Celebrando Nettie Stevens – a mulher que descobriu que os cromossomos X e Y determinam o sexo

Publicado por Marina Barreto Felisbino em

Essa semana, providencialmente, tive a oportunidade de “encontrar” com essa mulher cuja pesquisa foi tão revelante e, infelizmente, como tantas outras, ainda permanece esquecida por muitos de nós, mesmo na academia: Nettie Stevens.

Não nego que me incluo nesse grupo que não conhecia seu trabalho, mas escrever esse blog tem me dado esse presente incrível que é encontrar e conhecer tantas mulheres fantásticas pelo caminho, e, para isso, tento manter olhos e ouvidos bem atentos para seus sinais.

Participando de um conferência internacional de cromossomos, deparo-me  com sua foto e agora apresento um pouco de sua história.

O início

Nettie Stevens

Nettie Stevens

Nettie Stevens nasceu em 7 de julho de 1861, nos Estados Unidos pós guerra civil, quando estudar e ter uma profissão além das esperadas (secretária, professora, enfermeira) era algo raro para as mulheres. Entretanto, Stevens almejava ser cientista e não desistiu facilmente. Entre economias e dificuldades, conseguiu iniciar sua carreira como pesquisadora aos 39 anos no Bryn Mawr College.

Sua descoberta

Em pouco tempo, Stevens fez uma das maiores descobertas da genética. Em 1905, ela percebeu que o bicho-da-farinha ou tenébrio macho possuía um espermatozóide carregando um cromossomo X ou um cromossomo Y, já fêmeas possuem óvulos apenas com cromossomo X.

Dessa forma, fêmeas só poderiam passar para seus descendentes cromossomos X, enquanto machos poderiam passar tanto o X como o Y. Concluindo que o condicionamento biológico do sexo deveria ser baseado nos cromossomos, e os machos que seriam responsáveis por essa determinação. Na época, a teoria mais aceita era a de que o sexo seria determinado pela fêmea ou por fatores ambientes e, por isso, poucos prestaram atenção aos seus achados.

Edmund Beecher Wilson

Edmund Beecher Wilson

Pouco tempo depois, Edmund Beecher Wilson encontrou independentemente que as bases para determinação sexual seriam os cromossomos X e Y. Em sua publicação, ele reconhece as contribuições de Nettie Stevens que trabalhava no mesmo departamento.

Thomas Hunt Morgan

Thomas Hunt Morgan

Mais tarde Thomas Hunt Morgan, um geneticista bem mais conhecido, que trabalhava na mesma instituição, chegou às mesmas conclusões.  Nettie Stevens faleceu de câncer de mama aos 50 anos e, embora tenha sido relativamente reconhecida para uma mulher de sua época, nunca teve seu trabalho valorizado pela comunidade acadêmica e o público em geral quanto deveria.

Morgan inclusive escreveu um obituário para a revista Science em que diminuía seu trabalho, alegando que ela seria mais uma técnica de laboratório que, de fato, cientista. Em 1933, Morgan recebeu o prêmio Nobel pelo seu trabalho com cromossomos.

Somente muitos anos depois de produzido, o trabalho de Nettie foi reconhecido pela originalidade e riqueza de detalhes e, finalmente, exaltada sua grande contribuição para a ciência. Na ocasião dos 155 anos de seu nascimento, em 7 de julho de 2016, o Google fez um  doodle em sua homenagem.

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Nós também celebramos Nettie Stevens e hoje vimos um pouco a ciência pelos olhos dela!

Para quem tiver interesse em saber mais, aqui você encontra uma reportagem em inglês muito boa com alguns detalhes de sua história e reflexões sobre o sexismo na ciência.

— Você pode também se interessar em conhecer a história de outra cientista mulher: Rosalind Franklin


Marina Barreto Felisbino

Bióloga formada pela Unicamp em 2010 e doutora na área de Biologia Celular e Estrutural em 2016. Atualmente trabalho na Universidade do Colorado em Denver-USA, onde desenvolvo pesquisa de pós-doutorado. Apaixonada pela ciência, assim como pelo alcance das mulheres à equidade. Com o desejo que todos vejam a ciência pelos olhos delas.

2 comentários

Maiane · 14 de outubro de 2016 às 11:27

A sede por conhecimento deve ser saciada e Nettie é um exemplo de perseverança e desejo de tornar seus sonhos realidade. A ciência é um sonho para o despertar!

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