Belo Monte, um ponto de vista

USINA DE BELO MONTE NO XINGU Rio Xingu

Sobre a obra de Belo Monte, de verdade, a única certeza que eu tenho é que temos dúvidas demais. Pelo menos tudo que tenho lido a respeito me leva a crer nisso. Mas com todo o bafafá da licença que foi liberada para a construção do canteiro de obras resolvi dar uma olhada em alguns dados.

Essa licença parcial polêmica que saiu autoriza a supressão de 238 hectares de vegetação, entre outras ações. E será que isso é muito? Talvez a questão nem seja discutir isso, mas vou me ater a esse dado. 238 hectares equivale a 2,38 km2, isso é uma área de aproximadamente 1,5km x 1,5km.

Considerando que só nos meses de novembro e dezembro de 2010 foram desmatadas na Amazônia 135 mil km2 (13,500ha), desmatar 238ha para uma obra do tamanho que é Belo Monte é quase ridículo.

Ok, ok, essa é só a licença de instalação e a área total da obra são 51,600 ha, ou seja, mais desmatamento por conta da obra vem por ai. Mas vamos combinar que pra quem já desmatou em um único mes, só na Amazônia, 48,500ha, desmatar por conta de uma obra um pouco mais que isso em aproximadamente 4 anos não me parece tão absurdo assim. A gente desmata, queima e destrói provavelmente ilegamente um número absurdo de floresta e agora para construir uma hidrelétrica fica todo mundo fazendo drama? Energia tem que vir de algum lugar e infelizmente tem seus custos e alguém tem que pagar.

Calma! Antes que comecem a me apedrejar aqui é o seguinte, eu nao to dizendo que a obra de Belo Monte tá tudo certo e vamos que vamos construir mais uma hidrelétrica, não é isso! O que eu to querendo demonstrar aqui é que a gente destrói de floresta sem construir nada em troca e muitas vezes ilegalmente muito mais floresta do que vão desmatar com  Belo Monte, percebe a lógica? Belo Monte tem vários outros problemas além do desmatamento? Sim, com toda a certeaza, só pra começar uma licença parcial que inexiste na legislação ambiental brasileira para caso de hidrelétricas, mas também não podemos esquecer de outros argumentos para esse discussão, todo mundo quer falar de crescimento, desenvolvimento, mas tudo isso tem um custo e alguém tem que pagar por ele. Torço e espero de verdade que os técnicos do IBAMA e do Ministério do Meio Ambiente estejam fazendo o melhor para que essa obra não se torne um arrependimento ambiental no futuro. Eu só tenho percebido que o debate tem ficado somente de um lado e não podemos esquecer que tudo pode ter vários lados.

Leia um artigo muito bem ponderado sobre a usina: Pela imparcialidade em Belo Monte.

16 Comments

  • 7 de fevereiro de 2011 - 22:54 | Permalink

    É evidente que uma obra dessa magnitude irá modificar o eco-sistema local. O que deve ser discutido então é como reparar esses efeitos e de que modo isso será conduzido.
    Gostaria de indicar meu blog aqui: www.engenharia10.net
    Obrigado.

  • Francisco
    8 de fevereiro de 2011 - 00:42 | Permalink

    Fazer protesto contra Belo Monte é fácil. É só juntar uma maioria de débeis mentais com uma minoria que realmente está analisando os dados e está preocupada, e você tem todo o movimento anti-Belo Monte: uma reação desproporcional, ignorante e hipócrita.
    Quero ver fazer protesto contra 50.000ha mês desmatados na Amazônia, uma Belo Monte em área por mês? Ah, eu esqueci, são todos muito estúpidos para se preocuparem com abstrações como ecossistemas, mas ficam revoltados com coisas concretas como "hidroelétricas".

