Quando os gregos antigos olhavam para o céu noturno, puderam perceber facilmente que nem tudo era fixo. Havia alguns astros estranhos, que não só se moviam, como se movimentavam erraticamente. A tais astros, os gregos deram o nome de planetas — πλανήτης [planétes] em grego, significa errante, andarilho. Com o tempo, porém, ficou claro que aqueles não eram meros andarilhos astrais. Com seus movimentos quase regulares, os planetas passaram a ser vistos como representações dos deuses — daí sua nomenclatura mitológica.
Ao longo do tempo, a disparidade da denominação de planeta foi se tornando cada vez maior. Como poderíamos continuar a chamar de “errantes” astros que, como descobrimos, nada têm de erráticos, pois são outros mundos com órbitas perfeitamente previsíveis e calculáveis? Descobrimos centenas de planetas fora do sistema solar e eles também não são nada erráticos. Mas quem disse que planetas só podem existir à sombra, ou melhor, à luz de um sol?
Com o perdão do pleonasmo histórico, planetas-andarilhos existem. E parecem ser (muito) mais comuns do que os sóis e os planetas conhecidos. Embora fossem imaginados por autores de ficção-científica desde os anos 1930, planetas livres só começaram a ser descobertos em maio do ano passado. Com base na frequência dessas primeiras descobertas, um estudo sugere que planetas órfãos podem ser 100.000 vezes mais comum do que estrelas na Via Láctea. E olhe que a nossa galáxia deve ter uns 100 bilhões de estrelas.
De um quarteirão para um continente
O estudo feito por Louis Strigari, do Kavli Institute for Particle Astrophysics and Cosmology (KIPAC), vinculado à Universidade de Stanford, estima o número de planetas sem eira nem beira com base na extrapolação da densidade da área onde foram descobertos esses tipos de planetas. No ano passado, pesquisas encontraram cerca de uma dúzia de planetas do tamanho de Jupiter vagando numa área entre 10.000 e 20.000 anos de distância do Sistema Solar. É mais ou menos como contar quantas pessoas moram num quarteirão e tentar descobrir quantas pessoas moram num continente.
Porém, ao contrário do que pode parecer, não foi um chute cego. Foi um chute científico. Além do número de planetas observado, que obviamente é escasso, outros dados foram levados em conta. Em suas estimativas, Strigari e seus colaboradores levaram em conta o empuxo [pull] gravitacional conhecido da Via Láctea, a quantidade de matéria disponível para formar tais mundos e como essa matéria estaria distribuída na formação de astros que variam de acordo com a escala da família solar — planetas do tamanho de Plutão a Júpiter.
“O que fizemos foi juntar as observações do que a galáxia é feita, que tipo de elementos ela tem bem como quanta massa poderia possivelmente haver a partir da dedução do empuxo gravitacional das estrelas que observamos.”, explicou Stigari ao Universe Today. “Nós usamos um par de limites: não pode haver mais nômades na galáxia do que matéria que observamos bem como não pode haver maior quantia dos chamados elementos pesados do que observamos na galáxia.” Qualquer elemento além do Hélio na tabela periódica é pesado para a astrofísica.
No entanto, como a formação dos planetas — dentro ou fora de sistemas — ainda não é bem compreendida, a estimativa do KIPAC pode estar enganada. Como não sabemos exatamente a que ritmo e de que forma os planetas são formados, não temos condições de fazer estimativas confiáveis. O cálculo de Stringari não deve ser visto como um número preciso, mas como um limite superior, um teto para o número de planetas possíveis — da mesma forma que uma estimativa de quanta gente cabe num continente a partir de um quarteirão é apenas um limite para o número de quarteirões que esse continente pode ter. Como o próprio Strigari reconhece, essa estimativa apenas quantifica nossa ignorância sobre o tema.
Mundos obscuros (ou seriam as menores estrelas?)
Mesmo que ainda não saibamos exatamente quantos são, não custa se perguntar: de onde vêm esses planetas-andarilhos? Embora também não saibamos exatamente como planetas se formam, tudo indica que corpos planetários — “sedentários” ou “nômades” — formam-se ou a partir do colapso de nuvens de gases interestelares ou de nebulosas planetárias, que são restos de estrelas explodidas. Para Strigari, alguns desses planetas-andarilhos teriam se formado junto com planetas comuns em sistemas solares, mas foram expulsos por perturbações gravitacionais em suas órbitas. Isso não é novidade: há evidências de que o quinto planeta do nosso Sistema Solar foi “perdido” dessa forma.
Há quem diga que só deveriam ser chamados de planetas os astros que eram planetas mas foram expulsos de seus sistemas; os que teriam se formado totalmente sozinhos seriam anões sub-marrons. Mas é um tanto estranho ter que chamar algo do tamanho de Júpiter de “anão”. Pra piorar as coisas, o limite exato que separa os maiores planetas das menores estrelas (as anãs marrons) também não é bem conhecido. Por isso, há quem defenda “planetar” [de planet + star], um termo intermediário para algo entre planeta e estrela.
Independente da nomenclatura, outra dúvida nos assalta: será que, mesmo sem um sol para chamar de seu, esses planetas nômades poderiam abrigar vida? Por incrível que pareça, sim. Esses mundos obscuros podem abrigar vida, ainda que de forma bastante limitada. Se forem grandes o bastante para ter uma atmosfera densa e/ou tiverem atividade geológica, esses planetas solitários podem ser lares de bactérias — bactérias termófilas que viveriam fazendo quimiossíntese com o calor vulcânico das profundezas do planeta.
Por fim, antes que apareçam conspiracionistas exultantes dizendo que essa descoberta apenas comprova a existência de Nibiru, é bom lembrar que não há evidências específicas para tal astro. Embora possam existir planetas que atravessam o espaço sem rumo e que podem até colidir com um planeta dento de um sistema, eles não surgiriam da noite para o dia. Se Nibiru existisse e estivesse a caminho da Terra, nós já o teríamos observado há muitos anos.
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