O que andei vendo no Netflix em março e abril

Ou não. Na verdade aqui vão algumas recomendações do que vi já faz tempo mas que ainda não tinha resenhado. Direto da sessão “Assistir Novamente”.

 


Filme

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Pequenos Gângsteres [West Coast | FRA | 2016 | 80 min] — Quando se pensa em gangsta rap, você deve se lembrar da Califórnia, não de uma cidadezinha da Bretanha, no litoral norte da França. Pois é exatamente ali que vivem quatro adolescentes fãs do gênero e socialmente desajustados. Tudo o que Flé-O (Victor Le Blond), Copkiller (Devi Couzigou), Delete (Mathis Crusson) e o pequeno King Kong (Sullivan Loyez) desejam é ter a vida rica e cheia de estilo dos rappers americanos que adoram. A realidade, porém, é bem diferente: em vez de populares, eles são os esquisitões desbocados da escola. Quando são insultados no último dia letivo do colégio, eles armam um plano de vingança que sai do controle rapidamente, com a perda da arma do pai de Copkiller, um policial. Na tentativa de reaver o revólver, eles acabam encontrando traficantes de maconha pesadamente armados (com pistolas d’água), descobrem o lado vadio de uma mocinha gótica e invadem um asilo à procura do perdido (mas nada inocente) King Kong. Sem querer querendo, eles acabam recuperando a arma e invadindo a festa do mauricinho que os insultou. O resultado é uma noite na cadeia e a descoberta de que conseguiram uma grande aventura antes de se separarem por diversos motivos. Com referências ao mundo do hip hop e à cultura californiana, é uma comédia estilo sessão-da-tarde que garante boas risadas. Mas não espere muito da trilha sonora à qual falta justamente o gangsta rap que os meninos tanto gostam. Trailler (legendas em inglês):

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Séries

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Cash Cab [1 temporada | 2010] — Pegar táxi costuma ser algo caro, chato e fora de moda, mas ainda é um hábito bem nova-iorquino. Neste misto de game show com ares de reality, o comediante Ben Bailey é um dos 13 mil taxistas que rodam diariamente por Nova York. Ao mesmo tempo e no mesmo lugar — seu táxi, uma minivan Toyota com os prefixos 1G12 ou 7N78 —, Bailey apresenta um programa de perguntas e respostas típico da TV americana, exceto pelo cenário móvel, com o qual roda dia e noite pelas ruas e avenidas da Big Apple. Como os programas do gênero, a premissa é simples: os passageiros (que são participantes pré-inscritos) entram no táxi e respondem a uma sequência de perguntas sobre conhecimentos gerais (geralmente sobre cultura americana) em troca de prêmios em dinheiro que aumentam conforme a dificuldade de cada grupo de questões.

Porém, há algumas particularidades que só um quiz show móvel pode oferecer: caso cometam três erros, os passageiros são expulsos do veículo onde quer que ele esteja e o Desafio do Sinal Vermelho. Ativado sempre que o táxi para num semáforo, este desafio dá aos competidores 30 segundos para responder livremente perguntas com respostas em lista, como “Quais são os cinco maiores produtores de petróleo?” ou “Quais os países asiáticos com maior número de migrantes nos EUA?”. Em alguns episódios há, ainda, a Corrida Dupla, na qual os prêmios de cada etapa têm seus valores duplicados. Na falta de universitários, é possível pedir ajuda para algum pedestre ou fazer uma ligação para algum conhecido. Quem chega ao destino ainda tem a possibilidade de dobrar o valor acumulado (ou perder tudo) ao enfrentar uma pergunta baseada na exibição de um vídeo. Com quase 10 anos (ou mais, pois o programa foi originalmente exibido entre 2005 e 2012 pelo Discovery), Cash Cab já tem uma estética meio datada e, por ser originalmente produzido pra TV, conta com explicações repetitivas do jogo em cada episódio e claras pausas que marcam o fim de cada bloco. Ainda assim, pode ser um bom entretenimento para quem tem pouco tempo — os 40 episódios têm cerca de 20 minutos cada — e é especialmente recomendável como programa de fim de noite.


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Truques da Mente [Brain Games | 3 temporadas | 2014-16] — Outro misto de game show com conteúdo documental, este programa foi uma interessante produção original do National Geographic Channel com 7 temporadas entre 2011 e 2016. Diferente de outros programas com jogos, aqui o jogador fica do lado de fora da telinha: é você mesmo, espectador. Por meio dos jogos mentais que o título original indica, o apresentador Jason Silva explora questões neurológicas ou psicológicas como ilusões de ótica, decisões morais, detecção de mentiras, reconhecimento de padrões, aquisição da linguagem, socialização, superstições e crenças e habilidades motoras. Os testes para o público de casa costumam ser versões simplificadas de exames ou provas aplicadas a pessoas em ambientes com ou sem controle (como um pseudo-bar ou uma rua movimentada de uma metrópole como Londres ou Nova York). Além da participação de especialistas da área, são frequentes as aparições de ilusionistas e esportistas.

