Burocracia na pesquisa científica gerando empregos

Bureaucracy by ItsK
Bureaucracy by ItsK

A pesquisadora Lygia Pereira da Veiga desabafou bonito no facebook:

E querem saber? EU NÃO AGUENTO MAIS!!!! ANVISA, DEIXE EU FAZER MINHA PESQUISA!!!

Células-tronco congeladas em gelo seco, enviadas para uma colaboração com Harvard (eu disse HARVARD!!!) estão há 10 dias no aeroporto, paradas pela ANVISA, que só falta pedir um documento com o nome de solteira da mãe pra liberar o material. Pô, é muito difícil fazer um cadastro de pesquisadores e facilitar a entrada para eles?

É como ela disse: rola uma pressão absurda do governo e da sociedade para o Brasil melhorar a produção científica e inovação. Mas como fazer isso se quem está afim de fazer só toma porrada por falta de estrutura no país?

É isso mesmo Lygia, tem que rodar a baiana! Enquanto o projeto de lei do Romário para facilitar a importação de insumos pra pesquisa não sai, vamos ficar nesse limbo da ciência, fazer o quê?

Mas veja pelo lado positivo: uma das exigências da anvisa é essa:

“Obs: Orientamos ao preencher a declaração, evitar termos muito técnicos ou nomes de difícil entendimento para facilitar a compreensão.”

Opa, olha aí uma oportunidade para os pós-graduandos formados sem emprego: tradutor de termos técnicos científicos para burocratas aduaneiros!

Pois é, para fazer ciência no Brasil você tem que considerar que o copo está metade cheio.

A valorização do pós-graduando importa?

*** Esse texto faz parte da blogagem coletiva “Qual é o valor do aluno de pós-graduação stricto sensu?” lançada pelo site Pós-Graduando ***

Quando recebi o convite dessa ação, comecei me informando sobre seus objetivos e aproveitei para conhecer a opinião dos autores que já haviam contribuído. E não é que foi exatamente da leitura desses textos que nasceu o meu? Explico.

Constante nos textos foi uma frase que todo estudante de mestrado e doutorado, após alguns momentos de quase surto, se acostuma a ouvir quase com indiferença: “mas você só estuda?”.

Essa indiferença pode ser adquirida de maneiras bem diferentes. Tem gente que desenvolve surdez seletiva, que aprende como um mestre a evitar essa discussão… No meu caso, entendi que quase ninguém que faz essa pergunta tem ideia do que são, como funcionam e quais são os propósitos de um mestrado ou doutorado na área de ciências.

Só que isso vai ser assunto para outro texto e vou aproveitar a oportunidade para escrever não sobre o pós-graduando, mas sobre o Brasil. E para isso vou adicionar à discussão outro ser incompreendido desse país: o professor. E ele tem que se acostumar às suas próprias frases cruéis, como “professor, você só dá aula?” e a campeã “quem não sabe fazer, ensina!”.

[abre parênteses] Imagina quando eu estava ao mesmo tempo na pós e dando aula? [fecha parênteses]

Essas frases, para mim, refletem um único problema: educação. Mais precisamente a importância (ou falta de) dada à Educação, o que tem impacto direto na importância dada à Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI). E essas concepções sobre pós-graduandos e professores são, em grande parte, subproduto da visão do estado brasileiro sobre o tema.

Tenham certeza: a falta de seriedade com que professores e pós-graduandos são encarados em nosso país resulta do descaso brasileiro – governo e cidadão – para com educação.

Não tá fácil prá ninguém... mas tem jeito.

Verdade seja dita, parte desse problema não é exclusividade nossa. Mesmo um país superdesenvolvido científica e tecnologicamente como os EUA têm problemas com a valorização de professores, e os alunos de pós são muitas vezes considerados subempregados. Duvida? Acesse os quadrinhos de Jorge Cham no PHD Comics e veja o cotidiano acadêmico retratado por lá. O conteúdo das tirinhas é humorístico, mas baseado na própria experiência acadêmica do autor. Também é muito comum ele elaborar seus desenhos de sugestões de undergrads e grad students norte-americanos.

Assim, o que esperar de um país que, verdade seja dita, ainda engatinha em direção ao time de “primeiro mundo” da Educação e CTI?

