![Tanques soviéticos na avenida Andrássy, em Budapeste, durante a Revolução Húngara (1956) [Imagem: Wikimedia]](https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/79/Budapest_VI.%2C_Andr%C3%A1ssy_%C3%BAt_a_Munk%C3%A1csy_Mih%C3%A1ly_utca_fel%C3%A9_n%C3%A9zve._Jobbr%C3%B3l_balra%2C_t%C3%ADpus_szerint-_egy_ISZ-3_neh%C3%A9z%2C_egy_T-34-85_k%C3%B6zepes_%C3%A9s_egy_PT-76_%C3%BAsz%C3%B3_harckocsi_l%C3%A1that%C3%B3_a_k%C3%A9pen._Fortepan_24349.jpg/1024px-thumbnail.jpg)
De todos os encontros relatados por John Gunter em seu livro-reportagem sobre a vida soviética, o causo a seguir é sem dúvida o mais tragicômico:
Em uma livraria, um rapaz, ouvindo-me falar em inglês, aproximou-se discretamente. Era eu um americano? Como aconteceu de me encontrar em Leningrado? Era membro de uma delegação, isto é, era comunista? Tornei-me objeto de tanta curiosidade como se fosse um selvagem das Ilhas Fidji usando cartola. O rapaz tinha dezenove anos e estudava filosofia. Perguntei-lhe o que conhecia de literatura e filosofia americanas ou inglesas contemporâneas. Ele disse que “se lançava” todas as semanas para a biblioteca a fim de ler o New York Times (Os jornais americanos não existem nas bancas de jornais na Rússia; entretanto, alguns podem ser compulsados em certas bibliotecas por determinados estudantes).
“Como julga nosso jornalismo, comparado com o de vocês?”, perguntei. Lançou-me um olhar intrigado e rápido, e disse: “Um é muito tendencioso.” Não precisei perguntar qual. Mas, tornando-se reservado, acrescentou como para defender-se: “Naturalmente, concordo com essa maneira de ser!” Não indaguei porque então ele “se apressava” a ler jornais americanos todas as semanas. Perguntei-lhe o que pensava dos acontecimentos da Hungria. “Uma história lamentável”, replicou. “Entre nós existem duas opiniões a respeito. Mas…”
Alguém se aproximava, e o rapaz escapuliu imediatamente. — GUNTHER, John. A Rússia por dentro. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1959. pp. 412-13