>Uma bolha de otimismo

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Economia é uma coisa complicada e imprevisível. Tão complicada e imprevisível que os caras da Weekly Letter [Carta Semanal], a revista da Sociedade Econômica de Harvard, demoraram a perceber a gravidade da crise de 1929. Eis alguns excertos dos números da WL publicados durante o primeiro ano da Grande Depressão:
Uma depressão severa como a de 1920-21 está totalmente fora do alcance da probabilidade. (WL, 16 de novembro, 1929)
Ninguém mais se lembra da crise “severa” de 1920-21. Já a improvável depressão de 1929 era apenas uma recessão genérica:
Com as condições apresentadas, acreditamos que a recessão nos negócios em geral será breve e melhoras devem chegar durante os meses da primavera. (WL, 18 de janeiro, 1930)
E em plena primavera a situação era essa:
Os preços, em geral, estão agora no ponto mais baixo e logo vão melhorar. (WL, 17 de maio, 1930)
No meio do ano,  os economistas de Harvard já percebiam um certo atraso na recuperação da economia. Mesmo assim, o tom de “estamos-com-toda-a-razão” não mudou:
Dado que nossas estruturas monetárias e de crédito são não apenas profundas mas incomumente fortes, há todas as razões para a recuperação que, esperamos, não deverá se atrasar mais. (WL, 30 de agosto, 1930)
Chegou uma hora em que a negação da realidade ficava óbvia. Mas o tom da Weekly Letter passou a ser lacônico e, por isso mesmo, quase autoritário:
[A] recuperação logo será evidente. (WL, 20 de setembro, 1930)
O panorama para o fim do declínio nos negócios é para a primeira parte de 1931 e […] o renascimento, para o resto do ano. (WL, 15 de novembro, 1930)
Depois disso não houve mais previsões otimistas na Weekly Letter. Por que simplesmente não houve mais Weekly Letter. Engolida pela depressão que negava, a revista dos economistas de Harvard fechou as portas em 1931.
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