Felizmente isso não é um problema mundial. Na Holanda, por exemplo, grande parte de quem se dispõe a fazer um doutorado assina contrato de emprego e é um trabalhador como outro qualquer. Mesmo nos EUA, que têm problemas parecidos com os nossos, quem se dispõe a tocar um pós-doutorado faz isso como empregado (ao contrário do que acontece no Brasil, onde novamente o sustento é proveniente de bolsas).

Por essas e outras continuo, como um zumbi, recitando o “mantra da resolução dos problemas no Brasil”: educação, educação, educação. Investir com seriedade, paciência e competência em Educação Fundamental e Média formará cidadãos melhores e conscientes da necessidade de se investir em CTI.

Isso é um processo, não adianta investir um quadrilhão de dólares em CTI se a tal mão de obra qualificada for analfabeta funcional ou incapaz de pensar criticamente. Esse é o motivo de o investimento na formação de cidadãos ser mais importante do que gastar tubos de dinheiro com alta tecnologia. Como diz uma expressão em Inglês, quando entendermos isso e passarmos à ação, the rest follows.

E daí não será necessário realizar mobilizações sobre a importância do pós-graduando ou sobre o reajuste de bolsas… e sinceramente? Se você está passando por todo o estresse de um mestrado e/ou doutorado, da rotina (falta de rotina?) difícil, muitas vezes extenuante e comprometedora, e ainda fica chateadinho quando alguém tenta desqualificar sua escolha acadêmica, siga o conselho abaixo:

"Fique tranquilo, trabalhe muito e pare de mimimi". Sério.

Quer ver o início desse movimento e ler os textos dos outros participantes? Acesse o link do Pós-Graduando em http://www.posgraduando.com/pos-graduacao/qual-e-o-valor-do-aluno-de-pos-graduacao-stricto-sensu.

Filosofia de laboratório.

Modelo tridimensional da estrutura do DNA.

Dia normal no laboratório. Vi que alguns alunos estavam preparando um gel para SDS-PAGE e perguntei se estava tudo OK. Responderam que “sim”, só estavam esperando o gel polimerizar por causa de uma receita que levava bem menos TEMED do que estamos habituados a fazer. Dito isso, comentei:

“Se vocês estiverem com pressa podem por um pouco mais. Só tomem cuidado para o gel não polimerizar antes de vocês o colocarem na forma. Outro dia mesmo fiquei pensando no sentido da vida ou sei lá o que e quando percebi, o gel tinha polimerizado e precisei refazer tudo…”

Eu mal terminei de falar isso e a resposta veio na lata:

“Ah, na dúvida é sempre 5´ -> 3´ !”

Isso que dá ficar muito tempo num laboratório de biologia molecular…

 

PS: não entendeu? Que tal lembrar da estrutura do DNA e de sua replicação na figura abaixo?

Sentido das fitas de DNA (esquerda) e um modelo de sua forquilha de replicação (direita).

PPS: “o sentido da vida” já foi descoberto faz muito tempo!

Imagens:

Getty Images (royalty-free) / WikiCiências / Wikipedia

Carnaval acadêmico 2012 e a Unidos da Pós-graduação!

Não resisti e fotografei o resultado de 5 pessoas – contanto este que vos fala, claro – trabalhando direto no laboratório durante o carnaval. As fotos foram tiradas no final da tarde da 4ª-feira de cinzas.

Bancada? Onde?
Alguém aí viu o NaCl? Não encontrei no armário!
Difícil deixar arrumado precisando correr vários SDS-PAGE em sequência...
Quando acabam as ponteiras começa o "momento zen": encher caixinhas!
"Ei, como é que tá a apuração das escolas de samba?" "Sei lá, meu, perdi minha calculadora, ajuda aqui!"

Esses são só alguns flashes que mostram o resultado final de ficar no laboratório tantos dias seguidos. Cansa, mas compensa pela rapidez em se conseguir resolver experimentos pendentes.

Claro que depois limpamos e arrumamos tudo, senão a chefe mata a gente. Ela é compreensiva com a zona, mas tudo tem limite… De qualquer modo, é muito bom quando o laboratório entra no modo “produção agressiva como se não houvesse amanhã”.

Ah, e prá constar, o clima não esfriou depois que acabaram os feriados. Preparei esse post rapidinho no sábado enquanto esterilizava a sala de cultura de células.

