Mapa gênico do cérebro.

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A foto acima não é de um serial killer ou mesmo da série de TV Dexter. Talvez Hannibal Lector, do filme Silêncio dos Inocentes, preparando um jantarzinho? Também não. Isso, meu amigo, é cartografia genética cerebral (neologismo meu, mas ficou legal, não?).
Sequenciar o DNA humano foi a parte fácil, ficou agora o desafio de saber como a coisa toda funciona. E saber quais genes estão ligados e desligados nas diversas partes do corpo é um passo importante no entendimento do sistema.
O Allen Institute for Brain Science não pensou pequeno, começou logo pelo cérebro e por mapear a situação dos 20.000 genes de cada região dele. Gastarão 55 milhões de doletas até 2012. E nada de hipótese, teoria ou algo assim. Apenas coleta de dados. E é uma montanha de dados, bem maior que o seqüenciamento.
A idéia é coletar o máximo possível, sem tendências ou preconceitos. Analisar só depois de ter tudo na mão. Maneira interessante de trabalhar.

Oportunidades que o mapa abriria

Com este mapa na mão, pesquisadores poderiam unir áreas de pesquisa isoladas. Estudos de atividade de áreas cerebrais com ressonância magnética poderiam ser comparados com estudos de genética, ajudando por exemplo no estudo do autismo, que tem forte característica genética.
Outra frente legal do trabalho é no desenvolvimento do cérebro, usando camundongos em diferentes idades, esclarecendo assim como um órgão tão complexo se desenvolve.
O mapa do camundongo já está disponível, e é uma ferramenta que já vem sendo usada por pesquisadores no mundo inteiro, já que os dados são públicos.
O que é “normal”
Mas existem algumas preocupações. O projeto com humanos usará 15 indivíduos. Mas e se as diferenças entre os indivíduos for tão grande que seja impossível comparar e montar um consenso? Estes cérebros podem vir de fumantes, alcoólatras, pacientes psiquiátricos, ou seja, fatores que podem mudar a expressão dos genes. Assim, como considerar o que é um cérebro “normal”?
Além disto, analisar tão de perto pode ser como olhar uma pintura impressionista. Quando muito próximos não se identifica nada. Só com uns passos para trás que se entende o que está representado no quadro. E se o nível de zoom do mapa cerebral estiver exagerado? Entenderemos alguma coisa do quadro de funcionamento do cérebro? Bem, é esperar pra ver.
Link
Leia a reportagem fantástica da WIRED sobre o tema

Abuso na infância altera o comportamento e o DNA

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Há muito tempo psicólogos sabem que fatos ocorridos na infância podem determinar comportamentos e doenças psicológicas na vida adulta. Dentre os mais fortes determinantes está o abuso sexual, que parece correlacionar fortemente com maior taxa de suicídio, depressão, ansiedade, entre outros problemas.

Mas qual é a biologia do trauma? O que muda no cérebro que faz as pessoas mudarem de comportamento?


Mais uma dica aparece com um estudo feito com cérebros de suicidas. Sim, no Canadá existe um banco de cérebros de suicidas, com o objetivo de estudar os porquês das pessoas quererem tirar as próprias vidas. Parece coisa de maluco, mas veja como foi útil.

Com este banco de cérebros bem catalogados, com as informações médicas e entrevistas com parentes, os pesquisadores puderam achar 12 cérebros de pessoas que haviam sido abusadas na infância para comparar com outros 12 que não haviam sido molestados.

Os cérebros de molestados tinham menos receptores de cortisol. Estes receptores retiram o cortisol (substância que controla a resposta ao estresse) circulando no cérebro que é liberado depois de uma situação de estresse, e pode prejudicar o funcionamento cerebral se continua circulando por muito tempo.

Está também no DNA
Mas o principal do estudo é que ele foi mais fundo na parte molecular. Sabendo já o que procurar, baseados em estudos com animais, olharam o gene que controla a produção do receptor, e perceberam que ele estava 40% menos ativo nos molestados. Isso graças a mudanças epigenéticas.