  • 8 de fevereiro de 2011 - 06:22 | Permalink

    Concordo com esse post. Aqui no Rio teve manifestação na Av Chile, todo mundo quer se juntar para acabar com Belo Monte, mas deixa passar o desmatamento em troca de nada, cidades mal planejadas, as tragédias como em Teresópolis, tráfico de drogas, violência gratuita... para isso, não vejo ninguém fazendo manifestação.

  • 8 de fevereiro de 2011 - 09:28 | Permalink

    A revolta contra a construção de Belo Monte é muito interessante pelo fato de tanta gente se mobilizar a contra uma obra que irá repor a energia que elas mesmas gastam, e gastam muito!
    Todo mundo quer defender, mas ninguém quer economizar, ninguém quer ter consciência nem da quantidade de energia que gasta nem do que é feito por debaixo dos panos na Amazônia todos os dias.
    =/

  • 8 de fevereiro de 2011 - 20:01 | Permalink

    Falta capacidade intelectual para a pessoa que escreveu esse texto entender que toda a discussão para a liberação das obras iniciais da hidrelétrica não está no seu impacto específico e isolado, mas sim na própria obra. Não se discute os 238ha que serão desmatados agora, mas todos os prejuízos que virão no processo de construção da mesma e quando ela já estiver pronta, que são bem maiores que os 238ha e muito mais abrangente que a questão do desmatamento, perpassando pelo direitos históricos e legítimos dos povos indígenas e ribeirinhos daquele lugar.
    Os diversos ecossistemas daquela região, caro Francisco, são concretos, e é por toda essa concretude deles que todos os povos de lá lutam contra essa usina injustificável de diversos pontos de vista: social, ambiental, econômico e energético, inclusive. Ali há verdadeiros geossistemas claramente definidos no cotidiano dos povos.
    Vamos parar de reduzir e alienar a discussão, tornando-a baixa, com argumentos de mínima sustentação.
    O desenvolvimento nunca vai ocorrer por atitudes assim. Não é nós que necessitamos de um crescimento sustentando a taxas maiores possíveis ano a ano. É um sistema capitalista falido que fode com a vida da maioria das pessoas para sustentar as riquezas financeiras dos grandes grupos financeiros globais. O crescimento e desenvolvimento é para eles e não para nós.
    Outra coisa, não tem que haver imparcialidade sobre Belo Monte e o texto de Marina Silva acho que por falta de leitura da autora desse texto aqui, mostra muitos argumentos dos motivos da falta de critérios para liberar a obra e mostra inúmeros danos, quantitativamente, que somente a instalação da usina irá causar, sem contar todas as interrrelações que virão posteriormente.
    É só...

  • 8 de fevereiro de 2011 - 20:36 | Permalink

    Caro Harlan, iniciar um debate dizendo que falta para a outra parte capacidade intelectual nao me parece a melhor maneira de se iniciar uma conversa. Usar palavreado tao rebuscado para dizer que eu sou burra me faz entender que vc nao quer debater e sim apenas afirmar que meus argumentos sao infundados e nao merecem ser considerados.
    Caso nao tenha ficado claro o meu intuito com esse post é fazer pensar sobre essa polemica obra e nao apenas defender ferrenhamente qualquer dos lados em questão.

  • Carol
    9 de fevereiro de 2011 - 06:06 | Permalink

    É, nem todos conseguem compreender o intuito de uma discussão, e muito menos para que serve. E pior, ainda desqualifica os outros, usando de ignorância.

  • João Luiz Guedes
    10 de fevereiro de 2011 - 09:54 | Permalink

    Eu concordo com o Harlan, apesar dos ataques exagerados, mas não sem propósito. O texto, supostamente, seria para trazer à tona a discussão sobre a polêmica de Belo Monte. Contudo, demonstra extrema falta - ou omissão - de conhecimento sobre o assunto. E ainda, usar um argumento que diz que "se a gente já desmata tanta floresta pra nada, por que não desmatar com alguma finalidade?" é absurdo. Primeiro, ninguém que critica Belo Monte, defende desmatamento ilegal, eu suponho. Segundo, o ideal é que se investissem recursos em alternativas energéticas mais sustentáveis, o que não acontece, pois os que fazem Belo Monte, não a fazem porque é a alternativa mais eficiente, nem para ajudar a população brasileira, a fazem pelo lucro, tanto que passam por cima de relatórios de impactos sócio-ambientais como se não significassem nada.

