Planeta 9: um mundo sequestrado

Planet9
Concepção artística do Planeta 9 como um gigante netuniano.

Os confins do sistema solar são um lugar misterioso, frio e obscuro — algo perfeito para o cativeiro de um sequestrador. O criminoso, no caso, seria o Sol e o sequestrado seria um mundo conhecido apenas recentemente e por enquanto chamado Planeta 9.

Quando começou a se formar, há uns 4,5 bilhões de anos, o Sol vivia num aglomerado estelar compacto. Em termos astronômicos, era tipo um condomínio fechado. É possível que, nesse ambiente, o Sol tenha sido uma espécie de delinquente juvenil.

Esse cenário é resultado de simulações computacionais conduzidas por astrônomos das Universidades de Lund (Suécia) e Bordeux (França). Alexander Mustill (de Lund), Sean N. Raymond e Melvyn B. Davies (de Bordeux) sugerem que o Planeta 9 foi sequestrado de sua estrela-mãe pelo nosso jovem Sol.

Esse planeta, que ainda não foi observado nem localizado com precisão, seria o mais distante mundo do nosso sistema solar e estaria situado a cerca de 700 unidades astronômicas, nos cafundós da Nuvem de Oort. Veja a animação a seguir para ter uma noção da órbita do Planeta 9:

Planet_Nine_animation

Mas como ele acabou capturado pelo Sol? Provavelmente, o sequestro foi acidental, resultado de um encontrão interestelar: o Sol e uma outra estrela (ainda não-identificada) se aproximaram tanto que o Planeta 9 mudou de casa. A hipótese é que o Planeta 9 tenha se formado numa órbita bem distante de sua estrela-mãe. Além de mais distante do Planeta 9 no momento da aproximação furtiva, é possível que essa irmã do Sol também fosse menor e, portanto, tivesse menor poder de atração gravitacional sobre o planeta.

Graças à sua obscuridade e distância, as fronteiras do sistema solar também são um lugar onde se desafia o senso comum. Dez anos atrás, a descoberta de objetos maiores que Plutão naquela região levou a uma redefinição do termo planeta. Se confirmada a origem extrassolar do Planeta 9, ele seria um exoplaneta dentro do nosso sistema solar — uma contradição em termos.

Como explica Mustill no vídeo a seguir (em inglês), essa contradição poderia ser uma vantagem. Se estiver lá e tiver mesmo vindo de outro sistema solar, o Planeta 9 seria o único exoplaneta para o qual poderíamos mandar uma sonda. Se os cálculos de sua localização se confirmarem, a viagem da sonda até lá levaria uns 20 anos.

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=gVSEK9yvr3s” autohide=”1″ fs=”1″ nocookie=”1″]

“É quase irônico que, enquanto os astrônomos encontrem frequentemente exoplanetas em outros sistemas solares a centenas de anos-luz de distância, um [exoplaneta] esteja escondido em nosso próprio quintal”, notou Mustill em comunicado ao Phys.org.

Embora tenha sido publicado na Monthly Notices of the Royal Astronomical Society: Letters, o estudo de Mustill e seus colegas está mais para uma sugestão educada do que uma teoria nesse momento. Como não temos qualquer imagem do Planeta 9 nem sabemos do que ele é feito ou onde se encontra nesse momento, sua existência ainda não está confirmada. Portanto, ainda é muito, muito cedo para dizer qualquer coisa sobre sua origem.

Os confins do sistema solar podem ser algo perfeito para o cativeiro de um sequestrador — mas ainda é preciso haver um sequestrado para haver um cativeiro.

rb2_large_gray25Referência
Alexander J. Mustill, Sean N. Raymond, Melvyn B. Davies. Is there an exoplanet in the Solar system? [Existe um exoplaneta no Sistema Solar?], Monthly Notices of the Royal Astronomical Society: Letters 460 (1):L109-L113. First published online April 26, 2016.
DOI: 10.1093/mnrasl/slw075

chevron_left
chevron_right

Leave a comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Comment
Name
Email
Website