>Camelos no Velho-Oeste

Dizem que a necessidade é a mãe da invenção. Os americanos ainda estavam reconhecendo e ocupando os territórios desérticos que haviam acabado de ganhar do México após a Guerra de 1845 quando começaram a faltar cavalos e mulas.

Para resolver o problema, Jefferson Davis, então Secretário de Guerra (e futuro Presidente Confederado),  liberou uma verba de 30.000 dólares para a importação de… camelos e dromedários! Um navio da Marinha foi enviado à África do Norte e voltou em 1856, desembarcando 33 camelos em Indianola, no Texas.

Embora tenha sido tão absurda quanto comprar madeira do exterior para fazer uma ferrovia na Amazônia, a ideia de criar o U.S. Camel Corps não foi criticada. Pelo contrário. Após uma expedição à Califórnia em cima das corcovas de um camelídeo, o Coronel Edward Beale voltou entusiasmado: “Eu já vejo os dias em que cada correio através deste continente será conduzido por este bruto nobre e econômico.”

Carroções puxados por dromedários e caubóis em cima de camelos só não apareceram por que a Guerra Civil e o desenvolvimento de ferrovias transcontinentais enterraram a ideia de Jefferson Davis. Sem serviços, os camelos acabaram abandonados nos desertos do Texas e se adaptaram — mas nem tanto, pois o último camelo americano morreu em um parque após ser capturado em 1972. 

Ironicamente, muito tempo depois da importação dos camelos, foram descobertos fósseis de 45 milhões de anos nos desertos do sudoeste dos EUA. Hoje sabemos que os camelídeos (camelos, dromedários, lhamas e alpacas) originaram-se no Oeste americano. Durante a última era do gelo, alguns camelos da América do Norte migraram para a Eurásia, via Beríngia, numa rota inversa à da percorrida pelos primeiros homens americanos. Outros camelos seguiram para o sul e tornaram-se as lhamas andinas. Os camelos americanos que não migraram foram mortos, embrora ainda não haja consenso sobre a causa: podem ter sido extintos pela mudança climática, pela ação humana ou por ambos.