Em 1474, os magistrados de Bâle sentenciaram um galo a ser queimado na estaca “pelo odioso e antinatural crime de botar um ovo.” O auto-da-fé teve lugar em uma colina perto de uma cidade chamada Kohlenberg, onde uma imensa multidão de aldeões e camponeses obsavava, com grande solenidade, a consignação do herege às chamas. A afirmativa feita por Gross em seu “Kurze Basler Chronik”, de que o executor ainda encontrou três ovos no interior do galo ao abri-lo é evidentemente absurda. O que há nesse caso é menos uma abominação natural e mais a abominação de uma imaginação tomada pela superstição. Outros casos desse tipo também foram registrados, sendo o mais recente em Pättigau, na Suíça em 1730. Entretanto, a maioria dos casos de execução de malfeitores galináceos era muito mais sumária e menos cerimoniosa do a de Bâle. — Edward Payson Evans, The Criminal Prosecution and Capital Punishment of Animals [O Processo Criminal e a Punição Capital de Animais], 1906
Em seguida, Mr. Evans relata o caso de um velho galo de 1710 que também teria botado um ovo. Em meio ao clima de iluminismo nascente, o “savant francês Lapeyronie considerou essa noção absurda digna de uma refutação séria”, apresentada em um paper na Academia de Ciências, a fim de “provar que os pequenos ovos sem gema atribuídos a eles [os galos] devem sua forma e condição peculiar a uma doença da galinha que resulta na má-formação do oviduto.” Além disso, M. Lapeyrone apresentou a hipótese de que o galo, naquele caso em particular, seria hermafrodita, “mas ao matá-lo e dissecá-lo, nada encontrou para suportar sua teoria, sendo que os órgãos internos estavam todos perfeitamente saudáveis e normais.”
Misteriosamente, mesmo depois de morto em nome da ciência, os ovos desse galo continuaram a aparecer, “até que o fazendeiro, observando cuidadosamente suas aves, percebeu que a galinha os punha. A dissecação [dela] mostrou que a pressão de uma bolsa de cera contra o oviduto o contraíra tanto que, ao passar, o ovo perdia sua gema, deixado apenas uma pequena parte amarelada que se parecia com um verme.” (Mémories da l’Académie de Sciences, Paris, 1710, pp. 553-60)
rafinha.bianchin
kkkkkkkk
se o galo botou ovo, a culpa é de qualquer um, menos do galo, não é? foi queimado o coitado... hoje em dia teria virado uma celebridade meme. o que é preferível (não para o galo, e sim para a sociedade)?
Zr
Vi certa vez um documetário que mostrava um chimpanzé que foi confundido com um francês e executado na inglaterra, naquela época em que os países viviam guerreando. Depois de ler o post, tentei encontrar alguma referência ao fato no google e não achei nada. Por acaso conhece essa história?
Renato Pincelli
Nunca ouvi falar dessa história, Zr. Tem certeza que era um documentário sério? Isso me parece mais uma lenda urbana moderna.
rafinha.bianchin
comparar frances com chimpanzé... não que sejam muito diferentes, por certos parâmetros, mas isso é coisa de inglês, sem dúvida.
Igor Santos
Comparação de franceses com macacos me lembra a clássica frase do Groundskeeper Willie, d'Os Simpsons: "Bonjourrrrr, ya cheese-eating surrender monkeys".