Epigenética é o assunto quente da biologia molecular dos próximos anos, fique atento. São mudanças na leitura do DNA, mas não são mutações, porque não alteram a sequência dos ATCG, só interferem em como o gene vai ser lido pela célula.

Parece que de alguma forma o evento de abuso aumentou o silenciamento epigenético do gene do receptor de cortisol. Alterando daí em diante a resposta ao estresse do indivíduo.

É o ambiente alterando diretamente o DNA da pessoa!
E estudos em animais mostram que esta alteração (que não é mutação) pode ser transmitida para os filhotes. Semelhanças com Lamarck não são meras coincidências: características adquiridas sendo transmitidas.

Por isso, psicólogos e psiquiatras não podem mais relegar as neurociências moleculares, como é feito com a genômica hoje em dia. Esta é criticada por ser pouco informativa, quando se descobre, por exemplo, que pessoas que tem uma cópia X de um gene têm 10% a mais de chance de desenvolver alguma doença psiquiátrica. Não há muito o que fazer com esta informação.

Mas a epigenética tem promessas muito interessantes. Se um evento ambiental alterou tão profundamente a fisiologia, isto abre uma oportunidade de terapias para reverter doenças, ou mesmo gerar remédios que ajam diretamente nas alterações epigenéticas.

Links:
The epigenetics of child abuse: Nature Reviews Neuroscience

New York Times
Agência Estado

Cientistas querem legalizar drogas para o cérebro.


“Legalize já” é o que clama um grupo de cientistas em uma carta publicada na Nature.
Drogas para melhorar a performance de seu cérebro. Já escrevi sobre isto neste blog ( Doping Cerebral, se o tema lhe interessa, recomendo fortemente que leia também).
(Digo drogas aqui como sinônimo de medicamentos)
Por quê legalizar? Alguns argumentos:
Muita gente já usa.
Os principais são os estimulantes Ritalin (metifenidato) e Adderall (um mix de anfetaminas), e são prescritas para pessoas com hiperatividade e defcit de atenção.
Em pessoas saudáveis, elas aumentam a atenção, foco, e a capacidade de manipulação de informação pela memória. Como 4 a 7% dos alunos das faculdades têm déficit de atenção, essas são as mais presentes nas universidades americanas. E parece que não há efeito colateral importante.
Ajudar o cérebro é coisa que já fazemos
A escrita e a internet são exemplos de artifícios que criamos para compensar e melhorar nossa capacidade mental. Mesmo um professor, simplesmente ao ensinar uma nova maneira de enxergar um problema, está melhorando o desempenho cerebral de seus alunos. Assim, as drogas de desempenho seriam apenas mais um artifício dentre os existentes. Diferente, mas nada muito novo.
Mas não é trapaça?
Usar no vestibular pra melhorar minha nota, não é trapaça? Não porque nada impede nas regras. Isso porque este assunto nunca foi discutido neste tipo de competição, ao contrário do que acontece no esporte. É preciso ajeitar as regras para essas competições intelectuais.
É natural?
Mas afinal, o que na nossa vida cotidiana pode ser considerado “natural”? Casas, carros, celulares, os próprios tratamentos de doenças utilizando remédios não são “naturais”, no senso comum desta palavra. Utilizar lembretes em papel, no celular ou tomando um remédio para memória, todas são formas de ajuda não-natural. Porque então demarcar uma linha arbitrária entre elas?
Podem virar drogas de abuso
Risco de vício e abuso sempre existe. Mas as drogas são julgadas e regulamentadas por seus possíveis riscos para o indivíduo e para a sociedade. Assim, temos desde as mais perigosas, como a heroina, até as relativamente seguras, como cafeina. Os medicamentos para melhora de performance devem ser também regulamentadas segundo sua segurança.
Essas drogas são seguras?
As drogas que já estão no mercado foram testadas em animais e humanos, provando serem seguras para uso médico. Claro que um remédio que ajuda a controlar demência, mesmo que tenha efeitos colaterais, tem beneficios que pesam mais que os efeitos adversos. O que não justifica de imediato o uso por pessoas saudáveis, com o objetivo de melhorar performance.
O efeito no desenvolvimento quando usado por crianças também é uma área que não é abordada nos testes de segurança, mas deve ser considerado e estudado.