Acho que vou trocar a placa de “Biologia Molecular” do meu laboratório por um pôster de “Onde os fracos não têm vez”. Combina.

 

Burocracia eterna das trevas.

Todo mundo imagina – corretamente – que laboratórios de pesquisa sejam recheados de equipamentos caros, complexos e quase mágicos. Em quase 100% dos casos isso é verdade e implica outra característica: são importados.

Daí, além de toda a complicação para se conseguir o dinheiro da compra, a importação e o recebimento da dita cuja, temos a mãe de todo o Mal: a Burocracia (sim, maiúscula pois essa entidade já está no próximo Deuses Americanos do tio Gaiman). A Dona Burocra (apelido carinhoso dado por um grande amigo e adotado por muitos com quem trabalho) faz de tudo para te pegar. Seja falta de espaço no laboratório, briga entre departamentos para decidir quem vai “sediar” a novidade, entraves de patrimoniamento institucional etc. Podem escolher à vontade que o cardápio é extenso.

Assim, uma visão comum são caixas lacradas – às vezes bem grandes – que ficam meses – sim, MESES – encostadas em salas, no corredor, na garagem, no estoque. Uma beleza.

No corredor de entrada do laboratório em que trabalho existe uma dessas caixas. Francamente, acho até que alguém decidiu que ela funciona melhor como peça de decoração e que deixá-la como está é uma boa ideia. Vejam a dita cuja:

Caixa decorativa para corredores: encomende a sua! (Foto: arquivo pessoal)

A seta vermelha mostra um detalhe novo que me chamou a atenção faz alguns dias. Alguém muito espirituoso achou o formato da caixa sugestivo e resolveu “plantar” uma piada para quem gosta de cinema.  Vejam a criatividade do sujeito:

Um pouco mais perto... essa imagem lembra alguém, não lembra? (Foto: arquivo pessoal)

E, finalmente, a surpresa. Sério, eu morri de rir quando vi isso pela primeira vez e todo dia chegando ao laboratório eu dou um pelo menos um risinho:

Tem coisas que só instituições públicas de pesquisa podem fazer por você... Contemplem O SENHOR DAS TREVAS! (Foto: arquivo pessoal)

Piadas à parte, me peguei pensando… Imagina se durante aquele experimento maldito que me obriga a virar a noite no laboratório eu ouço:

Listen to them. Children of the night. What music they make…

Eu hein… credo =/

 

PS: não entendeu a referência? Clica aqui malandro -> http://www.imdb.com/title/tt0021814/quotes

The biology book is on the table: biólogos virando professores de inglês

A física do “the book is on the table”

Post patrocinado: Cursos Gratuitos

Minha mulher voltou a fazer aulas de inglês para desenferrujar, e as aulas são num sistema particular em que você marca quando pode e a empresa indica um professor para este horário. Assim cada dia você pode ter aula com um professor diferente. No primeiro dia ela volta e diz que o professor dela era da Inglaterra e fez biologia por lá. Legal. No segundo dia de aula ela volta e diz que a aula foi boa, a professora era simpática e, surpresa, é BIÓLOGA também!

Ah, espera um pouco! Como biólogo eu fiquei espantado. Isso é acaso ou os biólogos não estão achando mercado mesmo? Fiquei preocupado, pois dos meus colegas a grande maioria está na área acadêmica, fazendo mestrado e doutorado (e pós-doutorado, pra me lembrar como estou ficando velho), ou dando aulas nos mais diversos níveis, ensino fundamental, médio, superior, particulares ou públicas e até mesmo na indústria.

Não estou desmerecendo quem dá aula  de inglês, e sei que emprego não tá fácil, mas quem faz biologia não sonha em se formar para dar aula de línguas, concorda?

Pode ser que o problema não seja só o mercado, mas sim o erro ao escolher a profissão. Sempre achei muito temeroso forçar as pessoas a decidir suas carreiras aos 17 anos. Na minha utopia seria assim: todo aluno formado no ensino médio teria que fazer 2 anos de um curso profissionalizante, com estágio e tudo. Só depois disso eles teriam autorização para prestar um vestibular. Isso ajudaria a definir com mais segurança quem quer seguir a carreira acadêmica e quem quer já entrar no mercado.

