Patentes Patéticas (nº. 48)

laser felino

Você já tentou trollar seu gato com um laser? Se já fez isso com a intenção de exercitar seu bichano, você pode ter quebrado pelo menos uma patente norte-americana registrada em 1993 para um “Método de exercitar um gato” que serve para

induzir gatos a se exercitar consistindo no direcionamento de um feixe de luz invisível, produzido por um aparelho laser portátil, sobre o solo ou parede ou outra superfície opaca nas vizinhanças do gato, seguido da movimentação do laser de modo a causar o movimento do padrão luminoso brilhante de uma maneira irregular que é fascinante para gatos e para qualquer outro animal com um instinto de caça.

Ou seja, se você já tentou fazer a trollagem a laser com o seu cão, também está violando a patente nº. 5.443.036, emitida em 22 de agosto de 1995 em nome de Kevin T. Amiss e Martin H. Abbott, respectivamente de Alexandria e Fairfax, Virgínia. Entre suas justificativas, os “geniais” inventores afirmam que

Gatos não são caracteristicamente dispostos ao exercício aeróbico voluntário. É um dever do proprietário do gato criar situações de suficiente interesse para o felino para a indução de mesmo uma breve e modesta exercitação pela saúde de bem-estar do animal. Gatos são, entretanto, fascinados pela luz e atraídos por movimentos saltitantes imprevisíveis, como, por exemplo, pela ponta de uma peça ou fio de barbante ou por uma bola rolando e quicando através do solo.

Sim, foram necessários dois norte-americanos para perceber isso. Mas em seguida vem o pulo-do-gato que nos deu a luminosa ideia de juntar laser e Felis domesticus:

Intensa luz solar, refletida por um espelho ou focada através de um prisma, se a sala for suficientemente escura, ira, quando movida irregularmente, causar até o mais sedentário dos gatos a perseguir desabaladamente a imagem iluminada em um divertido e terapêutico jogo de “gato e rato”. O inconveniente de ter que escurecer uma sala para preparar a atividade de um gato e a incerteza de coletar um raio de sol conveniente em uma lente ou espelho torna esse método de estabelecer uma regular rotina de exercícios que melhoram a vida dos gatos no mínimo inconveniente.

Ok, amiraleiser é mais prática que lentes ou espelhos em ambientes escuros. Só que até os bichanos seriam capazes de ver que esse método a laser não é exatamente orginal. Praticamente a mesma ideia já havia sido apresentada em 1982 no livro One Hundred and Eighty-Seven Ways to Amuse a Bored Cat [187 Maneiras de Divertir um Gato Entediado], publicado pela Ballantine Books. A única diferença é que, em vez de laser, o livro recomendava o uso de uma lanterna.

Mesmo a ideia apresentada no livro pode não ser a original. Quando o método Amiss-Abbott foi aprovado, o conceito básico já era recorrente há décadas nos arquivos do próprio U.S. Patent Office. De fato, os dois inventores virginianos (seriam virgens?) listam entre suas referências nove — NOVE! — patentes relativas a lasers e/ou brinquedos luminosos emitidas entre 1975 e 1993. A aplicação de lasers ao entretenimento de felinos por seres humanos entediados simplesmente não cumpre o critério de originalidade. Nada disso impediu que, entre 2002 e 2003, o próprio USPTO fosse idiota o bastante para aprovar outras quatro patentes (6.505.576, 6.557.495, 6.651.591, 6.701.872) que são basicamente a mesma coisa!

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