Uma retrospectiva como esta

Não importa o ano, essa é a época das reprises, retrospectivas, análises e um monte de bla-bla-blá que tentam entreter o tempo de muita gente que finalmente tem tempo de sobra. Pode ser um saco, mas não quando se tem um saco com tantas dimensões quanto o hypercubic.

Eu poderia falar de números posts ou índices de audiência, mas isso francamente não importa. Dois-mil-e-treze foi um ano de surpresas para este que vos escreve. Eu planejava um TCC bastante banal, uma monografia a mais — mas fui surpreendido novamente e entrei numa jornada inesperada.

Bem antes disso, há exatos 365 dias, nós abrimos os trabalhos de 2013 condicionando células. Nos dias seguintes, deparamos com o demônio de Belphegor, ajeitamos nossos bigodes e descobrimos que até neurônios precisam de GPS. Acabamos indo para uma balada bem barulhenta, que terminou com uma palestra de Entomologia aplicada à literatura, não muito longe daquele lugar onde o sol não chega. Lewis Carroll nos deu uma poça sem fundo, Psy foi plotado e ruínas foram plantadas.

Fevereiro foi bastante enigmático, pois começou com um jogo de bolinhas de gude que nos quebrou a cabeça, uma centrífuga obstetrícia e o valor por extenso de 2²²². Bisbilhotamos os rascunhos de Leonardo da Vinci, organizamos um encontro entre Heisenberg, Einstein e Doctor Who e inventamos a “Revista de Megapodologia” para conseguir publicar um estudo sobre o Pé-Grande.

O mês de Marte é memorável por seus esquecimentos: um empréstimo bibliotecário hereditário, o lado negro de Tesla, uma longa poesia borboleteante, planetas que esqueceram de morrer e a centésima patente patética (que eu esqueci que já tinha publicado). Não podemos nos esquecer daquela dupla de dois que resolveu duplas de três, um problema há muito esquecido. Infelizmente nos esquecemos dos conflitos esquecidos no mês do deus da guerra.

Abril abriu com um salve-se-quem-puder, acrasia e Miss Piggy. De certa forma (e talvez para compensar os esquecimentos de março) foi um mês de lembranças: Franklin lembrou-se de sua primeira vez com uma pipa, nos lembramos do Dr. Beddoes, um médico cheio de gás e das desventuras do teorema de Pick (um post que me deu muita alegria quando soube, por um comentário, que estava sendo usado em salas de aula da UFMG). Além disso, lemos os antigos letreiros de Londres e discutimos Patentes Genéticas (algo pior que muitas patentes patéticas).

Maio foi mais diversificado: fomos de galãs de rapina a um paradoxo cheiroso, passando pelo berço da agricultura moderna, o Sol habitado, o menor artigo científico do mundo e até arrependimentos pagos. Se parece pouco é porque meu TCC começava a me preocupar…

Junho foi um mês de surpresas pra todo mundo. Mas a maior surpresa para mim não foi o #VempraRua. Eu sempre vou me lembrar do 12 de junho como o dia em que embarquei numa jornada inesperada, com um orientador que deixou um projeto pronto de TCC de lado para transformar as Patentes Patéticas em livro. Porém, por mais que eu estivesse excitado, ainda não podia contar sobre o projeto. Assim, esse também foi um mês mais cabeça: discutimos os trilhões de graus da Guerra Fria, o mar de manifestantes vs. a terra de políticos e vimos que os problemas de transporte no Brasil são seculares e até tentamos preencher a maior cruzadinha do mundo, só que ela estava em ucraniano. E enquanto milhões gritavam #semviolência, nós acompanhávamos os vandalismos de uma guerra óptica e aprendíamos a nos defender com um bloquinho de papel devidamente patenteado. Num mês tão estimulante, não podíamos deixar de exaltar as virtudes da bebida de café ou oferecer um aparelho portátil para fumar cigarro.

Sapo na cerveja e andorinhas tostadas. Pout-pourri cosmoteológico. Trompete flamejante. Eixos, engrenagens e motores pensantes. Poesia Cthulhu. Piquenique com formigas. O sétimo mês do ano foi um típico carnaval fora de época e hypercúbico. Ainda merecem destaque um conto traduzido de H.G. Wells e a história de John Broughton, pioneiro do boxe.

Em agosto vimos que algumas coisas são mais antigas do que parecem: já havia anúncios do tipo Spotted no século XVIII, gadgets avançados (porém polêmicos) já eram adotados pelas escolas de 1929 e até carros se estacionavam sozinhos. Ou não, como diria William Lilly, o homem que profetizou o Grande Incêndio de Londres sem querer querendo. Melhor esfriar a cabeça e relaxar numa banheira-aquário com um tapinha nas costas e uma dose de água tônica.

Em setembro, Popé se revoltou mas é de se perguntar se foi em legítima defesa. Não menos revoltado estava Samuel Scheidt, que se perguntava onde essa tolice musical vai parar. Vimos que abrir um alçapão é a solução para o problema de terroristas em aviões, o que nos deixou sem chão ao ouvir histórias de mundos sem fundos e sem fôlego em meio a céus carbonizados. Acabamos caindo sobre uma trama enrediça, que envolvia o sr. e sra. Zavin, que processaram-se mutuamente, e um exorcista exorcizado, que esqueceu de ressuscitar.

O mês 10 foi nota 10 em História, Geografia e Artes pois aprendemos que é possível usar o Paint para pintar mapas animados pixel a pixel. Em Culinária Nuclear finalmente quebramos os ovos para fazer uma omelete de hidrogênio. Em nossas excursões visitamos os domínios pontifícios, a Pudding Lane do século XVII e a tumba da moça enterrada duas vezes — mas quem mais viajou foi o Google, ao patentear o s2 e eu, ao finalmente descrever minha jornada inesperada.

Novembro foi um mês meio químico: condensamos Hemingway, inventamos bolas de golfe absorvedoras de carbono, refinamos o éter orgânico que permeia todos os seres vivos, nos precipitamos sobre o Mistério de Bermagui (que permanece insolúvel), destilamos o alfabeto de Carroll e encontramos árvores que sintetizam patos.

O último mês do ano foi o último em produtividade. Mas isso pode ser justificado porque não encontramos nossos tênis pneumáticos e nos perdemos em um anúncio obscuro, o que nos levou a dar muito tardiamente mais notícias de uma jornada inesperada.

Sobre 2014 eu só posso prever que vai começar com uma retrospectiva como esta, com previsões para 2013 e o lançamento das Patentes Patéticas em livro.

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