Liberdade para não usar
Na escola ou no trabalho, sempre nos é exigido o máximo. Caso o uso de drogas para o estímulo de nossas capacidades seja liberado, teremos a opção de não usá-las? Afinal, empregadores, pais e escolas poderiam exigir o uso das drogas para aumento de performance. No exército já é regulamentada essa exigência, mas fora dele a coisa deve ser muito discutida. Mesmo porque a maior parte da exigência de uso será velada, estimulada silenciosamente pela competição no emprego ou estudo.
É justo usar?
Competições são justas? Pessoas com melhor educação têm maiores vantagens em qualquer concurso. Desnutrição na infância tem um efeito ruim na cognição das pessoas, trazendo desigualdade na capacidade de competir. As drogas seriam apenas um fator a mais neste sistema complexo.
Mas drogas com preços muito altos aumentariam a vantagem, já grande, entre ricos e pobres. Por isso, a liberação teria que vir junto com a igualdade ao acesso destes medicamentos.
Qual seria a política de legalização?
São sugeridas quatro temas principais:
Primeiro estimular a pesquisa. Quanto faz bem; quanto faz mal; estudantes aprenderão mais ou não; etc.
Segundo é criar um mecanismo de participação de organições de profissionais relevantes nas áreas envolvidas, como médicos, psicólogos, biólogos, educadores, recursos humanos. Estas organizações devem ser muito informadas e ter uma linha direta de contato com quem tem interesse em usar qualquer tratramento.
O terceiro seria educar o público sobre o tema. E o quarto o aparato legal para amparar estas políticas.
Essa é a opinião do pesquisadores publicada na Nature.
Minha singela opinião, caso interesse, é que educar o público, organizar a sociedade civil e legislar sobre o assunto, são coisas ainda muito distantes. Assuntos menos complexos e que vêm sendo discutidos a mais tempo ainda não estão nem perto desta utopia. Eu não esperaria nada de concreto por um bom tempo.
Mas devo concordar com a conclusão dos pesquisadores:

“As drogas estimuladoras de performance cognitiva podem ser bem ou mal usadas. Devemos aceitar com prazer novos métodos que melhorem nossa função cerebral.
Em um mundo em que a vida produtiva humana vem aumentando, estes estimuladores vão ser cada vez mais importantes para melhorar a qualidade de vida e melhorar a produtividade, contribuindo também para amenizar o processo natural de declínio cognitivo do envelhecimento.
Claro que seria tolice ignorar os problemas que estas drogas poderiam causar. Mas assim como com outras tecnologias, temos que trabalhar para maximizar os benefícios e minimizar seus problemas.”

Bônus: Como seu cérebro reage a gasolina e fósforo

Testes provam: melhor o não do que o talvez.


Jean-Paul Sartre já dizia que toda angústia do homem reside na dúvida. E não tem nenhuma angústia que eu tenha sentido ou visto os outros sentir, que conforme vamos chegando mais fundo não nos deparamos com ela.
Mas agora o titio Sartre tem DADOS para provar essa idéia!
Um pessoal no Canadá publicou um trabalho com indivíduos neuróticos que era o seguinte:
Um jogo (sempre esses joguinhos de psicólogos), onde um computador mostra uma imagem e a apaga rapidamente, e a pessoa tem que estimar o tempo para apertar um botão depois do tempo de 1 (um) segundo exato.
Ao apertar, o computador mostrava se a pessoa acertou, se errou, ou uma resposta incerta com uma interrogação.
Claro que estas pessoas estavam sendo monitoradas por eletroencefalograma, para ver a atividade do córtex cingulado anterior, relacionado ao monitoramento de erros e ansiedade, e regulando assim nossa resposta a mudanças no ambiente.
E o resultado foi claro, a reação desta área foi muito mais forte quando aparecia a resposta incerta. Mesmo em comparação com a resposta de que se errou. A ansiedade é maior quando não sabemos se acertamos ou erramos.
Parece que é melhor mesmo saber que a coisa está ruim do que ficar na angustiante dúvida.
Ponto para Sartre.
– Vi no ScienceDaily

