Leonardo Dias Nunes
Realizaremos uma introdução à space economy nos artigos que serão publicados este ano no Blog Sobre Economia. Iniciaremos essa introdução tomando como base o livro Space Economy, escrito pela astrofísica italiana Simonetta Di Pippo [1]. O tema foi escolhido devido ao destaque que essa indústria vem recebendo na mídia e por ser a fonte de inúmeras reflexões, especulações e promessas de novas formas de desenvolvimento capitalista.
As possíveis transformações econômicas e sociais advindas das tecnologias mais complexas são sempre um material rico para a criação de tendências, perspectivas e ficções. Analistas dessa matéria mostram como é grande a capacidade do homem de se maravilhar com os avanços tecnológicos sem dar maior atenção à análise da sociedade em que tais avanços são observados [2].
A internet, a inteligência artificial e a conquista do espaço pelo homem são avanços tecnológicos transformadores, sem dúvida. Por isso, muitas vezes, esses avanços foram e continuam sendo apontados como um remédio milagroso que resolverá todos os problemas da humanidade. Será que resolverão? Antes de tentar responder a esse questionamento, buscaremos dimensionar a space economy para compreendê-la de forma introdutória. Posteriormente, teremos condições de fazer uma análise das promessas de transformações econômicas e sociais que são difundidas com base nessa indústria que cresce vertiginosamente.
Assim, para iniciar essa série de artigos, o primeiro foi dividido em duas partes. Na primeira, serão apresentadas as dimensões econômicas da space economy. Na segunda, será apontada uma característica diferenciadora da atual space economy e a relação desse setor com a transformação digital.
No livro Space Economy, publicado no ano de 2023, Simonetta Di Pippo defende que esse setor será o fundamento de um novo boom no desenvolvimento da economia global e sua democratização irá melhorar as condições de vida no Planeta Terra.
Sem dúvida, a space economy utiliza as tecnologias mais avançadas produzidas pelo homem e nela há uma conjunção de setores de alta complexidade, fazendo dela um imenso centro de atração de investimentos. De acordo com os argumentos da autora, com o desenvolvimento desse setor, a espécie humana poderá se transformar em uma espécie multiplanetária que extrairá minerais da Lua, desenvolvendo uma economia lunar. Consequentemente, tais transformações terão efeitos positivos para a economia capitalista global.
Fundamentada no Space Report publicado em 2021 [3], Di Pippo afirma que a space economy estava dimensionada em 428 bilhões de dólares em 2019, 447 bilhões de dólares em 2020 e 469 bilhões de dólares em 2021.
Já de acordo com os dados da The Satellite Industry Association [4], a space economy valia 371 bilhões de dólares em 2020. As diferenças entre as estimativas apresentadas pela autora ocorrem devido às distintas metodologias de mensuração utilizadas pelas instituições de pesquisa.
Deve ser ressaltado que o setor cresceu de forma considerável. Ao utilizar mais uma vez os dados presentes no relatório da Space Report de 2021, observa-se um crescimento de 176% da space economy entre 2005 e 2020. Adicionalmente, as projeções presentes no Space Economy Report elaborado pela Euroconsult apontam para um crescimento de 74% do setor até 2030, atingindo assim o valor de 642 bilhões de dólares [5]. Por fim, o Bank of America estima que o setor valerá 1,4 trilhões de dólares em 2030, cifra similar ao valor global da economia do turismo.
Simonetta Di Pippo afirma que a old space economy tinha suas atividades desenvolvidas por instituições de pesquisa governamentais, como a NASA (National Aeronautics and Space Administration) nos Estados Unidos. Já a new space economy tem Elon Musk e Jeff Bezos como os principais representantes de uma indústria que está repensando a forma de fazer negócios. Atualmente, a new space economy está atraindo cada vez mais investimentos devido à diminuição das barreiras à entrada e ao aumento das práticas empreendedoras das áreas relacionadas e não relacionadas a esse setor.
Esses empreendedores possuem grandes ambições, quais sejam, realizar viagens para qualquer parte do Planeta Terra em menos de uma hora, realizar o turismo espacial e transformar os seres humanos em uma espécie multiplanetária [6]. Esses projetos são o prelúdio de um novo estilo de vida no Planeta Terra.
Simoneta Di Pippo afirma que a space economy está diretamente relacionada com a transformação digital que ocorre em todas as partes do mundo. De acordo com os dados do ano de 2021, 63% da população mundial tinha acesso à internet. Dos 37% que não tinham acesso, 96% viviam nos chamados países em desenvolvimento.
De acordo com o The Age of Digital Interdependence [7], existe o objetivo de alcançar a conectividade completa para todos os adultos do mundo em 2030. A conexão total levará a internet para regiões remotas, possibilitará o desenvolvimento de sistemas de utilização mais fácil e aprimorará serviços financeiros e de saúde. Para alcançar esses objetivos, Di Pippo argumenta que a space economy oferece soluções com as mega constelações de satélites, definidas como “(…) um conjunto de satélites que são utilizados de forma coordenada em órbita”.
As mega constelações de satélites auxiliarão na implementação da conectividade de todos os humanos adultos à internet e no funcionamento dos sistemas autônomos. Além de todos esses desenvolvimentos que a space economy pode gerar, a autora também aponta para os futuros desenvolvimentos relacionados ao mercado lunar, quais sejam, comunicação extraterrestre, assentamentos humanos na Lua, comunicação e infraestrutura de navegação lunar.
Nesse artigo, apresentamos de forma sucinta as dimensões da space economy, as novas características desse setor em relação à segunda metade do século XX e sua estreita conexão com a transformação digital. Para concluir, destacamos o otimismo apresentado pela autora em relação ao progresso que a space economy poderá induzir na economia global. Será que já existem críticas às promessas de desenvolvimento capitalista orientadas pela space economy? Essas críticas e outros temas presentes no livro escrito por Simonetta Di Pippo serão explorados nos próximos artigos.
Leonardo Dias Nunes, Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (2008), mestrado (2012) e doutorado (2018) na área de História Econômica do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Econômico da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.
Como citar:
NUNES, Leonardo Dias. (2024). Space Economy. Revista Blogs Unicamp, Vol.10, N.1, Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/revista/2024/05/02/space-economy/. Acesso em: DD/MM/AAAA
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Edição: clorofreela