Sei também que existem os períodos de dúvida e transição em que a gente fica desempregado, sem bolsa, ou cansado dessa vida de professor ou pósgraduação, mas uma opção que muitos amigos próximos tem feito é de dar aulas particulares ou oferecer cursos. E dá para arrumar uma aula de biologia, mas o que o pessoal realmente precisa é química, física e matemática, que os biólogos tiram de letra também, certo? [diga que sim, não me envergonhe agora, ok?]. Então anuncie seu curso, ou escolha um curso pra melhorar seu currículo. Aqui vai uma dica: Cursos gratuitos

Por dentro da SBBq 2011!

Semana passada avisei que estava prestes a viajar para a 40ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq), e que ao voltar compartilharia pontos interessantes do evento.

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Antes, no entanto, acho válido situar os leitores que não sabem exatamente o que são esses congressos, o que acontece nos mesmos e porque eles são importantes. 
O que são?
Os congressos são reuniões/encontros de entidades de classe ou associações para a apresentação de conferências, e podem ser científicos ou técnicos. Geralmente essas reuniões recebem os membros de uma Sociedade (que pode ser de Bioquímica, Genética, Microscopia etc.), os alunos (orientados) destes membros, pesquisadores convidados e expositores de produtos/serviços relacionados ao tema central.
O que acontece nessas reuniões e qual a sua importância?
De modo geral a programação do evento envolve palestras, simpósios, cursos e apresentações de trabalhos. Essas apresentações podem ser na forma impressa (com poster) ou oral, dependendo da ocasião. No caso da SBBq, a programação científica foi dividida da seguinte forma:
  • Conferências: um único convidado discorre sobre sua especialidade (ou linha de pesquisa, ou achados recentes etc.), geralmente com maior duração do que as palestras combinadas nos simpósios (ver próximo item). Esses espaços costumam ser destinados aos pesquisadores/convidados de “maior destaque”.
  • Simpósios: reunião com um tema geral em que três ou quatro convidados especialistas na área ministram palestras curtas (em torno de meia hora). São interessantes pois a diversidade de palestrantes sempre gera discussões boas, além do acesso a especialistas que muitas vezes seriam de difícil contato (por questões geográficas, por exemplo; pode-se conversar de uma vez com especialistas da sua área que sejam do seu estado, de estados longes do seu ou de fora do país). 
  • Poster1.jpgApresentações de trabalhos: nesse momento ocorrem as exposições dos trabalhos enviados pelos congressistas. Salões de exposição são montados e normalmente as apresentações acontecem em mais de um dia, organizados de acordo com as áreas abordadas (por exemplo: um dia para bioquímica celular, educação em bioquímica e glicobiologia, e outro dia para biologia molecular de procariotos, de eucariotos e assim por diante.). No momento de exposição os autores devem ficar junto a seus trabalhos para serem avaliados pela comissão e/ou responderem e explicarem seus resultados a outros congressistas interessados.

No final das contas, sou da opinião que a participação em congressos é importante para termos contato mais próximo a pesquisadores que normalmente seriam menos acessíveis e para conversarmos em geral com outros participantes sobre trabalhos relacionados (ou concorrentes), futuras colaborações ou mesmo assuntos que não estejam relacionados ao nosso dia a dia, mas despertem nosso interesse.

Poster2.jpg
Salão de exposição lotado durante a apresentação de trabalhos.

E as minhas impressões?
Foi consenso que a reunião estava mais “vazia” em relação a edições anteriores. Talvez isso seja reflexo de o evento ser realizado em uma cidade turística (no caso, Foz do Iguaçu e suas cataratas de cair o queixo) e de a grande maioria dos participantes serem estudantes bem novinhos mais preocupados com a viagem do que com o a programação científica do evento. 
Conversei com muita gente que reparou que existia muito movimento para conhecer Foz, o Paraguai e tudo o mais, enquanto algumas palestras ficaram bom pouco público e poucas perguntas e discussão. Justamente o que julgo mais importante nessa situação. Lembro que em 2007, quando a SBBq foi em Salvador e contava com aproximadamente três mil inscritos isso também aconteceu em alguns momentos.
Cataratas1.jpg

OK, OK, esse cenário não ajuda a acompanhar as palestras… mas dá prá conciliar melhor, né pessoal?!

