A abelha do campo e a abelha da cidade

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Um pouco de pólen aqui, um pouco acolá e a abelha vai zunindo pelo ar de flor em flor. Qual será o ambiente ideal para essa cena: uma área agrícola ou uma zona urbana? Cientistas da Alemanha chegaram à surpreendente conclusão de que as abelhas polinizam melhor na cidade.

Para entender a relação entre o uso de terra por humanos e a polinização de plantas pelas abelhas, os pesquisadores da Martin Luther University (MLU) colocaram algumas plantas em nove pontos situados dentro e nos arredores de Halle, na Alemanha. Especialmente criadas numa estufa em Bad Lauchstädt, essas plantas não tiveram nenhum contato prévio com abelhas ou outros polinizadores. Durante o florescimento, os pesquisadores anotaram quais insetos visitaram essas plantas e sua frequência. Nos pontos de polinização, também foram capturadas amostras de abelhas, que foram examinadas.

Em artigo publicado em 22/06 na Proceedings of the Royal Society B, os biólogos relatam os resultados dessas observações e exames. A investigação revelou que as plantas são mais polinizadas por insetos — principalmente abelhas-mamangabas ou zangões (Bombus spp.) — na cidade do que no campo. Os exames nos insetos urbanos revelaram que eles são mais parasitados (no caso, pelos tripanossomatídeos da espécie Crithidia bombi).

Portanto, mesmo que tenham mais parasitas, os insetos da cidade polinizam melhor. Se isso parece estranho, é bom lembrar que “parasitas são um elemento normal de ecossistemas naturais. Nesse aspecto, não há nada de ruim nessas observações”, explica Panagiotis Theodorou, autor principal do estudo e pós-doutorando em biologia na MLU, em comunicado divulgado pelo Phys.org.

Segundo Robert Paxton, professor de biologia na MLU, uma explicação para o bom desempenho dos polinizadores em ambiente urbano está na maior diversidade encontrada nas cidades. Em meio às avenidas e ruas, nas casas e apartamentos, as pessoas cultivam flores dos mais diversos tipos, o que atrai mais abelhas para a zona urbana, mesmo com o alto risco de parasitismo. Do ponto de vista das abelhas, as áreas agrícolas são monótonas, com apenas uma ou duas espécies que são polinizadas num curto período de tempo. A cidade, por outro lado, torna-se uma espécie de banquete servido o ano inteiro.

A fábula da abelha do campo e da abelha da cidade está longe de ter uma moral. Considerando os frequentes colapsos de colônias de abelhas nos últimos anos é de se perguntar se a relativa pobreza do ambiente agrícola — com áreas cada vez mais extensas de monocultura — não seria um fator a ser levado em conta. Será que os apicultores não alcançariam uma produtividade maior se se mudassem para a cidade? Theodorou e seus colegas esperam responder essas perguntas num próximo estudo, no qual pretendem comparar o comportamento urbano e rural de outras espécies de abelhas, inclusive a melífera.

Referência
rb2_large_gray25Theodorou, P. et. al. Pollination services enhanced with urbanization despite increasing pollinator parasitism [Serviços de polinização ampliados com a urbanização, apesar do crescimento de parasitismo no polinizador]. Proceedings of the Royal Society B DOI: 10.1098/rspb.2016.0561

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