Aumente seu QI. Mame no peito!


Mais uma vantagem deste que vem se mostrando o elixir alquímico dos neo-natos. Bom pra tudo esse leitinho. Até QI sobe com ele!

Estudo com 14000 crianças acompanhadas até os seis anos mostram que as que se alimentaram exclusivamente de leite materno até os três meses, alguns até 12 meses, têm em média uma pontuação 5,9 pontos maior em testes de QI.

O importante é salientar que não se sabe se o que traz a vantagem é alguma substância do leite, ou se o próprio ato de amamentar e toda a ação e o contato entre mão e filho envolvidos no processo. Ou seja, o leite pode conter alguma substância que alimente o cérebro do bebê, ou o fato da mãe conversar com o bebê, e até mesmo o toque em si, que pode estimular liberação de hormônios na criança, podem ser os responsáveis pelo aumento do QI.

A lição, mamãe, parece ser mesmo “amamente o quanto der”.

Mas se você está grandinho demais para mamar, aqui estão as dicas para melhorar seu desempenho cerebral!

BBC: Breastfeeding ‘helps to boost IQ’

Doze dicas científicas para potencializar seu cérebro


da revista Wired

É isso aí, nada de vitaminas ou meditação transcendental. Aqui vão dicas cientificamente comprovadas para dar uma melhorada no que temos de melhor (ou pior): nossa mente!

A revista Wired está de parabéns. Muito bacana este especial, que só foi traduzido e/ou adaptado por mim. O mérito é da revista, qualquer coisa a culpa é dela. E se ela pegar no meu pé, meus advogados estão a postos.

1- Mitos sobre inteligência:

– jogar Brain Age: este vídeo game promete aumentar as capacidades cognitivas de seus jogadores. Pena que nunca foi provado. A melhora do desempenho no jogo não necessariamente indica melhora fora dele.

– palavras-cruzadas: dizem que aumentam a capacidade de memória e retardam o envelhecimento do cérebro, estimulando novos neurônios. Nenhum dado que confirme isto. Existem indícios de correlação, não de causa: ou seja, quem faz palavra-cruzada ou tem um trabalho que exija mais da mente, já tem uma maior capacidade cerebral, que a atrai a fazer este tipo de atividade. Qual a palavra de quatro letras que significa “crença no senso comum, sem provas”? Quem disse “mito”, acertou.

– Comer peixe: ora, nossos amigos do mar têm muito Omega 3, que é importante para o desenvolvimento cerebral de embriões, e alguns estudos ligam a dieta rica em peixe a um menor risco de degeneração mental com a idade. Mas estes estudos se baseiam na boa memória das pessoas, para lembrarem o que comeram. Coisa não muito confiável. Em camundongos, dieta com Omega 3 não teve efeito nenhum na cognição. Outra coisa, peixes de água fria, que são os mais ricos em Omega 3, também têm taxas elevadas de duas neurotoxinas.

– Mascar chicletes: Já foram mandados nas rações de soldados da Primeira Guerra Mundial. Pensava-se que o ato de mascar aumentaria o fluxo de sangue no córtex motor e também poderia enganar o cérebro ao deixá-lo pronto para receber comida. Isto aumentaria produção de insulina, elevando os níveis de glicose cerebal – melhorando o raciocínio. Pena que um estudo feito em 2004 descobriu que mascadores de chiclete são menos atentos que um grupo controle sem chiclete. É, parece que meus professores na escola estavam certos: sem chiclete na sala de aula.

– Ouvir música: A música pode expandir a sua mente, mas pode ela também expandir a capacidade cerebral? Algumas empresas até vendem CDs prometendo melhorar esta capacidade; não com músicas, mas sons com diferentes freqüências em cada ouvido. Esses tons se misturariam no cérebro e dispararia padrões neurais, alterando ondas cerebrais que alterariam o estado da mente. Idéia interessante, mas menos provável que tirar pensamentos elevados de um show do Babado Novo. Uma pesquisa recente submeteu pessoas a essas freqüências, e o padrão do eletroencefalograma não mudou nada. Pior, as pessoas ficaram depressivas e esquecidas. Ora, para ter estes efeitos é só ouvir Celine Dion.

– Suplementos: O mercado está cheio de produtos que prometem melhorar a inteligência. Melhorar o suficiente para checar as bases científicas dessas promessas? Os vendedores de pílulas esperam que não. Aqui alguns exemplos:

Complexo B – Ajuda contra Alzheimer, mas não vai ajudar a resolver seu sudoku

Ginkgo Biloba – pode ajudar na velhice, mas até lá, não será muito útil

Ginseng – pode regular a glicose, a qual se relaciona com cognição, mas ainda não há prova

Gotu Kola – Reduz ansiedade em ratos, mas em humanos a única coisa “inteligente” é o marketing em cima disto

Huperzina A – um estudo mostrou melhora na saúde de adultos, mas faltam estudos adicionais

2- Distraia-se: precisa memorizar algo importante? Olhe atrás de você!(Brincadeira.) O truque é esse mesmo, se distrair estudando coisas um pouco diferentes do que você está tentando aprender. Seu cérebro vai trabalhar mais para gravar a informação original. Exemplo: Em 2007 pesquisadores pediram para estudantes memorizarem pares de palavras (país: Rússia, fruta: limão, etc). Depois alguns tinham que assistir a uma apresentação de slides com material relacionado, mas não idêntico (fruta: maçã). Adivinhe? Os alunos que assistiram à distração foram melhor em lembrar as palavras do teste. Ei, o que é aquilo no céu, um pássaro ou um avião?

3- Cafeína, com moderação: Café, erva mate, Red Bull, há sempre uma bebida com cafeína para cada população. E não é pra menos: cafeína revigora o corpo e afia a mente. Estudos sugerem a melhor forma de se usar esta substância. Melhor que tomar uma dose cavalar no café da manhã seria tomar espaçadamente pelo dia. Durante o dia sua cabeça se enche de adenosina, uma substância que causa fadiga mental. A cafeína bloqueia os receptores de adenosina, cortando a moleza. Para maximizar a atenção e minimizar a euforia, o melhor é manter os receptores com pequenas mas freqüentes doses, como uma caneca de chá ou meio cafezinho, ao invés de uma bomba só pela manhã. Para melhorar, adoce com açúcar ou coma junto um lanchinho com carboidrato, pois parece que glicose e cafeína juntas aumentam a cognição melhor que cada uma separadamente. Alguém aceita um biscoitinho?

4- Pense positivo: Aprender coisas novas melhora seu cérebro, especialmente quando você acredita que pode aprender coisas novas. É um circulo virtuoso: quando você acha que está ficando mais esperto você estuda mais, fazendo novas conexões neurais, as quais deixam você mais… inteligente! Segundo estudos da Universidade de Stanford, voluntários mais persistentes (que persistem na tarefa apesar de obstáculos) possuem uma maior plasticidade neural, ou seja, se adaptam melhor a situações diversas, e mostram melhor desempenho cognitivo que os voluntários de atitude mais fixa (defensivos ou que desistem mais rápido). “Muitas pessoas pensam que têm um nível de inteligência fixo e pronto,” diz Carol Dweck que conduziu o estudo. “A cura para isso é mudar de atitude.”

5- Use a droga certa: Nem toda droga usada para melhora de desempenho frita neurônios. Aqui você vai achar uma lista com drogas, seus efeitos esperados e efeitos colaterais possíveis. Como ninguém aqui é médico, você só pode estar alucinando se estiver pensando em usar estas coisas apenas se baseando neste artigo.

6- Como treinar seu Q.I.: Procurando emprego? É bom ir se preparando para um teste de Q.I., pois muitas empresas hoje em dia pedem este tipo de exame. E, sim, você pode treinar para melhorar sua pontuação. Aqui, você acha dicas de Philip Carter, autor do livro “IQ and Psychometric Test Workbook”, com alguns exemplos de questões.

7- Conheça seu cérebro: Sócrates o relacionava a uma tábua de cera. Descartes pensou ser hidráulico. Hoje em dia é visto como um supercomputador. Boas tentativas. O cérebro é uma das estruturas mais complexas do planeta, o que o faz quase impossível de se compreender, e muito menos ser descrito com uma metáfora. Aqui e aqui vão alguns mapas para melhor compreensão deste órgão.

8- Não entre em pânico: Se estiver fugindo de um urso, é bom estar estressado – você vai correr mais rápido. Se estiver no Show do Milhão, a mesma ansiedade vai fazer você se enrolar todo. Um pouco de nervosismo pode melhorar sua performance cognitiva, mas períodos de estresse intenso podem nos transformar em neandertais. A amídala (a do cérebro, pois as da garganta só servem para infeccionar), é o nosso centro que controla o medo, e sempre supera o córtex pré-frontal, o qual é responsável pela memória de trabalho e tomada de decisão. Quando essa área profunda de nosso cérebro (amídala) é ativada, ela subjuga seus neurônios do córtex. Seu QI cai. Sua criatividade, senso de humor – tudo desaparece. Você fica estúpido. Como evitar isto? Respire fundo, e sincronize seu pulso com sua respiração. Assim seu cérebro vai pensar que está tudo mais calmo. Yoga ou uma soneca podem resolver também.

9- Adote o caos para ordenar sua memória: Uma maneira de aprender melhor é… bagunçar tudo! Esse é o conselho de Robert Bjork, professor de psicologia da universidade da Califórnia, que estudo memória e aprendizado. Voluntários em seus experimentos mostraram melhor capacidade de recordar informação quando aprendida de maneira embaralhada. Por exemplo, ele pediu que indivíduos em um grupo memorizassem sequencias de cinco letras num teclado de computador. Primeiro eles decoravam uma sequencia, só então mudavam para a segunda e em seguida para a terceira. Eles foram comparados com um segundo grupo, que decorou os conjuntos de cinco letras em ordem aleatória. Quando foram testados, o grupo da ordem aleatória teve melhor desempenho.

10- Seja visual: quer impressionar seus colegas localizando Guiné e Guiné Equatorial? Memorizar o mapa da África é mais fácil do que você pensa. As dicas são: separe o continente por regiões; ligue cada país e seu formato a outra figura de formato parecido, de preferência que também se relacione ao nome do país; relacione as figuras dos países vizinhos, montando uma historinha, e assim por diante. Agora, achar uma história para Azerbaijão e Uzbequistão, isso fica por sua conta.

11- Exercite-se sabiamente: Exercício físico pode fazer você pensar melhor? Em alguns casos, sim. Aqui está o que realmente funciona.

– Treino aeróbico: SIM. Estudos mostram aumento de massa cinzenta e branca em cérebros de adultos mais velhos. Também aumenta a performance de alunos de faculdade em testes cognitivos.

– Levantar pesos: IRRELEVANTE. Quando um halterofilista diz q está ficando imenso, pode ter certeza que não está falando do hipocampo. Foi achada uma ligação mínima entre treinos de resistência e função cognitiva.

– Yoga: SIM. Quando estamos estressados muitas vezes prendemos a respiração. Resultado: mais estresse, menos oxigênio para o cérebro. Assim a primeira coisa que se perde é a memória. A Yoga ajuda a perder este hábito.

– Estudar na esteira: IRRELEVANTE. Aulas de spinning podem aumentar seu “músculo” cerebral, mas não significa que você deva estudar enquanto estiver bufando e suando na esteira. Pesquisas mostram que isso só irá confundi-lo. Você acaba não fazendo bem nem uma coisa, nem outra.