  • Carlos
    10 de fevereiro de 2011 - 10:03 | Permalink

    Bom dia.
    Pelo visto a maioria das pessoas que se pronunciaram aqui estão de bem com o "desenvolvimento econômico", que é isso aí, que nós precisamos crescer. Eu até gostaria de entrar na discussão, mas isso pra mim é um entrave que não consigo vencer pra poder discutir. Resta saber também quem é esse "todo mundo" "quer desenvolvimento".
    Hidrelétrica talvez já tenha sido num passado distante sinal de desenvolvimento. Outro detalhe é que comparar os problemas sobre a construção e produção da Belo Monte, como muito bem levantado por Thanuci acima, com o desmatamento em toda a Amazônia, que é fruto de diversas fontes e pela falta e dificuldade de fiscalização, além da vista grossa, não faz sentido, não é produtivo e é um bom discurso para os desenvolvimentistas, já que ajuda perder o foco da questão que situa-se no empreendimento tosco que é uma mega e péssima hidrelétrica Belo Monte na Amazônia. Gostaria de sugerir que os interessados procurem algo sobre Porto Primavera, como um exemplo. Seria bem vindo também sugestões sobre mega hidrelétricas construídas no Brasil, especialmente na Amazônia, que tenham tido um retorno digno dos impactos ambientais que elas provocaram (ou ainda provocam)e que suas condicionantes tenham sido realizadas de forma clara e completa e que tenha trazido também um bom retorno à sociedade e ao meio ambiente local.
    Abraços

  • 10 de fevereiro de 2011 - 10:06 | Permalink

    Olá a tod@s,
    Primeiramente quero me dirigir à Carol, lendo seu comentário onde você diz: "mas deixa passar o desmatamento em troca de nada, cidades mal planejadas, as tragédias como em Teresópolis, tráfico de drogas, violência gratuita... para isso, NÃO VEJO NINGUÉM FAZENDO MANIFESTAÇÃO".
    Quero dizer que pode começar por você mesma essa manifestação, não é necessário esperar o outro começar.
    Nós, que lutamos para manter a qualidade de vida para nosso futuro e o das futuras gerações, estamos sim, brigando dia a dia e tentando educar nossos vizinhos, parentes, amigos e também desconhecidos, justamente para que a construção de hidrelétricas com impactos de magnitude imensa não sejam necessárias. Para que as pessoas troquem as brigas e violência por diálogo, como esse.
    Nós não precisamos pensar iguais, somos tod@s diferentes, porém, temos que aprender a respeitar a opinião do outro e refletir sobre.
    O que acontece é que Belo Monte gerará pouca energia se comparada com o custo que terá.
    Não somos contra o desenvolvimento do país, queremos sim responsabilidade aliada ao crescimento.
    O Brasil tem um grande potencial para energia solar e eólica, então porque não investir nisso?
    Um abraço a tod@s e continuemos a discussão!

  • Carol
    10 de fevereiro de 2011 - 16:39 | Permalink

    Cintia, vc sabe se eu estou esperando alguém para começar? Acho que é bom nós todos, antes de levantarmos qualquer insinuação sobre outro que sequer conhecemos e sabemos o que faz da vida, pensarmos bem no que escrever.
    Um abraço