De qualquer modo, gostaria de parabenizar a cúpula da SBBq por organizar o Simpósio em Educação. Para mim foi o ponto alto do evento, os palestrantes foram ótimos, os tópicos relevantes, a discussão excelente e as conversas que tive com os palestrantes e alguns congressistas, igualmente produtivas. Não vou me alongar nesse ponto agora pois esse material está sendo elaborado em separado e será publicado em breve.
Também tive a oportunidade de encontrar com os “marinheiros de primeira viagem” em congressos científicos e no geral tive conversas muito boas, vocês verão mais sobre esses personagens nos próximos posts.
Noves fora, o congresso, apesar de um pouco diluído devido a sua abrangência foi muito produtivo tanto para o meu Doutorado quanto para os blogs. Aliando esse fato à beleza das Cataratas e da Argentina (que visitei em minha última noite para um excelente jantar com a minha mulher), a viagem teve saldo muito positivo.
Que venham outras!

O primeiro congresso a gente nunca esquece…

Para começar gostaria de pedir desculpas pela falta de atualizações no blog. Ando com um bloqueio pesado, escrever está bem difícil mas vou fazer o possível para recuperar o ritmo nas atualizações do RNAm e do Ciensinando.

O motivo desse post é o seguinte: um dos passos obrigatórios para quem começa a trabalhar com ciência ainda na Graduação é a participação em congressos científicos. Essas reuniões reúnem especialistas, estudantes e professores da área representada no congresso, que assistem a palestras, participam de cursos, conversam muito entre si e apresentam parte de seus trabalhos de modo geralmente bastante descontraído.

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Poster_SBBq2011.jpg

Pensando nisso, resolvi aproveitar a minha participação no congresso da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (a SBBq) para mostrar como é um congresso de grande porte. Vocês verão o que acontece, conversarei com alguns palestrantes, professores e, se tudo der certo, com alguns participantes de primeira viagem.

Aliás, uma prévia do meu trabalho pode ser vista na imagem ao lado, clique para ampliar.

Quero encontrar gente que esteja participando pela primeira vez de uma reunião assim. A ideia é conversar sobre a experiência: expectativas, animação com as atividades e com a programação e, claro, os receios sobre apresentar pela primeira vez parte de seu trabalho de pesquisa.

Para ficar mais fácil, quem tiver interesse em conversar comigo pode me encontrar durante o período em que estarei apresentando meu trabalho.

Minha “poster session” está marcada para a segunda-feira, dia 02 de Maio, entre as 16h30 e as 18h30 no Expocenter III do Centro de Convenções do Hotel Rafain Palace, em Foz do Iguaçu – PR.

Espero vocês lá!

Bioinformática: o emprego do futuro.

Bioinformatics logo

Comecei a falar de bioinformática (bioinfo) no post passado, e continuarei falando dela aqui porque não só é uma ótima dica de carreira científica como é uma necessidade científica e social estimular essa carreira pela importância que ela tem e terá no futuro para ampliar nosso conhecimento.

Porque há tantos projetos?

Quando começamos na carreira científica geralmente é assumindo um projeto, de iniciação cinetífica, mestrado ou doutorado direto, e muitas pessoas podem parar por aí por não encontrarem um orientador com projetos que o interessem no momento. Em bioinfo isso não acontece pois os projetos surgem aos borbotões e nas mais diversas áreas, afinal a quantidade de dados que surge é imensa e sempre dá pra tirar algo novo de um banco de dados que já existe, onde a informação está lá, esperando para ser minerada, e novos dados estão sempre surgindo em velocidade cada vez maior, com os novos sequenciadores, por exemplo. Assim, projetos nunca faltarão, e as bolsas junto com eles.

Porque há tão pouca gente?

Esse é o maior gargalo da área: achar bioinformatas. Isso se explica por dois fatos principais: 1- biólogos não gostam de exatas e nem de programação; 2- computeiros até gostam de biologia, mas ganham muito mais em outras áreas como recem-fromados.

Assim, quem cobre esta área são na maioria físicos e matemáticos. Mas há sim computeiros e biólogos, claro, e estes se destacam bem se aprendem o outro lado da moeda bio/info.

O que preciso saber para ser bioinformata?

Hoje em dia, pelo desespero das instituições por bioinformatas, você não precisa de nada, só gostar de pelo menos duas dessas áreas e não chegar a odiar nenhuma delas: biologia, programação, estatística e matemática. Você terá um ano ou dois para aprender o que lhe faltar nessa equação tocando um projeto de mestrado. Mas as áreas de interesse são estas que eu mencionei. Claro que quanto mais preparado você estiver mais chances terá, por isso segue aqui a dica de onde encontrar cursos de especialização de interesse com nosso parceiro Educaedu Brasil.

Uma área nova e promissora

A bioinfo é nova no Brasil, estamos na segunda geração de bioinformatas se considerarmos que o projeto genoma da Xylela foi o que introduziu o Brasil na biologia molecular contemporânea criando a primeira geração de bioinformatas (direta ou indiretamente), tais como Emmanuel Dias-Neto, Helena Brentani, Sandro Souza, Anamaria Camargo e Paulo Oliveira. Esses são só os que eu conheço, mas olhar o lattes deles já pode dar uma idéia das possibilidades da carreira.

E sobram vagas de alto nível para pesquisadores nesta área. O Hospital AC Camargo e o INCOR, ambos hospitais fortes em pesquisa que perderam recentemente seus bioinformatas, têm dificuldade de encontrar alguém para esta posição.

Então meu filho, sente aí e aprenda a programar.

Super-Sequenciamentos de DNA e a lei de Moore

Dia 19 de abril é o aniversário da Lei de Moore que diz, segundo a Wikipedia “…[em 1965] o então presidente da Intel, Gordon E. Moore fez sua profecia, na qual o número de transistores dos chips teria um aumento de 100%, pelo mesmo custo, a cada período de 18 meses. Essa profecia tornou-se realidade e acabou ganhando o nome de Lei de Moore.”

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fig: A evolução dos precessadores e a lei de Moore

Uma profecia e tanto, porque é um ritmo frenético, concorda? Eu ainda lembro quando jogava Space Invaders no meu XT sei-lá-o-que na tela fósforo verde.

O engraçado é que, sem saber do aniversário, eu ouvi sobre a lei de Moore essa semana. Mais do que isso, ouvi sobre algo que anda mais rápido que a lei de Moore: a potência do sequenciamento de DNA.

O RNAm foi convidado para o lançamento da nova tecnologia de sequenciamento da Life Technologies, o Ion Torrent. Muito legal a tecnologia e parece que vai revolucionar a área de sequenciamento mesmo. Se você é da área entre no link caso se interesse, vale a pena (como não sou da área, não vou entrar em detalhes). Só vou dizer uma coisa: essa coisa consegue detectar a mudança de pH gerada pela liberação de hidrogênio quando uma base, A,T, C ou G se liga à fita a ser sequenciada!

Bom, neste evento foi citada a lei de Moore para compará-la com a evolução da tecnologia de sequenciamento. Veja aqui a comparação do custo de um genoma e o custo dos processadores:Sequencing graphs to slides

Isso muda muita coisa. Com sequenciamentos baratos e rápidos, áreas como a epidemiologia vão mudar, e já estão mudando muito. Técnicas como arrays irão aos poucos sumir, dando lugar ao todo-poderoso, direto e inequívoco sequenciamento.

E já tem muita gente no Brasil fazendo muita coisa com sequenciamento. Duas palestras muito interessantes: uma com o pessoal da bioinformática da FioCruz, o Cebio, que oferecem uma estrutura de análise e planejamento de sequenciamento e tem parcerias com vários pesquisadores e empresas; outra coisa interessante é a Rede Paraense de Genômica e Proteômica, da UFPA, um centro com muita estrutura e colaborações, isso tudo fora do sudeste.

Esses dois centros são muito importantes, sabe porque? Porque máquinas como o Ion Torrent estão deixando o sequenciamento cada vez mais fácil, mas o que fazer com aquele monte de letras ACTG? O funil do conhecimento nessa área é a análise, e por isso esse knowhow destes centros vale ouro. Bioinformática vale ouro. É emprego certo porque pouquíssima gente tem o conhecimento necessário (essa é a frase que eu mais ouço ultimamente em todas as áreas no Brasil). Também, precisa entender de biologia, matemática e programação, mas biólogos não suportam exatas, e exatos, bem, até gostam de bio, mas ganham muito mais em inicio de carreira em outras áreas do mercado de trabalho.

Então veremos o que fazer com as toneladas de dados gerados pelos simples, rápidos e baratos sequenciamentos.