12- Vá devagar: você deve levar dois segundos e meio para ler esta frase. Mais rápido que isto e você não absorverá seu significado. A resposta motora da retina, e o tempo que a imagem da palavra leva para viajar da mácula para o tálamo e para o córtex visual, onde é processado, limita o olho a 500 palavras por minuto, no máximo. A média lê metade disto. “Não existe esse tipo de leitura dinâmica,” é o que diz Keith Rayner, psicólogo cognitivo da universidade de Massachusetts-Amherst. “Não existe se a nossa definição de leitura for compreensão do texto.” Estudos mostram que leitores rápidos perdem para leitores lentos quando questionados sobre o texto.

Doping cerebral

Muito tem se falado na mídia internacional sobre estimulantes cognitivos, os chamados nootrópicos, ou “smart drugs”. Seu uso sempre foi muito intenso entre estudantes de faculdade por muito tempo, e agora começam a migrar para outras realidades, onde são necessários longos períodos de intenso foco mental, se incluem aí laboratórios de pesquisa científica. Aqui um artigo recente no New York Times.
Até agora nenhum pesquisador teve sua bolsa revistada ou sua urina coletada, mas mesmo assim a preocupação que tem surgido sugere que uma moda de drogas para aumento da cognição tenha inicio em não muito tempo.

“Apesar dos potenciais efeitos colaterais, acadêmicos, músicos, executivos, estudantes e até profissonais de pôquer têm usado drogas para clarear suas mentes, melhorar sua concentração e controlar suas emoções.”-Baltimore Sun.

O problema está ficando tão sério que existe até uma organização anti-doping cerebral: World Anti-Brain Doping Authority, que ajuda federações a implementar testes de detecção destas drogas, mantém uma lista de substâncias proibidas para uso por acadêmicos e mantém também um código com regras anti-doping. Até mesmo o NIH (Instituto Nacional de Saúde dos EUA, principal órgão financiador de pesquisa de lá) irá adotar tais medidas em colaboração com a World Anti-Brain Doping Authority. Isso inclui testes anti-doping em pesquisadores financiados pelo instituto, tanto no ato da validação do pedido de verba, como a qualquer momento enquanto durar o projeto financiado.

Mas pensemos na diferença do doping esportivo e o intelectual, o que seria importante já que o primeiro parece estar servindo de base para lidar com o segundo. No esporte o que se busca é a paridade, a igualdade na competição. Numa atividade intelectual, a finalidade pode ser mais diversa e talvez mais justificável. Claro que em ocasiões competitivas como vestibulares e concursos o melhor a se fazer seria controlar o uso de drogas como se faz com atletas. Mas fora esta situação, ponderando-se os efeitos colaterais, não há porque impedir o uso de drogas por pesquisadores, músicos e executivos. Claro que todos devem ser alertados, e bem, com relação aos efeitos colaterais, mas onde não há competição cabe a cada um escolher até que limite quer levar seu corpo. Virar noites trabalhando uma vez que esteja empolgado com resultados de sua pesquisa pode ser uma justificativa, e tomar uma pílula para manter a atenção com poucos efeitos colaterais não parece mau negócio.

Poderíamos abrir precedentes e cair na discussão das drogas ilícitas, já que o argumento que usei aqui poderia justificar o uso de drogas como maconha ou extasy. O problema é que a sociedade quer se proteger dessas drogas que alteram em muito o estado de uma pessoa o que pode trazer riscos a outras pessoas. E ainda temos as “drogas” como cafeína e álcool, que vêem agindo como doping intelectual há séculos. Isto tudo só prova que a humanidade ainda não aprendeu a lidar com este assunto.
E logo mais proibirão café, música durante o trabalho e noites viradas no laboratório?

No caso dos cientistas o que está em jogo não é uma querela olímpica vã. Para desenvolver a Ciência, como a ferramenta que ela é para melhor entendermos o mundo, talvez valha tudo sim! Tudo que o pesquisador estiver disposto a fazer por livre e espontânea vontade, levando seu próprio corpo até onde lhe parecer melhor.

Via A Blog Around the Clock

Sexto Sentido para calorias

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – O paladar desempenha um papel importante na busca dos animais por nutrientes, estimulando-os a procurar os alimentos mais calóricos. Mas, mesmo na ausência de qualquer estímulo gustativo, o cérebro é capaz de escolher o alimento com mais calorias, de acordo com um estudo feito por pesquisadores da Universidade Duke, nos Estados Unidos.

Utilizando camundongos geneticamente modificados para perder a capacidade de sentir sabores doces, os cientistas demonstraram que os animais dão preferência ao alimento mais calórico, contrariando uma das explicações mais recorrentes para o consumo exagerado de calorias.

Segundo os autores, o trabalho pode ter importantes implicações para a compreensão de causas da obesidade. Os resultados foram publicados na edição desta quinta-feira (27/3) da revista Neuron, com Ivan de Araújo como primeiro autor. O trabalho contou com a participação de outros brasileiros, entre os quais Miguel Nicolelis, professor titular do Departamento de Neurobiologia da Universidade Duke.

“O estudo sugere que pode ser ineficaz tentar diminuir o consumo de calorias por meio da substituição do alimento por uma versão menos calórica, mas com gosto parecido. Graças aos mecanismos cerebrais que regulam o comportamento ingestivo, a pessoa pode acabar, a longo prazo, preferindo a versão mais calórica”, disse Araújo à Agência FAPESP.
Os camundongos puderam escolher entre beber água ou uma solução de água com sacarose. Enquanto os animais normais apresentavam preferência pela água com sacarose, os geneticamente modificados se mostraram indiferentes.

Em seguida, os pesquisadores associaram um dos lados de uma caixa comportamental à presença ou ausência da solução de sacarose. Em um dia a solução era colocada no lado direito e o esquerdo permanecia vazio. No outro dia, água pura era colocada no lado esquerdo e o direito permanecia vazio. E assim por diante.

“Ao longo do tempo, os animais desenvolveram forte preferência pelo lado da caixa que fora associado à sacarose. Apesar de não detectarem o doce, eles lentamente começaram a mudar seu padrão de preferência em favor do lado que tinha a solução doce”, disse.

Segundo o cientista, que graduou-se pela Universidade de Brasília e completou os estudos nas universidades de Edimburgo e Oxford, isso mostra, em nível comportamental, que o animal desenvolve preferência clara pela caloria mesmo na ausência de qualquer prazer específico ligado ao paladar.

“Depois fizemos o mesmo experimento substituindo a água com sacarose por uma solução de água com sucarose – um adoçante artificial utilizado no mercado. O animal normal gostava muito desse adoçante, mas os animais mutantes não mostravam preferência nenhuma quando não havia conteúdo calórico”, disse.

(…)Os animais geneticamente modificados, segundo ele, mostraram alto nível de emissão dopaminérgica quando consumiam a água com sacarose. Quando se tratava da água com adoçante, no entanto, os níveis de emissão não eram detectáveis. Nos animais normais, os níveis de dopamina aumentavam em ambos os casos.

Então não é o gostinho bom que faz a gente preferir a batatinha-frita ao brócolis. nosso cérebro “sabe” que está sendo enganado quando colocamos adoçante no cafezinho. De algum jeito a gente sente as calorias. Daí o porquê destes pesquisadores usarem o termo “sexto sentido” para calorias.

O artigo Food reward in the absence of taste receptor signaling, de Ivan E. de Araújo e outros, pode ser lido no site da Neuron em www.neuron.org.

Liberais e conservadores: idéias diferentes, cérebros diferentes.


Não é difícil aceitar que nossos cérebros produzam nossos pensamentos. E que diferenças entre cérebros possam gerar as diferenças de pensamento de um indivíduo para outro. Mas difícil é aceitar essa idéia no dia-a-dia, aceitar que os nossos pensamentos são estruturados, e que seguem padrões e tendências neurofisiológicas. Talvez por isso uma notícia recente tenha causado espanto. Descobriu-se que pessoas classificadas politicamente como liberais ou conservadoras se mostram diferentes nas respostas a estímulos.

Um teste simples foi feito. Primeiro um questionário classifica se o indivíduo é liberal ou conservador; um teste de resposta “go\don´t go”(vai\não-vai) é aplicado e consiste em observar a aparição das letras M e W numa tela. Sempre que aparecer um M o indivíduo aperta uma tecla. Mas às vezes aparece um W e a tecla não deve ser apertada. Como 80% das vezes é um M que aparece e como o W se parece muito com a outra letra, a tendência é acabar apertando o botão quando o W aparece.

O resultado foi o seguinte: os liberais erraram menos, o que indica que respondem melhor a este teste. Como os participantes estavam ligados a um eletroencefalograma (aparelho que mede a atividade de regiões do cérebro) pôde-se perceber também que os liberais tinham uma maior atividade na região do cérebro que está ligada a analise e resolução de conflitos. Dá a entender que liberais se adaptam mais rápido a mudanças para corrigir suas respostas.

Isto quer dizer que liberais são melhores? Não sejamos precipitados. Ambas as estratégias existem há muito tempo ao longo da história humana. Isso provavelmente quer dizer que ambas são vantajosas. Qual a mais moral ou ética já é outra questão mais difícil de responder.

http://scienceblogs.com/cognitivedaily/2007/09/the_claim_politically_liberal.php

http://www.latimes.com/news/science/la-sci-politics10sep10,0,5982337.story?coll=la-home-center

O roedor fiel.


Muitos dizem que a monogamia não é vantajosa (principalmente para machos), porque se é possível copular com várias parceiras, as chances de se ter mais filhos é maior. E não há dúvida que o objetivo de todo ser vivo é procriar, pois não só Darwin diz isso, mas o próprio Deus recomendou: “Multiplicai-vos!”. E muitos homens têm usado este argumento para defender sua promiscuidade. Mas não vou me ater à questão da vantagem, ou adaptabilidade, da fidelidade, ou seja, ao “por quê” dela, mas sim ao “como”.

Podemos definir monogamia como uma organização social, na qual cada indivíduo de um casal é mais seletivo e tem preferências com relação ao parceiro de cópula e convivência, com o qual divide o mesmo ninho e o cuidado com os filhotes. E veja que nessa definição não se exige exclusividade sexual total de parceiro. Sendo assim, veremos que apenas 3 a 5% dos mamíferos são monogâmicos.

Um desses mamíferos monogâmicos que vêm sendo estudados é um roedor do gênero Microtus e acabou se tornando um modelo de roedor “fiel”. Com ele descobriu-se que a formação de casais pode ser influenciada molecularmente, através de substâncias liberadas no cérebro. Em machos isto é influenciado pelo hormônio vasopressina (também ligada ao comportamento típico de machos como agressividade, marcação de território e côrte) e em fêmeas pela oxitocina (ligada à amamentação e à relação com filhote). Os estudos feitos consistiam em injetar vasopressina e oxitocina no cérebro de machos e fêmeas, respectivamente, e reparou-se que isto acelerava a formação de casais. E ao injetar substâncias que anulam o efeito desses dois hormônios impedia o enlace. O interessante é que os cérebros de espécies de roedores muito parecidas mas que não são monogâmicas são muito menos sensíveis a essas substâncias, e isto porque os poligâmicos têm menos receptores de oxitocina ou vasopressina que os monogâmicos, isto em áreas do cérebro relacionadas à formação de casais (seriam essas substâncias o tão procurado elixir do amor?).

Agora mais um dado curioso: não há dúvida de que a cópula gera prazer, e sabe-se que o prazer está ligado à dopamina. Mesmo o prazer de comer está ligado a esta substância, e esse sistema gera uma aprendizagem: o que nos dá prazer pode nos dar prazer de novo, então porque não ir atrás deste prazer novamente? É assim que aprendemos como ou onde saciar nossa fome, ou como e onde obter sexo. Assim, como sexo é recompensa, e é ela que nos faz aprender, quando a recompensa se relaciona com algum outro estímulo, um cheiro por exemplo, ocorre um tipo de aprendizado. Assim um Microtus, que é muito sensível ao olfato, ao copular relaciona este prazer (dopamina) ao cheiro do(a) companheiro(a), formando assim um casal que aprendeu a ter prazer mutuamente. É interessante observar que este sistema da dopamina é o mesmo usado por drogas como a cocaína para gerar dependência.

Formado o casal, como mantê-lo? O que garante que um indivíduo do casal não descubra que também pode obter prazer “pulando a cerca”? Fácil, é só diminuir os receptores de dopamina que interagem com o estímulo do cheiro. E é isso que acontece nestes roedores: depois que o casal é formado diminuem os receptores que interagem prazer e cheiro, assim um novo cheiro não vai causar o mesmo efeito que o do parceiro, não deixando um novo casal se formar.

Assim, resumindo, a formação de casais nesses roedores depende da interação entrsistema de reconpensa da dopamina e o sistema de reconhecimento social. E isso nos faz pensar: será o amor um vício, como a cocaína? Até que ponto o Microtus “escolhe” seu parceiro? E em humanos, como ocorre a seleção de parceiros?

Uma coisa é certa: se Deus, o criador dos animais, por meio das moléculas disse “multiplicai-vos”, para algumas espécies Ele disse também, “multiplicai-vos, mas apenas com um(a) parceiro(a)!”

  • Artigo Nature Neuroscience
  • Reflexão sobre a origem e o futuro da monogamia em humanos
  • O neurocientista milionário

    Muita gente pode não entender o porquê de se estudar neurociências, já que estas estão tão distantes do grande público.
    Mostrar que essas ciências têm muito a oferecer para nosso auto-conhecimento, tanto no nível individual como no de nossa espécie como um todo, é difícil especialmente hoje em dia, onde as pessoas acreditam que haja mais rigor cientifico na psicanálise que em estudos neuro -comportamentais, -fisiológicos, -genéticos, etc. Uma pergunta que as pessoas se façam talvez seja: “Para que gastar tempo e dinheiro em pesquisa básica de neuro se há coisas mais urgentes para resolver como HIV, hipertensão e câncer? Deixe o cérebro para os clínicos que está muito bom.”

    Por isso, muitas pessoas podem se espantar com Ogi Ogas, o doutorando em neurociências que ganhou recentemente um milhão de dólares no “Show do Milhão” americano (Who Wants to Be Millionaire) usando seu conhecimento sobre memória, aprendizado e tomada de decisão. Sendo esses seus temas de estudo, ele descreve em um artigo como se utilizou objetivamente do seu conhecimento sobre o mecanismo de funcionamento do cérebro para responder as perguntas cabeludas do programa. Técnicas como ficar revolvendo e repetindo o que lhe vem à mente quando feita a pergunta e associar a contextos não diretamente relacionados à resposta, mas que podem ressuscitar lembranças úteis, são algumas que Ogi explica e justifica em seu artigo. Até mesmo o que se sabe cientificamente sobre a intuição foi utilizado por Ogi para suas tomadas de decisão.

    A descrição fisiológica das reações emocionais sentidas por ele durante o jogo são um gracejo cientifico que reforça a necessidade de se ler o artigo de Ogi.

    Assim, se perguntado o porquê das neurociências, e argumentos nobres como auto-conhecimento e aplicabilidade não forem suficientes, a resposta que pode encerrar a discussão hoje em dia talvez seja: “Bom, um cara ficou milionário por estudar isso”.

  • artigo