De maneira geral, os “truques” funcionam mas os que envolvem linguagem exigem atenção redobrada, especialmente no caso das versões legendadas. Nesse contexto, as adaptações para o português até que são bem-feitas, o que torna o uso de legendas praticamente obrigatório. Ponto fraco é a duração inconsistente dos episódios: os das temporadas mais antigas são mais curtos (cerca de 20 minutos), enquanto os mais recentes são mais longos (pouco mais de 40 min.). Além disso, a presença deste programa nem sempre é garantida na sua lista: como outras produções da Nat Geo, Truques da Mente já entrou e saiu do catálogo da Netflix diversas vezes. O trecho a seguir é um exemplo de truque mental apresentado na primeira temporada:

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Quem Foi? [The Who Was Show | 1 temporada | 2018] — Biografias de figuras históricas costumam ser longas e pesadas, algo pouco atraente para as crianças (ou adultos com espírito infantil). Baseada numa coleção de livros infanto-juvenis homônima, essa série da Netflix mostra que não precisa ser assim: é possível ser historicamente correto com quadros de humor e musiquinhas divertidas. A principal fonte de graça está na limitação do elenco, formado por cinco adolescentes que precisam fazer pesquisas sobre personalidades ilustres (Haley Tju, Lila Crawford, Kirrilee Berger, Zach Tinson e Bentley Green) e Ron, um adulto autocêntrico e idiotizado (Andy Daly). Em cada episódio (cerca de 22 min.), os mesmos atores se revezam em esquetes cômicos e pequenos musicais que sempre formam o perfil de dois personagens díspares: Galileu e a Rainha Elizabeth I, Maria Antonieta e Louis Armstrong, Isaac Newton e Amelia Earhart ou Gandhi e Ben Franklin.

Ao longo da série, o único personagem que desperta o interesse de Ron é Bruce Lee, cuja peça biográfica vai sempre sendo adiada por diversos motivos, o que se torna uma piada recorrente. Apesar das figuras históricas geralmente anglocêntricas, o elenco é relativamente diversificado: Tju é uma menina asiático-americana e Green é um rapaz afro-americano. Além dos esquetes ainda há pequenas animações com o estilo caricaturesco das ilustrações dos livros inspiradores da série. Ao fim de cada episódio, as celebridades participam, na forma de animação, de uma entrevista coletiva que busca indicar pontos em comum entre as figuras históricas. O resultado é um programa divertido, que cativa desde a abertura (que pode ser vista abaixo), mas que peca por ter apenas uma temporada com 13 episódios.

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Animação

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As Aventuras de Figaro Pho [2 temporadas | 2012 e 2015] — Ictiofobia, Cleptofobia, Reductofobia, Ergofobia (respectivamente, medos de peixe, de roubos, de ser encolhido e de trabalhar). Parecem bons verbetes para a nossa interminável série Em uma palavra, mas na verdade são alguns títulos de episódios dessa série de animação australiana, que gira em torno de fobias. Baseada no curta homônimo de Luke Jurevicius, Figaro Pho conta as desventuras de um menino que sofre de todo tipo de fobias, algumas reais outras claramente inventadas pelos criadores da série. Apesar da origem estrangeira, os desenhos dispensam legendas e até dublagem pois seguem a velha tradição de humor por pantomima dos filmes de Chaplin ou das primeiras animações, mas com uma estética e temática Tim-Burtonesca. Além da trilha sonora e dos efeitos de áudio, os únicos sons são apenas vocalizações simples que buscam expressar as emoções envolvidas, como espanto, nojo ou medo. Fora o personagem-título, as histórias também apresentam figuras recorrentes como Rivet (ou Rebite), o cachorro de estimação mecânico de Figaro Pho; a menina da vizinhança por quem ele se apaixona; o carteiro azarado que entrega-lhe as mais diversas geringonças e adultos velhos, fedorentos ou ameaçadores.

Ao tratar do tema do medo e das fobias com a leveza do humor, Figaro Pho é útil para crianças de todas as idades. Entretanto, traz dois defeitos: a organização dos episódios e a segunda temporada. O primeiro problema é que cada episódio de 22 minutos é, na verdade, um agrupamento de três episódios independentes, porém mais curtos. A meu ver, não haveria problema em separar adequadamente os episódios, mesmo que isso signifique vídeos com menos de 10 minutos. O segundo problema é mais sério e difícil de resolver: na segunda temporada, conhecida como As Novas Aventuras de Figaro Pho, o desenho foge das fobias que o diferenciam e cai no lugar-comum das animações infantis, com enredos mais simples (porém não menos absurdos), mais personagens, mais cores e mais diálogo. O primeiro episódio, Ictiofobia, pode ser acompanhado no vídeo a seguir:

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