Jane Goodall – a mulher que nos aproximou dos nossos parentes mais próximos, os chimpanzés

Publicado por Marina Barreto Felisbino em

O Blog Ciência pelos Olhos Delas homenageia hoje Jane Goodall que recentemente completou 85 anos. Uma cientista que, com seu interesse genuíno pelo tema pesquisado, métodos pouco ortodoxos e coragem em desafiar conceitos enraizados, nos ensinou muito do que sabemos hoje sobre os chimpanzés.

Como tudo começou

Em diversas entrevistas, Jane relata sua paixão pelos animais desde a infância quando lia Tarzan e sonhava em desbravar a África e seus mistérios. Inglesa, filha de um homem de negócios e uma novelista, sua primeira experiência na África foi visitando a fazenda de uma amigo da família no Kenia em 1957. Lá conheceu Louis Leakey, um notável arqueologista e paleontologista que mais tarde se tornaria seu mentor. Leakey acreditava que o estudo dos grandes primatas poderia trazer evidências sobre o comportamento dos primeiros hominídeos. Ele estava procurando por um pesquisador para estudar Chimpanzés quando conheceu Goodall que imediatamente aceitou o desafio.

Seus métodos e descobertas

Photography by Hugo Van Lawick/National Geographic Creative

Embora não tivesse qualquer formação na área, em 1960, com 26 anos, Jane Goodall adentra as floresta de Gombe (atual Tanzânia) com pouco mais que alguns cadernos, binóculos e sua fascinação pela vida selvagem. A humanidade sabia muito pouco sobre esses primatas até então. Talvez pela falta de treinamento formal, Jane usa uma estratégia completamente diferente em sua pesquisa de campo, adentrando o habitat dos chimpanzés e suas vidas para analisar sua complexa sociedade mais como uma vizinha do que uma distante observadora.

Tal estratégia permitiu que ela observasse comportamentos até então completamente desconhecidos. Sua descoberta de que chimpanzés são capazes de usar e criar ferramentas é considerada uma das mais importantes do século 20. Além disso, quando relatou que haveria diferenças individuais de personalidade entre os chimpanzés, os quais ela nomeava, foi duramente criticada por não seguir o rigor acadêmico de numerar (e não nomear) os objetos de pesquisa. Ela nunca disfarçou seu envolvimento emocional com os animais que estudava e admirava.

Em 1962, Goodall vai para Universidade de Cambridge obter seu doutorado em comportamento animal, onde explora as observações feitas no período na Tanzânia. Em 1965, ela se torna a oitava pessoa a ser permitida a obtenção do grau de doutorado sem antes concluir uma graduação. Após obtenção de seu doutorado, Jane passa a maior parte dos seus anos de carreira na Tanzânia estudando o comportamento dos chimpanzés.

A parceria com o National Geography

Jane Goodall ganhou especial notoriedade por seu trabalho ter sido documentado e posteriormente televisionado pela National Geography. Em entrevista para CNN (abaixo) ela trata com muita sinceridade do assunto ao dizer que ser uma mulher jovem e bela pode ter favorecido o interesse da companhia. Isso não diminui em nada as conquistas e o trabalho duro da cientista que aproveitou as oportunidades que lhe foram oferecidas. Ela também afirma que não se sentia intimidada por ser mulher, pois esse não era um campo particularmente dominado por homens, mas sim um campo vazio pronto para ser desbrava

do. E ela calhou de ser a escolhida para traçar esse caminho desconhecido.

Entrevista (em inglês) concedida à CNN:

Photography by  Michael Nichols/National Geographic Creative

De pesquisadora à ativista

Em 1977, depois de anos trabalhando com os primatas e observando sua gradual extinção, ela funda o Instituto Jane Goodall para garantir que suas visões e seu trabalho continuem a mobilizar o poder para a proteção do meio ambiente e principalmente dos chimpanzés.

Jane redefiniu o conceito de ativismo de conservação ambiental ao incluir as necessidade da comunidade local. Ela percebeu que, a não ser que se ajude a comunidade a melhorar suas condições, não há como tentar salvar as preciosas vidas dos chimpanzés. Ela cria então, em 1991, o Programa Roots and Shoots com o objetivo de incentivar crianças e jovens da comunidade local a trabalhar para a conservação ambiental e para questões humanitárias. Hoje o programa está instalado em mais de 140 localizações ao redor do mundo.

Jane Goodall em lego by pixbymaia

Hoje Jane viaja o mundo em função de seu ativismo e programas de conservação, alertando sobre as crises ambientais, a proteção dos primatas e comunidades locais.

Para mais informações, consulte.


Marina Barreto Felisbino

Bióloga formada pela Unicamp em 2010 e doutora na área de Biologia Celular e Estrutural em 2016. Atualmente trabalho na Universidade do Colorado em Denver-USA, onde desenvolvo pesquisa de pós-doutorado. Apaixonada pela ciência, assim como pelo alcance das mulheres à equidade. Com o desejo que todos vejam a ciência pelos olhos delas.

0 comentário

Deixe um comentário

Avatar placeholder

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *