Inseminação artificial à moda antiga

Ao contrário do que se pode imaginar, a técnica de inseminação artificial é bem mais antiga do que parece. Os primeiros casos de fertilização por meios mecânicos remontam ao fim do século XIX, mas não é improvável que alguma forma de reprodução assistida tenha aparecido anteriormente. Em Anomalies and curiosities of medicine [Anomalias e curiosidades da medicina], Pyle e Gould relatam alguns casos que antecederam em muito o nascimento de Louise Brown, em 1978:

Um criador de cães, por meio de uma seringa aplicada ao útero de uma cadela, teve sucesso em emprenhá-la. Aos que desejam informação completa sobre esse assunto, quanto ao modus operandi, etc, devem procurar Girault; este autor relata, na íntegra, diversos exemplos [de inseminação artificial]. Um caso era o de uma mulher de 25 anos e afetada pela blenorreia; desgostada pela ausência de filhos, ela fez repetidas injeções forçadas de sêmen dissolvido em água durante dois meses e acabou engravidando a si mesma, dando à luz uma criança viva. Outro caso era o de uma moça de 23 anos, portadora de um canal vaginal extra-longo, provável causa da falta de gravidez. Após fazer injeções de sêmen, ela finalmente engravidou. Girault ainda reporta o caso de um músico distinto que, por causa da hipospadia, nunca fertilizou sua esposa e recorreu às injeções de sêmen, com bons resultados. […] Percy cita o exemplo de um gentleman que havia conhecido há algum tempo, o qual tinha uma uretra que terminava pouco abaixo do frenum, como em outras pessoas, mas cuja glande era inchada bem em frente dela, tornado impossível a micção no sentido frontal. Apesar do fato de que este homem não podia exercer a função ejaculatória, ele foi pai de três crianças, duas das quais herdaram sua má-formação na genitália. [pp. 86-7]

Em seguida, a mesma fonte descreve uma técnica de inseminação artificial usada na época:

O marido, estando em perfeitas condições de saúde, é orientado a coabitar com sua esposa, usando um condom. O sêmen ejaculado é sugado por uma seringa intrauterina que tenha sido apropriadamente desinfetada e aquecida. O os uteri é exposto e esfregado com um pouco de algodão embebido em um fluido antisséptico; este algodão é introduzido no colo do útero e algumas gotas do fluido [seminal] são lentamente despejadas no útero. Em seguida a mulher é mantida deitada na cama, sobre suas costas. Esta operação é melhor executada imediatamente antes ou imediatamente após a época menstrual e se a primeira tentativa não tiver sucesso, a operação deve ser repetida durante alguns meses. [p. 87]

Referência

GOULD, George M. & PYLE, Walter L. Anomalies and curiosities of medicine [Anomalias e curiosidades da medicina]. Philadelphia: W. B. Saunders, 1898.

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