Patentes Patéticas (nº. 129)

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Está cansado de ter essas linhas de expressão sempre cansadas? Precisa levantar um pouco esses olhos? Todo mundo lhe diz que seu nariz precisa ser torneado? Não se desespere! Você não precisa entrar na faca para que sua cara entre em forma. Muito antes da moda de exercícios faciais, Johnathan G. Crawford já apresentava uma solução revolucionária: a Facial Muscles Exercise Mask [Máscara de Exercício dos Músculos Faciais]:

Uma máscara de exercício facial que inclui uma peça externamente convexa feita de plástico leve e resistente ou acrílico. Uma porção central da face tem buracos para os olhos, nariz e boca do usuário. Um revestimento inflável para a superfície interna da máscara nas porções da testa, têmpora, bochecha, queixo e porções centrais, com buracos correspondentes aos olhos, nariz e boca é apresentado. O ar é bombeado entre o revestimento e a superfície interna da peça da máscara para inflar o revestimento que proporciona forças resistivas para que os músculos faciais lutem contra. A máscara inteira pode ser mantida no lugar por dois conjuntos de alças para a cabeça, ajustáveis, ou por uma única alça larga e ajustável.

“Se coisa parecida funciona para os músculos do abdômen”, deve ter pensado Crowford, “porque não fazer um Face-Toner?” O problema é que Crawford só conseguiu inventar algo ainda mais patético que aquela maquininha de músculos que, em todo infomercial que se preze, só aparece em gente já musculosa.

Não é magia, mas também não tem tecnologia. Em vez de usar um motorzinho elétrico para criar vibrações supostamente estimulantes, Crawford apostou no uso de uma bombinha manual, daquelas que se usa em aparelhos de pressão mesmo (cujo nome, pra quem não sabe, é esfigmanômetro). Além dos resultados pouco animadores, a operação é trabalhosa e desconfortável demais. Isso fica bem claro nas instruções, que tomam um longo parágrafo da patente nº. 4.666.148 [pdf], aprovada em 19 de maio de 1987:

Para usar a máscara para exercitar os músculos faciais, o usuário pode escolher selecionar a duração do exercício e a pressão a ser usada e entrar essas informações no Timing/Calorie-Estimating Device [Dispositivo Estimativo de Calorias-Tempo], antes ou depois de colocar a máscara [como o troço fica na máscara, deve ser difícil programá-la sozinho depois de colocá-la]. O mesmo é válido quanto à inflação do revestimento. Quando o revestimento é inflado, se conformará aos contornos da face do usuário. É melhor segurar bem a máscara à face usando as alças superiores e inferiores e depois usar a bomba manual para inflar o revestimento [e ainda exercitar as mãos, é claro!]. A pressão do ar desejada pode ser lida no Psi metro e a bomba manual segurada do lado da máscara [quão confortável!]. O usuário pode, então, efetuar os exercícios faciais usando o revestimento inflado como força resistiva contra a qual trabalhar. As ranhuras horizontais no revestimento vão se ajustar nas ranhuras similares formadas quando na testa do usuário quando as sobrancelhas são elevadas. Isso vai ajudar na efetividade do exercício dos músculos envolvidos. O Timing/Calorie-Estimating Device é simplesmente um dispositivo em forma de relógio que apresenta em sua face [e na do usuário, onde fica a máscara com o mostrador] o tempo decorrido, o número de calorias estimado, e botões numerados para a entrada de informações. Internamente, há um chip de computador pré-programado que é o cérebro do dispositivo e um bip/alarme para alertar o usuário do fim do tempo selecionado. O usuário entra a informação psi [i.e., a pressão e não algum tipo de energia psicológica esotérica] e inicia o timer. O chip programado irá apresentar a quantia variável de calorias estimadas enquanto o tempo passa, usando o tempo da porção relógio do Time/Calorie-Estimating Device e o programa e as fórmulas em sua memória. O exercício pode ser interrompido a qualquer momento e o usuário terá uma apresentação do número estimado de calorias perdidas até aquele ponto. À medida que aumenta a tonicidade muscular e a força, a pressão do ar pode ser aumentada para aperfeiçoamentos contínuos [i.e., uma cara cada vez mais amassada]. Adicionalmente, a máscara e o revestimento exercerão um efeito massageador que aumentarão a circulação sanguínea e aumentará a oxigenação das áreas envolvidas.

Para quem achou o parágrafo anterior longo demais para ser lido, um resumo: você amarra a máscara de plástico inflável na cabeça, aperta uns botõezinhos minúsculos para ajuste do lado esquerdo da máscara e aplica o máximo de pressão possível numa bombinha manual pendurada no lado direito da máscara. Preferencialmente, você deve se exercitar diante de um espelho, para conseguir ler suas calorias perdidas (inutilmente) e o máximo de pressão aplicada (ou que você mesmo consegue criar). Obviamente, você não vai conseguir ler nada quando for exercitar as pálpebras (“fechadas tão intensamente quanto possível e depois relaxadas”). Portanto, mesmo sem exercitar as pálpebras, não dá pra assistir TV enquanto você exercita a cara com a máscara de Crawford.

Pra quem ainda achou muito longo o parágrafo anterior: Talvez você até consiga uma massagem leve na cara mas dificilmente vai tonificar ou rejuvenescer sua expressão. Seja otimista: sua cara pode até ficar mais amassada do que já é, mas sua mão direita deve ficar cada vez mais forte!

Se manter esse otimismo parece difícil aos olhos do leitor, imagine para o inventor. Talvez depois de passar anos se exercitando pateticamente diante do espelho de sua casa em Riverside, Califórnia, o próprio Crawford deve ter percebido quão patética foi sua invenção. Ou talvez ele tenha desistido depois de ver que era mais fácil convencer o US Patent Office a lhe dar uma patente do que vender a ideia para a Polishop ou qualquer canal de televendas. Qualquer que seja o motivo, por volta de 1991 Crawford deixou de pagar as tarifas de manutenção da patente e ela expirou — o que significa que hoje qualquer um pode tentar montar sua máscara facial inflável manualmente sem pagar royalties.

Não que seja uma boa ideia, é claro.

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