Maconha boa para memória


Calma gente. Só funcionou em ratos e em pouca quantidade. Nada de usar como desculpa esfarrapada.
O trabalho foi apresentado pelo pesquisador Yannick Marchalant no congresso da Society for Neuroscience.
Uma substância ativa parecida com a da maconha, o THC, em doses controladas, diminuiu a inflamação que causa Alzheimer, e estimulou a produção de proteínas ligadas à memória.
Cuidado com a auto-medicação. Vai fumar? Consulte seu psiquiatra.
Vi na Wired

Salve a macacada alemã!

Pesquisador e pesquisado em Bremen
Pesquisador e pesquisado em Bremen

Olha a briga. A pesquisa com animais na Alemanha é permitida, mas a cidade de Bremen decidiu que os pesquisadores locais não façam mais seus experimentos em primatas. O pesquisador local, o neurocientista Andreas Kreiter, usa 24 macacos para estudar processos cognitivos. Ele grava a atividade de meuronios no cérebro dos macacos enquanto eestes realizam comportamentos específicos. Isso não pode ser feito em outros animais como camundongos, e é necessário que se utilize eletrodos dentro do crânio dos animais.

Que sempre tem gente querendo proibir esse tipo de pesquisa não é novidade. O que se estranha é que de uma hora para outra se mudem os valores morais e legais. Afinal uma comissão julgadora formada por cientistas e representantes de organizações de bem-estar animal analisou a pesquisa, e deram parecer favorável, dizendo que a pesquisa é cientificamente importante e que estava de acordo com as leis de proteção animal.
E agora o governo da cidade quer proibir a pesquisa dizendo que ela não vai ter resultados relevantes ou em tempo curto e que maltrata os animais. Simplesmente o oposto que disse a comissão ética.

O que mudou? A pesquisa, a ética, ou a prefeitura de Bremen que agora é comandada por uma coalizão social democrata + “Partido Verde” alemão?

Vi na Nature

150 anos depois, a Igreja Católica aceita Teoria da Seleção Natural de Charles Darwin.


Um grande amigo meu, o Gabriel, me pediu para postar este texto seu. Ele tem mais o que fazer do que manter um blog, por isso publica aqui no meu. sendo assim, o que está escrito é responsabilidade dele, mesmo que eu concorde com o que ele fala.

Demorou, mas, depois de um século e meio de espera por parte da comunidade científica, o conjunto de idéias que revolucionou as Ciências Biológicas foi finalmente reconhecido oficialmente pela Igreja Católica, como foi declarado pelo arcebispo Gianfranco Ravasi (Ministro da Cultura do Vaticano), ao anunciar uma conferência de cientistas, teólogos e filósofos que acontecerá em Roma em março de 2009, marcando os 150 anos da publicação da obra “A Origem das Espécies” de Darwin.
Essa notícia vinculada na Reuters e de lá “transmitida” por todos os portais de notícias, apesar de nova, contém pouco de “novidade”, uma vez que é pelo menos a terceira vez que um membro do alto escalão da Santa Sé se manifesta em favor dos pensamentos de Darwin. Em 1950, Pio XII havia descrito o processo de evolução como “uma abordagem válida do desenvolvimento humano”, e João Paulo II, em 1996, fez a mesma observação.
Mas o que muda com essa constatação, REALMENTE? A meu ver, praticamente nada, e explicarei o porquê.
Muda alguma coisa?
A Igreja Católica sempre recorreu à interpretação do Gênesis, texto bíblico que descreve a criação do nosso mundo, por Deus, em 6 dias (e não 7, como é dito de praxe, visto que o sétimo Ele tirou “de folga”), para explicar as origens da vida. Enquanto isso, Igrejas Protestantes preferem fazer uma leitura literal desta obra, o que leva ao grande número de protestos (sem trocadilho) em relação ao ensino da evolução nas aulas de Biologia em colégios públicos, principalmente nos EUA, onde as pressões de caráter religioso sempre exerceram grande influência, como pode ser visto atualmente, ao se acompanhar as campanhas dos candidatos à presidência.
Tá, e daí?
E daí que, com o passar do tempo e com a maturidade atingida pelo processo científico, para apoiar tais crenças, as Igrejas adotaram uma corrente de pensamento disfarçada de Ciência denominada Criacionismo, que os mesmo acreditam ser a resposta “científica” do Gênesis às teorias propostas por Darwin para definir inicialmente o processo evolutivo como o conhecemos hoje.

Digo “inicialmente”, porque ainda não havia compreensão alguma sobre Biologia Molecular e Genética quando destas proposições. A teoria evolutiva predominante no mundo atual trata justamente das idéias de Darwin (Darwinismo) associadas ao conhecimento acumulado em relação aos tópicos citados na frase anterior, sendo conhecida como Neodarwinismo.
Agora chegamos aos problemas. É óbvio que estas duas correntes de pensamento, o Criacionismo e o Neodarwinismo, têm poucas chances de coexistência pacífica, visto que são conflitantes em seu conteúdo. O Neodarwinismo foi elaborado com base em décadas e séculos de conhecimento científico, sendo que conta com diversas evidências que só podem ser colocadas à prova por alguém de idoneidade dúbia. Enquanto isso, o Criacionismo tem… bom, o Criacionismo tem a Bíblia… E a “evidência” é basicamente essa.
É de se estranhar que duas frentes de pensamento tão distintas possam tratar da mesma coisa, apesar de o papa atual, Bento XVI, ter afirmado em Agosto de 2007 que o debate entre criacionismo e evolucionismo – o nome mais usual dado ao neodarwinismo – “é um absurdo”, destacando que a teoria da evolução (científica) pode coexistir com a fé (não científica).
A explicação: “Esta oposição é um absurdo porque por um lado há muitos testes científicos a favor da evolução, mas por outro lado esta teoria não responde a grande pergunta filosófica “De onde vem tudo?”, com a qual se entende a ação de Deus”.
Enquanto isso, João Paulo II já havia dito que “a teoria da evolução é mais do que uma hipótese”; isto é, tem bases científicas. Ao contrário do que acontece com o criacionismo.
Para explicar o problema com tais afirmações e anúncios, transcrevo parte de um texto colocado pelo Prof. Felipe Aquino em seu blog de doutrina católica:
O caminho do meio não é uma opção
” … como vemos com este pronunciamento de Bento XVI, a Igreja Católica e o Magistério dos Papas não excluem a teoria evolucionista, desde que o início do processo evolutivo tenha tido origem partindo de Deus… Assim, a hipótese darwinista da evolução das espécies, é uma possível explicação ao lado do criacionismo que, também, tem a seu favor fortes razões filosóficas e não apenas religiosas ou bíblicas”.

Isso seria possível? Quando, de acordo com o mérito científico, poderíamos associar as duas teorias, sendo que uma possui embasamento estritamente “metafísico”, visto que não há (e quanto a isto não há discussão) prova alguma em favor do Criacionismo além da fé?
A resposta para a primeira pergunta é “não”. E a resposta para a segunda pergunta, num mundo em que a Ciência se desvencilhou dos dogmas espirituais e atingiu sua independência de pensamento e trabalho, é “nunca”.

Para mais sobre o assunto no Lablog:
Chi vó non pó
Idéias Cretinas

Índios organizaram cidades, desmataram e também publicaram na Science!

