File:Paris Tuileries Garden Facepalm statue.jpg
“Caïn venant de tuer son frère Abel”, estátua de Henri Vidal. Foto por Alex E. Proimos

Um dentre os vários riscos da atividade de comunicação pública de ciências é o de se cometer um erro ao informar o público. Tomando os devidos cuidados – como uma revisão antes da publicação – podemos diminuir as chances, mas elas nunca serão efetivamente zero.

Mas o que devemos fazer quando cometemos algum equívoco? Certamente corrigir a informação errônea o mais rapidamente possível. No entanto, há várias formas em que isso pode ser feito. Qual a melhor?

A ética da comunicação – que é também a adotada na comunicação científica inter e intrapares, quando um erro é detectado em um artigo de uma publicação científica – implica em se fazer uma errata com tanto destaque quanto a desinformação originalmente publicada.

Isso *vai* afetar negativamente a credibilidade na expertise (ao menos temporariamente) do(s) autor(es). No entanto, a admissão pública redunda em uma melhor avaliação da integridade do(s) autor(es) e benevolência pelo público.

Ao menos é o resultado obtido por estudo realizado por Hendriks e cols. (2016) com 90 alunos do ensino médio alemães. Os estudantes foram divididos em três grupos e todos leram um mesmo texto na forma de uma postagem de blogue a respeito de um medicamento. Para o primeiro grupo, não havia nenhum comentário abaixo da postagem; para o segundo grupo, abaixo da postagem, havia um comentário do autor admitindo um erro no texto; no último grupo, abaixo da postagem, havia um comentário crítico feito por terceiro apontando o erro no texto. Após a leitura, cada voluntário respondia a um formulário de vários itens avaliando o autor em escala de 1 (pior avaliação) a 7 (melhor avaliação). Os itens compunham três dimensões: expertise, integridade e benevolência. No grupo controle, as notas e os desvios padrões foram: 4,58±1,21 (expertise); 4,52±1,21 (integridade) e 3,95±1,10 (benevolência); no grupo da admissão:3,87±1,18; 5,48±0,86 e 4,57±1,11; no grupo da crítica: 4,03±1,03; 4,27±0,77 e 3,65±1,03.

Fora da área da comunicação pública de ciências, na relação médico-paciente, em casos de erros com consequências graves, um abordagem honesta, que demonstre empatia e que explique de forma clara (sem parecer somente pretextos) a ocorrência tende ser a melhor: ao menos os sujeitos experimentais apoiam menos sanções mais severas (Schwappach & Koeck 2004). O quanto isso é válido para o contexto da divulgação científica é discutível, mas pela analogia (envolvendo uma relação de troca de informações entre especialista e não-especialista com a intercorrência de uma falha), podemos adotar como padrão enquanto não há dados em contrário. E, uma vez que está de acordo com a ética comunicativa, mesmo na eventualidade de acúmulo de dados em contrário, seria um preço a se pagar.

Na correção, é importante também enfatizar a informação certa – evitando-se repetir o dado errôneo anterior – conforme discutimos na postagem “Refutando mitos: como evitar o ‘tiro pela culatra’ (V.2, N. 8, 2016)“.

Referências

Hendriks et al. 2016. Disclose your flaws! Admission positively affects the perceived trustworthiness of an expert science blogger. Studies in Communication Sciences 16(2): 124-131. https://doi.org/10.1016/j.scoms.2016.10.003

Schwappach, D.LB. & Koeck, C.M. 2004. What makes an error unacceptable? A factorial survey on the disclosure of medical errors. International Journal for Quality in Health Care 16(4): 317–326. https://doi.org/10.1093/intqhc/mzh058

2 respostas

  1. Gostei desse seu post e gostaria de sugerir um outro: gestão de crise de imagem. Observo como as universidades ainda carecem desse debate. Como você disse, quando um cientista precisa corrigir o erro, ele fica temporariamente com a credibilidade afetada. Em algumas situações, algumas carreiras são seriamente prejudicadas. É um tanto cruel.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *