Infidelidade: Como funciona nossa cognição quando desconfiamos que estamos sendo traídos?

ResearchBlogging.org Amar é bom! Todos nós sabemos que o sentimento associado ao fato de termos um parceiro ou parceira é agradável. Não há dúvidas de que relacionamentos duradouros e estáveis causam sentimentos de felicidade e contribuem para o bem-estar das pessoas envolvidas. No entanto, sabemos também que nem tudo são flores. Relacionamentos amoros trazem também desconforto e estresse. Esses sentimentos são significativamente mais salientes quando há um temor e desconfiança com relação à fidelidade do parceiro. O medo de ser traído causa sentimentos fortes de ciúme e certamente tristeza e estresse.

Cada vez mais, pesquisas ná área de psicologia social e da personalidade têm mostrado que existe uma gama enorme de processos cognitivos distintos associados à preocupação sobre a fidelidade do parceiro. Em outras palavras, o que essas pesquisas mostram é que a forma como percebemos, lembramos e conceptualizamos certas coisas e pessoas em momentos de estresse pela angústia de estar sendo traído(a) são totalmente diferentes. E, consequentemente, são também diferentes as ações que decorrem desses processamentos cognitivos enviesados.

Jon Maner, Saul Miller, Aaron Rouby e Matthew Gailliot, da Florida State University, realizaram recentemente uma série de estudos mostrando como a nossa cognição e percepção são alteradas quando temos um alto nível de ciúme crônico associado ao sentimento de ser traído. Os pesquisadores mostraram que as pessoas com temor de traição implicitamente focalizam a atenção, armazenam informações e avaliam outras pessoas de maneira distinta das pessoas sem esse tipo de preocupação.

Imagine que você está em uma festa e desconfia que sua esposa está de paquera com outra pessoa. Como você direciona/focaliza sua atenção de forma a ficar alerta com relação a possíveis “competidores”. Uma vez que você focaliza possíveis ameaças, que informações são armazenadas? E como você implicitamente avalia as as pessoas que são possíveis ameaças? Esses pesquisadores estavam interessado nessas respostas.

No primeiro estudo, os pesquisadores pediram aos participantes que lembrassem e escrevem sobre uma situação onde eles tiveram sentimentos de que o parceiro ou parceira estava sendo infiel. Após essa tarefa de priming, os participantes completaram uma tarefa de “desengajamento atencional”. Nesse tipo de tarefa, é medida a capacidade que as pessoas têm de mudar a atenção de um foco para outro. Os pesquisadores assessaram em que medida as pessoas com altos níveis de ciúme crônico (medido através da Escala Emotinal Jealousy) conseguiam desviar a atenção de fotos que mostravam pessoas do mesmo sexo e fisicamente atraentes. Os resultados mostraram que participantes com alto nível de ciúme crônico e com preocupações sobre infidelidade direcionaram a atenção para fotos que mostravam pessoas atraentes do mesmo sexo. Ou seja, os resultados sugerem que quando se têm alguma preocupação com infidelidade, automaticamente vamos ficar mais atentos às pessoas do mesmo sexo e que são atraentes. É como se essas pessoas estivessem, implicitamente, monitorando as principais ameaças de infidelidade no ambiente.

Para monitorar alguém ou alguma coisa, sabemos que precisamos ter uma boa memória. O estudo II investigou exatamente isso: os pesquisadores estavam interessados em saber se as pessoas com altos níveis de ciúmes crônicos e com preocupações sobre infidelidade são capazes de armazenar na memória mais informações relativas às pessoas atraentes do mesmo sexo em comparação às outras pessoas. Novamente os resultados mostraram que sim. As pessoas com ciúmes e medo de serem traídas conseguiram lembrar mais eficazmente das fotos de pessoas atraentes e do mesmo sexo do que das outras fotos. Em outras palavras, as pessoas ameaçadas de traição não só prestam mais atenção nas pessoas atraentes do mesmo sexo, como também armazenam mais informações sobre elas na memória.

Por fim, os pesquisadores invetigaram se a maneira como implicitamente julgamos as pessoas é também influenciada pelo temor à infidelidade. Após a tarefa de priming, os participantes tinham que “julgar” algumas fotos como sendo “positivas” ou “negativas”. Novamente, os resultados mostraram que as pessoas com alto níveis de ciúmes e preocupação com traição tendem a avaliar pessoas atraentes e do mesmo sexo mais negativamente.

Essa pesquisa é interessante por, pelo menos, duas razões: primeiramente contruibui para o corpo de pesquisas em psicologia social que investiga a maneira como os seres humanos lidam (mesmo que implicitamente) com situações de estresse causadas por fatores relacionados à relacionamentos amorosos. Segundo, ela integra a investigação de aspectos cognitvos ao cotidiano social das pessoas.

Então, a próxima vez que desconfiar da fidelidade do seu parceiro ou parceira, tente lembrar que cognitivamente as coisas podem ser um pouco diferentes! 🙂

Referência:

Maner JK, Miller SL, Rouby DA, & Gailliot MT (2009). Intrasexual vigilance: the implicit cognition of romantic rivalry. Journal of personality and social psychology, 97 (1), 74-87 PMID: 19586241

Esta entrada foi publicada em Psicologia Cognitiva. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *