O caso Kotzwara

Há pessoas que, mesmo com alguma fama, só entram para a História quando saem da vida. Ou pela forma como saem da vida. Frantisek Kotzwara, por exemplo. Nascido em 1730 em Praga, na então Boêmia, Kotzwara (Kočvara em checo) foi um compositor e virtuoso baixista que viajou por toda a Europa com diversas orquestras antes de se estabelecer na Inglaterra em 1775. Suas obras incluem canções, serenatas, trios e quartetos para cordas e umas duas dezenas de sonatas. Sua composição mais popular foi The Battle of Prague, sonata baseada na batalha travada por prussianos e Habsburgos em sua terra natal em 1757.

Ironicamente, Kotzwara ainda é mais lembrado pela sua causa mortis bizarra do que por seus acordes. Em 2 de fevereiro de 1791, o compositor boêmio (literalmente) acordou meio masoquista e foi procurar alguma diversão do tipo na Vine Street, em Londres. Lá ele encontrou-se com uma meretriz chamada Susannah Hill e convidou-a para um lauto jantar. Após os comes-e-bebes, ele perguntou — assim como quem não quer nada — se ela simplesmente não poderia castrá-lo. Hill negou-se, é claro, pois há propostas indecentes que ofendem até uma dama da noite. Mas Kotzwara insistiu (ou pagou) tanto que eles conseguiram chegar a um acordo — brincar de asfixia erótica!

Frantisek Kotzwara

Pois bem, lá se foram eles. Com uma corda, Hill amarrou o pescoço do compositor à maçaneta de uma porta. Os dois logo começaram a cópula, mas não se divertiram muito. Kotzwara não demorou a morrer sufocado. Pra piorar, a cena foi descoberta e Susannah Hill acabou no tribunal acusada de assassinato. Ela seria absolvida (afinal o ato foi consensual e ideia do próprio músico), mas o caso entraria para a História.

O caso Kotzwara é um dos primeiros registros conhecidos de morte por asfixia erótica e continua sendo citado e estudado por psiquiatras até hoje. Seis anos depois do crime, com base nos depoimentos da meretriz, foi lançado um opúsculo chamado Modern Propensities; or an Essay on the Art of Strangling [Modernas Propensões: ou um Ensaio sobre a Arte do Estrangulamento]. O objetivo da obra era discutir “atos da mais grosseira indecência”.

O que o músico boêmio estava tentando fazer? Ele buscava algo entre um orgasmo turbinado e alucinações, ambas consequências da desoxigenação do cérebro (não façam isso em casa!). Apesar dos riscos óbvios (sério, não façam isso!), a asfixia já havia sido receitada como cura para disfunções eréteis por médicos do início do século XVII — felizmente hoje existe Viagra. A ideia teria uma origem não menos macabra: os médicos observaram que as vítimas de execução pela forca desenvolviam ereções e concluíram que a causa só podia ser o sufocamento. Só mais tarde soube-se que isso deve-se mais a lesões na medula espinhal.

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