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COP-20 – Peru, Lima

Só hoje me dei conta que tem 2 anos que o protocolo de Kioto expirou e simplesmente não há mais metas para redução de emissões de carbono. Bom, não que essas metas algum dia de fato fizeram muita diferença no mundo (já que o principal emissor não tinha meta nenhuma), mas pelo menos existia um compromisso assinado, né? Agora ninguém tem…

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Abertura da COP-20 Foto: https://www.flickr.com/photos/126063342@N06/15736749298/in/set-72157649549283121

E dezembro chegou e mais uma COP começa, dessa vez aqui na América do Sul, em Lima no Peru. E as poucas notícias que li dizem que desse encontro sai um rascunho de acordo e que provavelmente será assinado no ano quem vem na COP-21 em Paris para então entrar em vigor só em 2020.

Ai você como eu se pergunta: mas por que isso demora tanto? Ensaio de acordo pra ser assinado daqui um ano para entrar em vigor daqui 6 anos? O que essa gente espera que aconteça até lá? Aliás, o que essa gente tá esperando desde 2012 quando o protocolo de Kioto expirou? Um milagre! Literalmente um milagre! Sério gente é isso que eles pensam… Vamos empurrando o problema até que uma tecnologia barata e simples surja, vamos administrando as emissões aqui e ali até que os cientistas encontrem a solução para o problema. Simples assim.

Só eu mesmo na minha santa ingenuidade acreditava que eles queriam salvar o clima do planeta! Olha, eles talvez até queiram, mas não querem gastar nenhum dinheiro com isso (de preferência querem ganhar muito dinheiro com isso) e não querem mudar nada. Mudar matriz energética? Poxa, trabalhão, hein? (leia-se quanto custo!) Diminuir consumo? Pirou? Como ganhar dinheiro sem mais consumo? É aquela velha história: tudo deve mudar para que tudo permaneça como está.

Claudia Chow, tentando entender conferências do clima desde a COP-15.

Gás x Água

Como geóloga, tenho verdadeira admiração pelo Aquífero Guarani. Essa esponja rochosa subterrânea garante não apenas que várias cidades sejam abastecidas da melhor água do Brasil, como também — e, talvez, principalmente — assegura a qualidade do chope fabricado em Ribeirão Preto e provavelmente a famosa cerveja Brahma de Agudos (mas os mestres cervejeiros dizem que isso não é verdade). Mas pelo menos os geólogos meus amigos que frequentam o famoso bar Pinguim em busca daquela maravilha gelada, cremosa e bem tirada deveriam sempre fazer seu primeiro brinde ao arenito Botucatu, que estoca toda aquela água para eles. Se bem que os hidrogeólogos do interior de São Paulo devem fazer isso já que esse aquífero garante o emprego da maioria deles!

As pessoas que vivem em boa parte do interior de São Paulo, e outras no Centro-Sul do Brasil, talvez marchassem furiosas com tulipas quebradas na mão sobre a Agência Nacional do Petróleo se soubessem o que o futuro próximo pode reservar às rochas do Aquífero Guarani. Sem muito debate público e sem muita cobertura da imprensa, a ANP quer permitir a exploração de gás natural em depósitos não convencionais na bacia sedimentar do Paraná no oeste do Estado homônimo, que abriga parte do aquífero. A técnica a ser usada é o fraturamento hidráulico, ou “fracking”. Isso pode significar contaminação das águas do Guarani.

Uma audiência pública foi realizada sobre o tema na semana passada, já às portas da 12a Rodada de Licitações, que acontece nos dias 28 e 29 deste mês e que concederá 240 blocos de gás em 12 Estados. A audiência discutiu uma minuta de resolução da ANP estabelecendo regras para o uso do fracking para salvaguardar os recursos hídricos na exploração desses reservatórios não convencionais. ONGs como o Instituto Socioambiental manifestaram sua oposição ao movimento, pedindo moratória ao fracking no Brasil.

Como tudo mais que envolve energia neste país, a 12a Rodada acontece sem que as decisões importantes tenham sido amadurecidas ou debatidas com a sociedade pela energocracia estatal, e sem que ninguém além de meia-dúzia de engenheiros do governo e o pessoal da indústria tenha muita informação sobre riscos e benefícios. Como resultado, a discussão vira um fla-flu no qual os ambientalistas são acusados de ignorância, luddismo ou sectarismo só por quererem um aprofundamento nas informações que é incompatível com os calendários de licenciamento fixados por esses mesmos engenheiros do governo. Os ambientalistas e o Ministério Público, por sua vez, podem de fato exagerar na reação. Todos perdem.

