Por dentro da URSS: viagens aéreas

Foto publicitária da Antonov, fabricante de aviões soviética, feita em 1961. O English Russia tem mais algumas dessa imagens, inéditas, pois não foram aprovadas pelas autoridades soviéticas da época.
Foto publicitária da Antonov, fabricante de aviões soviética, feita em 1961. O English Russia tem mais algumas dessas imagens, inéditas, pois não foram aprovadas pelas autoridades soviéticas da época.

Todo avião comercial soviético leva na cabina dos passageiros, bem à vista, um pequeno painel de instrumentos que inclui um velocímetro e um altímetro, de modo que os viajantes sempre sabem — e é sempre divertido — a que velocidade e altura estão voando. Os aviões andam quase sempre lotados. Diz uma lenda bastante espalhada que os cidadãos soviéticos não possuem mobilidade, que se mantêm eternamente presos à comunidade em que vivem, mas não foi isso que a experiência revelou. Conhecemos gente de toda a União Soviética em nossos diversos vôos, e o movimento no interior é incessante. Uma das características das viagens aéreas soviéticas é a sua espantosa falta de formalidade. Quando o piloto se sente benignamente disposto, faz o avião esperar até que todos tenham jantado no aeroporto onde se encontram. Se a aeromoça não aparece, ou por acaso é deixada em terra, às vezes se pede a um dos passageiros que a substitua. Numa longa viagem que fizemos, de Tíflis [capital da Armênia Geórgia] até Moscou, a porta que separa a tripulação  dos passageiros batia constantemente. Ninguém conseguia mantê-la fechada. O co-piloto fez uma tentativa displicente, sem resultado. De maneira que ela continuou a bater, com um barulho infernal, durante todo o vôo — mais de sete horas. — GUNTHER, John. A Rússia por dentro. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1959. p. 421.

Em outra passagem Gunther observa que o limite de bagagem em viagens pelo interior era bem restrito: 10 kg por passageiro. No entanto, ele e a esposa tinham o triplo disso em malas e jamais tiveram que pagar pelo excesso de peso. Pode ser uma deferência ao jornalista estrangeiro? Talvez, mas ele não viu ninguém ser multado por excesso de bagagem.

Quanto às aeromoças, que parecem dispensáveis pelo relato do trecho acima, talvez fossem mesmo. Gunther nota que as aeromoças soviéticas raramente usam uniforme, e “em geral, ocupa sozinha o terceiro assento a contar da frente e aí fica sentada durante toda a viagem, imóvel e inerte, embora cordial”. O papel das comissárias de voo soviéticas era basicamente informar o piloto sobre a situação da cabine de passageiros. Raramente serviam-se refeições a bordo, mas eram comuns pausas a cada duas ou três horas para almoçar ou jantar num aeroporto pelo caminho.

Embora sempre tivessem restaurantes, os aeroportos não eram dos melhores. Na Ásia Central, chegavam a ser pouco mais que um conjunto de edifícios de madeira ao redor da pista. Em muitos casos, não havia portão de desembarque: era preciso descer do avião e seguir a pé por até 400 metros até o aeroporto  — isso mesmo sob a pesada neve do inverno russo. Tampouco havia alto-falantes ou paineis para anunciar os voos no interior soviético. A responsável por isso, geralmente, era “uma funcionária idosa, envolta num manto acolchoado e calçando sapatos de pano” cuja obrigação era fazer os passageiros embarcar a tempo.

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  • Eduardo Pereira Cabral Gomes

    A informação é confiável? Tiflis, Tbilisi em português, é capital da Georgia e não da Armênia. A capital da Armênia é Erevan.

    • Renato Pincelli

      No livro original, a grafia ainda é Tiflis mesmo. Mas informação que acrescentei, indicando que aquela cidade seria a capital armênia e não georgiana, foi um equívoco da minha parte durante a transcrição e que passou em branco pela revisão. Agradeço a correção, Eduardo.

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