Dezembro é o mês das promessas e do planejamento. Todo mundo quer começar uma vida diferente e organizada no ano novo: algumas pessoas vão parar de fumar; outras prometem ser mais caridosas e ajudar mais o próximo; e algumas outras querem simplesmente economizar mais ou ter o cabelo mais bonito. A verdade é que raramente revisitamos as promessas que fazemos. E quando revisitamos, percebemos que não cumprimos nada daquilo que prometemos (ou que cumprimos só até meados de Março).
Para aproveitar então o clima de promessas, eu tenho uma sugestão: em 2013, não seja um analfabeto científico. Não! Não estou pedindo que seja um cientista, estudioso e ganhador do prêmio Nobel. Não é isso. Não é preciso ser um cientista para entender um pouco (e criticamente) sobre o mundo que nos cerca. Abra o jornal e vai logo ver alguma notícia sobre aquecimento global, ou sobre algum fóssil encontrado em algum lugar, ou sobre uma tal partícula de Higgs descoberta por físicos na Suíça. Não é preciso ser cientista para entender que grande parte dos avanços da sociedade moderna são frutos diretos da ciência que produzimos o tempo todo. Não é preciso ganhar o Nobel da Ciência para entender que você só consegue assistir à novela das 8 todos os dias por causa dos avanços de uma tal de física quântica; e que o remédio que você vai tomar para curar a sua ressaca de final de ano só funciona por causa das pesquisas da indústria médico-farmacêutica.
Deixar de ser analfabeto científico é começar a entender (e ser capaz de criticar de maneira informada) os principais avanços tecnológicos e científicos que nos bombardeiam o tempo todo. Do mesmo jeito que a gente é capaz de opinar sobre a conquista do título do Campeonato Brasileiro pelo Fluminense apesar da boa campanha do Atlético Mineiro, a gente deve ser capaz de opinar sobre a real possibilidade de um pesquisador brasileiro fazer um paraplégico andar e chutar uma bola na abertura da Copa do Mundo em 2014. Ser alfabetizado em ciência é saber como ela está presente no nosso dia-a-dia e como podemos contribuir para o avanço dela.
Infelizmente, a realidade é outra. Um artigo publicado recentemente pelo pesquisador Robert M. Hazen nos Estados Unidos relata que a maior parte dos americanos não conseguem, por exemplo, explicar por que o inverno é mais frio que o verão. Mas isso não é só a população leiga não. Ele mostrou ainda que até mesmo estudantes de doutorado não sabem a diferença básica entre RNA e DNA, conceitos fundamentais na discussão dos avanços na área de engenharia genética.
Mas como deixar de ser analfabeto científico? A resposta é simples: seja curioso! Procure saber o porquê das coisas: por que o Canadá é mais frio que o Brasil? Por que tomar vacina não causa autismo? Por que ninguém inventou ainda uma máquina do tempo? Leia mais sobre os avanços da ciência no Brasil e no mundo. A internet está cheia de sites de divulgação científica, escritos por profissionais de várias áreas. O ScienceBlogs, por exemplo, tem profissionais da física, geologia, biologia, psicologia, medicina, etc. Esses profissionais escrevem diariamente sobre vários assuntos pertinentes aos avanços científicos que estão acontecendo por aí. Mantenha-se informado da ciência ao seu redor.
Por que é importante ser alfabetizado em termos científicos? Simples: para dar a sua opinião sobre qualquer coisa, é preciso entender pelo menos um pouco sobre o assunto. Várias políticas públicas, que têm como objetivo principal a melhoria na nossa qualidade de vida, se baseiam em resultados de pesquisas científicas. É nosso papel como cidadãos, opinar e avaliar essas políticas públicas (afinal de contas, somos nós que financiamos a maioria delas). Imagine, por exemplo, que o Governo Federal tenha verba para investir em apenas uma política de combate ao vício de drogas. Que tipo de investimento você apoiaria: uma vacina que promete acabar com o vício ou uma política de educação sobre os efeitos da droga? Ser alfabetizado em ciência é se tornar um cidadão melhor e mais consciente, capaz de opinar e lutar pelo bem-estar da sociedade onde vive.
A minha sugestão para 2013 é: ao invés de poluir sua linha do tempo do Facebook com memes de gatinho mal-humorado, piadinhas sobre a morte do Niemeyer ou vídeos de pegadinha no elevador, divulgue mais sobre ciência. Entenda e apoie os avanços científicos do nosso tempo. Visite mais o site do ScienceBlogs e outros sites de ciência na Internet. Pergunte! Seja curioso! Descubra como ciência é divertida e como essa resolução para 2013 vai ser boa para 2013, 2014, 2015… e por aí vai!
Um ótimo 2013!!!
E porque não começar o ano seguindo o Cognando no Twitter, Facebook e Google+
Gostei bastante desse post!
Que esse ano sejamos menos demagogos e sim mais curiosos e interessados.
E realmente eu recomendo muito o Science Blog e outros, pela complexidade de informações e divulgação científica.
Eu só trocaria o "ao invés de poluir sua linha do tempo com memes" por "além de poluir sua linha do tempo com memes".
Para alfabetizar-se cientificamente não é preciso abrir mão do (mau) bom humor. Sim, consome-se tempo, mas nada que precise modificar radicalmente o cotidiano.
[]s,
Roberto Takata
Talvez o próprio (mau)bom-humor mude de cara com a alfabetização científica. 🙂
Agora a pergunta: vc imagina um programa mínimo de conteúdo (e habilidades) para uma pessoa se considerar cientificamente alfabetizada nos dias de hoje? (Claro, q haverá uma parte variável de acordo com as necessidades específicas do alfabetizando, mas haveria um 'currículo mínimo' geral?)
http://genereporter.blogspot.com.br/2010/10/discutindo-ciencias-palpiteiramente.html
http://genereporter.blogspot.com.br/2010/10/discutindo-ciencias-palpiteiramente_29.html
http://genereporter.blogspot.com.br/2010/10/discutindo-ciencias-palpiteiramente_31.html
Especificamente na área da Psicologia, o que você consideraria como um conjunto mínimo de fatos, conceitos, teorias, etc. que um cidadão comum precisaria saber?
Aqui uma proposta de Holtz para Paleontologia:
http://genereporter.blogspot.com.br/2011/02/thomas-holtz-jr-o-que-todo-mundo.html
[]s,
Roberto Takata
Hehehe, o Sagan já reclamava desse analfabetismo no Demon-Haunted World. E em Cosmos ele dizia que todos deveríamos ter "direito" à ciência. De acordo! Ótimo blog!