Mas espere aí, índio que constrói cidade ainda é índio? Se formos considerar indígenas como etnia ou população a resposta é sim. Mas eu nem sei por que estou falando disso.
Bom, o fato relevante do post é este que segue (da Folha):

Um artigo publicado hoje no periódico “Science” sustenta que, entre os anos 1200 e 1600, a sociedade xinguana desenvolveu um tipo de urbanismo pré-histórico, comparável a algumas “pôleis” gregas.
“Falar em urbanismo tem um caráter provocador”, admite o antropólogo Carlos Fausto, do Museu Nacional. Ele é um dos líderes da pesquisa, ao lado da lingüista Bruna Franchetto, da mesma instituição, e do arqueólogo americano Michael Heckenberger, da Universidade da Flórida. “Não era, claro, como a Mesopotâmia, mas existe uma sistemática, como se houvesse uma planificação”, continua. “Não são aldeias perdidas na floresta.

Fato curioso 1: neste trabalho da Science, o chefe Afukaká Kuikuro dos cuicuros, tribo que ajudou no trabalho de campo, entrou como autor do artigo. Seria o primeiro índio a publicar numa revista deste gabarito?
Fato curioso 2: a amazônia “intocada” de nossos ancestrais na verdade é mata secundária (que cresce depois de ser cortada) nessa região da cidade indígena. Afinal, aglomerados com 100.000 humanos demandam espaço. Ou seja, quando precisa, índio corta árvore sim. Alguém teria coragem de os recriminar?
Fato curioso 3: Acabamos percebendo desta forma que os índios somos “nozes”, quer dizer,  como nós. E todo antropólogo vai dizer “eu já sabia”. Mas as pessoas em geral relutam inconscientemente em entender este fato: de que a raça humana é uma só; as diferenças entre as populações são mínimas.
Portanto não devemos nos espantar ao descobrir “cidades” feitas por índios, pirâmides antiqüíssimas ou barbáries ainda em tempos modernos. Tudo isto tem sido feito pela mesma jovem espécie, o Homo sapiens, que em 200.000 anos vem usando o mesmo crânio, comportanto o mesmo cérebro, com as mesmas capacidades, possibilidades e limitações.

Fique sabendo das últimas da Nature e Science

Aproveitando a ida ao ar da nova página do RNAm aqui no Lablogs, iniciarei uma nova seção dentro deste blog que vos fala: “Deu na Nature/ Science”. Sempre que eu receber a Nature ou a Science vou citar os seus destaques, ou seja, o que chamar a MINHA atenção (desculpe quem quer saber sobre dinâmica de fluidos ou metais leves em Marte, estes temas dificilmente serão abordados). Provavelmente um ou outro artigo será discutido posteriormente caso você peça ou eu me sinta capaz de aprofundar.

Muita coisa será simplesmente traduzida, o que eu imagino que já seja uma ajuda para quem não sabe inglês (aliás, nessa altura do campeonato esqueça o inglês e parta logo para o mandarim da China).

Lembre-se que alguns links de artigos podem não abrir por serem restritos a quem paga a assinatura das revistas. Faço minha parte divulgando o conteúdo possível já que você, contribuinte, está pagando a assinatura da USP que estou usando.

Portanto, prepare-se para ficar sabendo sempre o que está rolando de mais novo na ciência mundial!

Nature 14 de agosto 2008

Capa – A produção de energia elétrica é responsável por grande parte das emissões de dióxido de carbono. Mas existem tecnologias para produzir eletricidade sem carbono, como hidroelétricas, marítimas (marés e ondas), nuclear e solar. A equipe de reportagem da Nature tenta responder quanto de energia livre de carbono poderíamos produzir, e se é viável em comparação com o sistema atual de produção. Um guia bem direto, para cada tipo de energia uma análise com custo, capacidade, vantagens, desvantagens e um veredito.

