>“Uma Noite em Atlanta”

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Em pleno século XXI, há gente que ainda não leva a Ficção Científica a sério. Em 2004, a pequena editora PublishAmerica desdenhou abertamente da FC, afirmando que jamais publicaria uma obra do gênero por ser uma “editora tradicional” e de alto padrão (o site informava que eram recebidos mais 70 originais por dia, a maioria dos quais era rejeitada). 
Irritada e imbuída do mais puro espírito de trollagem, a “família sci-fi” decidiu dar uma lição na PublishAmerica. Dezenas de autores do gênero colaboraram para criar o pior romance possível apenas para testar o suposto alto padrão editorial da empresa. O resultado foi Atlanta Nights:

Ela foi até a porta, seus quadris balançavam feito palmeiras em meio a um furacão no Havaí.
Bruce estava deitado na cama, tentando recuperar sua memória. Tudo o que ele podia se lembrar era o guinchar dos pneus, como um motor a vapor descontrolado, e depois havia apenas dor. Inferno sobre rodas, isso é que era, yeses [sic].
Inferno.
Sobre rodas.


E este é apenas o fim do primeiro capítulo.
Além de trechos desse nível, Atlanta Nights tinha vários outros defeitos especiais: faltava um capítulo (o 21), dois capítulos eram literalmente idênticos (4 e 17), havia dois capítulos com a mesma numeração (12 e 12). Também havia falhas plantadas na trama: os personagens mudavam de gênero e cor — e até morriam e reapareciam — sem explicação. O capítulo 34 era totalmente aleatório, pois foi gerado por um computador com base nas frases mais frequentes dos capítulos anteriores (inclusive os repetidos). O final explicava que tudo era um sonho, mas não estava no último capítulo. Para completar, a ortografia e a gramática eram totalmente inconsistentes.
Apesar de tudo isso, a PublishAmerica mordeu a isca: o original foi aceito em Dezembro de 2004. Um mês mais tarde, os autores revelaram a farsa ao público. Somente em 24 de janeiro de 2005, um dia após a revelação, a PublishAmerica rejeitou Atlanta Nights dizendo que após uma “revisão extra” a obra não passara por seus padrões. 
Mais tarde, sob o pseudônimo “Trevis Tea”, Atlanta Nights foi publicada por uma editora digital, a Lulu. Os direitos de autor foram doados para instituições de caridade. E a história por trás do livro é tão sensacional que pode até virar filme. Vários fãs estão tentando levantar uma grana para rodar um filme dedicado ao pior livro já escrito. Eles precisam de US$ 25.000, mas só juntaram 1.000 até agora. Se você se interessar em financiar um filme…
“O mundo está cheio de livros ruins escritos por amadores”, escreveu a revisora Teresa Nielsen Hayden em uma resenha sobre o livro. “Atlanta Nights é um livro ruim escrito por profissionais.”
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