende o que eu quero dizer quando esse é um livro pra intelectual?