Editorial

Reportagem

Programa de pesquisa ambiental fechado Paralelamente à reportagem de capa, preocupada com as mudanças climáticas, vem a notícia que um programa de estudos climáticos de uma das maiores instituições dos EUA, fechou suas portas. Mas só a parte de ciências políticas, que tinha por objetivo preparar países pobres para mudanças climáticas. Estariam as ciências sociais sendo postas de lado no debate sobre o clima?

Quatro rodas, bom? – Numa brincadeira com o clássico “Revolução dos bichos” (“quatro patas, bom”), este texto trás alternativas para os carros se manterem na estrada, como carros híbridos (elétrico + combustível).

Caso antraz dá força a nova área de pesquisa forense – O ataque com a bactéria antraz em 2001 e o suicídio de um dos suspeitos destes ataques (já comentado aqui no RNAm), gerou um novo campo de investigação forense (ou seja, criminal), que é o rastreamento de microorganismos. Estes estudos, usando seqüenciamentos do genoma, e assinaturas moleculares de proteínas e carboidratos que levaram ao suspeito. Novos ataques ou surtos de doenças podem ser rastreadas agora com mais facilidade.

Autismo: ligações familiares O autismo é uma síndrome do neurodesenvolvimento que possui um forte fator genético. O estudo de filhos autistas de pais que são primos pode ajudar a entender a genética desta síndrome.

Genômica e biocombustíveis – Informações sobre genomas de vários organismos do planeta podem ser importantes para descobrir plantações com maior potencial energético ou microrganismos com maior capacidade de quebrar biomassa de celulose e fornecer biocombustível.

A genialidade da mulher-melancia. Só se aquilo tudo for omega-3


Depois das dicas para melhorar desempenho cognitivo, do leite materno e do chá verde, uma nova informação interessante neste campo: Omega-3 deixa meninas mais espertinhas.
Segundo notícia da Science, numa mega-pesquisa sobre nutrição e saúde feita nos EUA, com 4000 garotos e garotas entre 6 e 16 anos, os pesquisadores perceberam que meninas com mesma idade, classe social, etnia e resultados em testes de sangue equivalentes, mas que consumiam mais Omega-3, obtinham melhores resultados em testes cognitivos, inclusive de QI. Em meninos também ocorre um aumento, mas num nível duas vezes menor.
Essa importância do Omega-3 não é nova. Outros estudos já descobriram que a falta desta substância está associada a aumento na agressividade, depressão, suicídio e transtorno bipolar. Isto porque os neurônios utilizam ácido-graxos (que formam as gorduras, como o Omega-3) para formar seus axônios.
Mas agora pasme! O Omega-3 se concentra mais na gordura que se localiza no quadril, e o Omega-6 na cintura. Percebeu-se que mulheres com mais quadril e menos cintura têm melhor desempenho em testes cognitivos, assim como os seus filhos.
Um outro estudo mostrou que os homens preferem as mulheres com mais quadril que cintura ( o teste era simples, mostrando para homens siluetas de mulher com diferentes tamanhos de cinturas e quadris), numa proporção quadril x cintura de 0,7. Comparando esta relação cintura x quadril preferida pelos homens, o estudo, usando dados de clínicas de fertilização, constatou que as mulheres com esta relação 0,7 de medidas eram as mais férteis. Ou seja, corpo de violão é sinal de fertilidade, e os homens que preferem este tipo de mulher teriam maior sucesso reprodutivo, e seria por isso que esta relação 0,7 lota as capas de playboys e concursos de beleza.

Chegamos assim a uma conclusão esdrúxula: as mulheres capas de Playboy, misses e dançarinas de palco do Faustão, seriam as mais inteligentes dentre as mulheres!
Concordemos que isto foge do senso comum. Talvez porque o Omega-3 só é responsável por determinar 1% da diferença de inteligência. Fatores genéticos e educação influenciam muito mais.
Mesmo assim não podemos duvidar da inteligência destas mulheres-melancia, pois se formos ver quem ganha mais, uma capa de Playboy ou uma aluna de pós-graduação, talvez percebamos a “genialidade” que reside nos corpinhos de violão.