Quando eu era um menino, me diverti certo dia ao lançar uma pipa de papel. Ao me aproximar do barranco de uma lagoa, que tinha mais ou menos uma milha de largura, amarrei a linha em uma estaca e a pipa subiu a uma considerável altitude acima da lagoa enquanto eu nadava. Em pouco tempo, desejei me divertir com a minha pipa e, ao mesmo tempo, me deleitar com o prazer da natação. Assim, saí, soltei um pouco a linha da pequena estaca à qual estava amarrada, e voltei novamente para a água. Lá eu percebi que, apoiado em minhas costas e segurando a estaca em minhas mãos, eu era puxado através da superfície da lagoa de maneira bastante agradável. Depois, chamei outro menino e pedi-lhe que levasse minhas roupas ao redor da lagoa, para um lugar que lhe apontei e que ficava do outro lado; e comecei a cruzar a lagoa com minha pipa, que me carregava e me deixava muito bem, sem a menor fadiga e com o maior prazer imaginável. Ocasionalmente, eu apenas tinha que parar um pouco no meu percurso e resistir contra seu progresso, quando me parecia que estava indo demasiado rápido. Então eu recolhia a pipa, às vezes demais, o que depois me fazia soltá-la de novo.
Desde então, nunca mais pratiquei esse singular modo de nadar. Eu considero que não deve ser impossível cruzar, dessa maneira, [o Canal da Mancha,] de Dover a Calais. O paquete, entretanto, ainda é preferível. — Benjamin Franklin, em carta a Jacques Barbeu-Duborg, datada de 1773.
Nessa brincadeira deve ter nascido o cientista Benjamin Franklin (1706-1790), que dispensa apresentações. Mas quem foi Jacques Barbeu-Dubourg? Botânico, médico, escritor e tradutor, Barbeu-Dubourg (1709-1779) foi o principal divulgador das descobertas de Benjamin Franklin na França e, por extensão, na Europa continental.