Muito antes de bicicletas voltarem à moda por aqui e serem esmagadas por ônibus, já havia um conflito entre as magrelas e os busões. Geralmente, as ciclovias não são muito longas, nem interligadas. Para ir de um lugar a outro com uma bicleta, seria bom poder contar com os coletivos. O problema é que entrar num ônibus com uma bike é praticamente impossível. Numa tentativa de harmonizar o trânsito, J. Berchman Richard Jr. propôs um Bicycle Carriers for Buses and the Like [Suporte de Bicicletas para Ônibus e Similares], que inclui
um dispositivo de travamento para cada bicileta de modo a permitir o carregamento e a remoção de bicicletas pelos passageiros sem exigir a atenção do motorista do coletivo. Os suportes de bicicleta são dotados com um mecanismo de desprendimento rápido para facilitar a fixação e remoção do ônibus, em vez de variações de ônibus para ônibus, e pode incluir rodinhas retráteis de modo a permitir facilidade de movimento caso o suporte seja retirado do ônibus. Cada suporte é disposto e configurado de modo a guiar rapidamente a bicicleta em sua posição apropriada de transporte e exigir o mínimo de tempo e de agilidade física para carga e descarga. Um par adicional de lanternas traseiras é fornecido junto à estrutura do suporte para evitar efeitos de qualquer obscurecimento parcial das lanternas do veículo.
A ideia de Mr. Richard Jr. (um californiano de Woodland Hills) parece mesmo interessante. Ainda mais considerando-se que ela data do fim dos anos 1970 — foi registrada em patente de nº. 4.171.077 [pdf], emitida em 16 de outubro de 1979. Em si, a ideia não chega a ser original: é apenas uma extrapolação e adaptação dos suportes usados em veículos menores.
Mas será mesmo uma invenção necessária? A justificativa é simples e clara:
Nos últimos anos tem ocorrido uma grande ressurgência do ciclismo nos Estados Unidos, particularmente entre a população adulta, tanto como forma de recreação quanto como exercício. Em resposta a esse e outros interesses relacionados com ecologia, faixas ou vias ciclísticas tem sido separadas ou mesmo inteiramente construídas para tal atividade. Consequentemente, há uma frequente necessidade de transportar bicicletas em veículos de vários tipos.
Em seguida, numa patente bastante minuciosa — com uma dúzia de ilustrações —, Richard relata e discute uma dezena de ideias similares já patenteadas. A maioria, porém, tem lá seus defeitos: um dos sistemas exige a desmontagem parcial da bicicleta, o que é inconveniente; outro as leva no teto do veículo, o que exige uma parada bem longa e a colaboração do motorista para retirá-las. A proposta mais antiga data de 1897 e aplica-se a bondes. O problema é que esse sistema simplesmente reboca apenas uma (e somente uma) bicicleta presa pela roda dianteira.
Um sistema mais simples e original, de fácil uso e que realmente é necessário – mas que não pegou. Onde foi que Richard errou? Foi exatamente no sistema de travamento proposto para facilitar a colocação e retirada das bikes: “um dispositivo de travamento para cada bicicleta, operado por moedas, de modo a permitir o carregamento e remoção das bicicletas pelos passageiros sem necessitar da atenção do motorista do ônibus.” À primeira vista, o uso de travas do tipo até parece aceitável. Só que para usá-lo é necessário pagar duas vezes: uma moeda para fechar a trava e prender a bicicleta e outra para abri-la e retirá-la. E não, isso não significa um desconto na tarifa do ônibus. Você ainda teria que pagar a sua passagem integralmente.
O inventor até admite o uso de outros sistemas, mas parece ter tanta vontade de ficar rico tão convecido pela simplicidade da inserção de moedas que dá pouca atenção a eles. Richard parece ignorar o fato de que o usuário típico de bicicletas não quer gastar muito — esse é, afinal, o motivo da “grande ressurgência do ciclismo” após a crise do petróleo de 1973. Há motivações ecológicas também, mas todo mundo sabe que as ideias ecologicamente corretas só pegam quando têm um custo igual ou menor que as alternativas tradicionais.
OBS: Ao contrário do que pode parecer, essa patente não foi escolhida a dedo para o dia sem carro! Eu juro que a encontrei por acaso!