  • 10 de fevereiro de 2011 - 20:12 | Permalink

    Caro Carlos você é um cara muito inteligente, aposto que estuda os biomas do nosso país desde criancinha. Mas ó, se eu não comparar o desmatamento de Belo Monte com o desmatamento do restante da Amazônia (lembrete: O Rio Xingu está contido na Amazônia) compará-lo-ei com o que, meu caro? Com a questão do lixo do Pacífico?
    Se você se preocupa tanto com os alqueires que serão devastados para construção da usina, deveria também se preocupar com o restante que está sendo destruído ilegalmente, afinal se sobrar apenas o que você defende (porção onde ficará Belo Monte), não fará nenhum sentido, não é mesmo? Aliás, acredito que a intenção do post acima é exatamente chamar a atenção para toda a amazônia e não apenas para o Rio Xingu. Mas não vou ficar explicando o post porque pela entonação dos comentários, todos são escolarizados (não significa que sejam educados, devo deixar claro) e não sofrem de analfabetismo funcional.
    Thanuci, esperando a discussão começar.

  • Carlos
    10 de fevereiro de 2011 - 20:50 | Permalink

    Oi Thanuci e outros. Eu cheguei a enviar outra mensagem para cá, de retificação, mas pelo visto não foi postada (tinha dito que estava na fila). Mas cara, eu na verdade estava me referindo ao Harlan Rodrigo, e não fui irônico, eu quis dizer exatamente aquilo "muito bem levantado". De qualquer forma acho seu primeiro comentário muito pertinente. Desculpe ter causado esse transtorno, mas realmente eu enviei uma errata. Agora, não estudo os nossos biomas desde criancinha, mas há algum tempo. Outra coisa é que reduzir a discussão sobre Belo Monte, e como eu quis dizer, de qualquer outra grande hidrelétrica, apenas à questão do desmatamento é claramente infrutífero. Mas apesar da ênfase no texto da Claudia sobre isso, não creio que ela tenha essa intenção somente.

  • 12 de fevereiro de 2011 - 09:57 | Permalink

    Olá Claudia,
    Muito interessante seu ponto vista. Porém, os impactos ambientais e sociais desse tipo de impreendimento são muito bem conhecidos e nada satisfatórios a longo prazo que é o mais interessante. Como profissional que trabalha com licenciamento e monitoramento desses empreendimentos e principalmente como Amazonida, percebo que umas das principais falhas de quem defende essa obra é a venda da falsa ilusão de desenvolvimento. Primeiro porque a região ainda continuará sofrendo com falta de energia de qualidade, empregos serão temporários e as populações tradicionais, ribeirinhos e pescadores profissionais terão outra falsa ilusão nos primeiros anos que os recursos pesqueiros aumentaram muito. Mas em até 5 anos perceberão que a situação é bem diferente!
    Quem tiver dúvidas é só visitar o entorno de Tucuruí e o sul do Pará que sofre influência direta dessa obra, para perceber que o " Luz para Todos" não é pra quem mais perdeu com o empreendimento. Quanto a perda de diversidade de peixes e a diminuição de recursos pesqueiros é só visitar o rio Doce precisamentena na sua porção baixa, lá encontrarão pescadores que não tiram 15 reais por semana e uma comunidade de peixes que já é representada por 45% de peixes exóticos e diversas espécies em grande risco de extição ou até já sofreram extinção local. Então, hoje aos seus olhos pode ser irrisório esse desmatamento, mas e depois??? Os tantos outros hectares já desmatados que você nos "informou" tem causas tão complexas e que tiveram origens em outras falsas ilusões de desenvolvimento.
    Só gostaria que entendessem que nos Amazonidas queremos sim desenvolvimento,mas não a qualquer custo.

  • Saulo Terra
    19 de dezembro de 2011 - 13:10 | Permalink

    Olá Claudia
    Fico muito feliz por voçê defender tanto o lado bom da coisas; e por os dois lados da questão.O impacto ambienta é muito grande mas o Brasil é um País que tem se superado em crescimento e vai crescer muito mais,Belo monte é uma necessidade para o País e muito mais para o povo da região eu tenho certeza que no futuro a região de Altamira vai agradecer o PAC por este desenvolvimento.

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