Ernest Hemingway é considerado um exemplo de concisão estilística na literatura americana. Mas e se Hemingway fosse ainda mais conciso? Em 2009, o poeta experimental Robert Fitterman extraiu apenas as frases que começam com a primeira pessoa do singular — eu — de O Sol também se levanta e juntou todas num texto só. O resultado é de uma concisão enfadonha, típica de uma entrada qualquer de um diário comum:
Eu subi para o apartamento. Eu pus a correspondência na mesa. Eu ouvi o toque da campainha. Eu coloquei um robe e umas pantufas. Eu enchi a grande jarra de cerâmica com água. Eu me vesti lentamente. Eu me sentia cansado e bastante podre. Eu tomei da garrafa de brandy. Eu fui à porta. Eu encontrei alguns cinzeiros e os espalhei por aí. Eu olhei para o conde. Eu tive a sensação de passar por algo que já havia acontecido antes. Eu tive a sensação de um pesadelo sendo todo repetido, coisa pela qual já havia passado e pela qual devo passar de novo agora. Eu peguei uma nota em meu bolso. Eu olhei para trás e havia três moças na mesa dele. Eu lhe dei vinte francos e ele tocou seu chapéu. Eu subi as escadas e fui pra cama.
“As pessoas sempre acham que a razão pela qual é fácil ler ele”, disse Tom Wolfe numa crítica sobre Hemingway, “é que ele é conciso. Não é. A razão pela qual Hemingway é fácil de ser lido é que ele se repete o tempo todo, usando ‘e’ como muleta.”