Para entender o que está em jogo, é preciso entender primeiro what the frack são esses depósitos não convencionais. Vamos lá:

O gás natural (CH4) normalmente ocorre em bolsões em carbonatos, um tipo de rocha sedimentar. Como o petróleo, ele é formado por coisas mortas cozidas durante milhões de anos em condições ideiais de pressão e temperatura no fundo da terra. Ai, o gás migra para os carbonatos que são rochas bastante porosas, até que alguém dê a sorte de furá-los. Algumas dessas rochas são tão grandes e porosas que produzem gás por décadas. É assim no Qatar, na Rússia, no Mar do Norte e na nossa vizinha Bolívia.

Acontece que existem outros tipos de rocha sedimentar nos quais a decomposição de coisas mortas produziu gás e petróleo. Um deles é o folhelho, que os anglo-saxões chamam de “shale” ou “mudstone”, exatamente pelo fato de ser formado por lama rica em matéria orgânica depositada continuamente em fundos de rios ou lagos. Desde o século 19 os geólogos sabem que muitos folhelhos contêm hidrocarbonetos. Como o folhelho também é um dos tipos mais comuns de rocha sedimentar, vários países do mundo estão montados em várias Arábias Sauditas em óleo e gás de folhelho (assim como a bacia sedimentar do Paraná). Isso se alguém pelo menos conseguisse extraí-los: em vez de acumular-se em bolsões gigantes, os preciosos hidrocarbonetos do folhelho, o “shale oil” e o “shale gas”, ficam presos em fendinhas minúsculas na rocha. Sempre foram, por isso, economicamente inviáveis. Alguns deles até tem cheiro de óleo, folhelhos são na verdade petróleo que passou do ponto.

Em 1999, um persistente geólogo americano chamado George Mitchell descobriu o segredo do folhelho e fez os depósitos dessa rocha falarem. Ele uniu duas técnicas, o fraturamento hidráulico de alto volume (o tal “fracking”) e a perfuração de longos poços horizontais, para arrancar o gás na porrada. A receita é mais ou menos simples: primeiro, perfura-se o poço vertical até atingir a camada de folhelho com gás. Depois, perfura-se horizontalmente, ao longo da rocha, túneis que chegam a quilômetros de comprimento. Aí vem a mágica: injeta-se no poço, a altíssima pressão, uma mistura de 1 milhão de litros d’água, areia e um coquetel de químicos surfactantes. Essa sopa quebra toda a rocha ao longo do poço, permitindo que o gás aprisionado nas fendas vaze no sentido da menor pressão – para dentro do poço e para fora.

O “fracking” começou a ser usado em larga escala nos folhelhos da formação Marcellus, no nordeste dos Estados Unidos, em 2004. A técnica fez tanto sucesso que o preço do gás caiu nos EUA de US$ 14 o milhão de BTUs em 2005 para US$ 1,90 em 2011. A Pensilvânia tornou-se um dos maiores produtores de gás do planeta. Hoje os americanos preparam-se para exportar gás natural. E não é só isso: o fracking vem sendo aplicado com sucesso a folhelhos que contêm óleo também. No ano passado, a Agência Internacional de Energia afirmou que o shale oil transformará os EUA no maior produtor de petróleo do mundo em 2035. De quebra, os EUA reduziram sua dependência de carvão e suas emissões de CO2 caíram em 2011 pela primeira vez desde os anos 1990. O panorama energético global foi transformado pela teimosia de George Mitchell.

Mas é claro que não existe almoço grátis. A maior porção do folhelho Marcellus fica no interior do Estado de Nova York, contíguo à Pensilvânia. Também ali ficam as montanhas Catskills, que abrigam os mananciais que abastecem a cidade de Nova York. O governo de Nova York impôs, em nome da sua água, uma moratória à exploração de shale gas no Estado.

Mas as coisas não param por aí: no fim da década passada, um caso de contaminação grave aconteceu no distrito de Dimock, na Pensilvânia, onde poços artesianos explodiram, torneiras abertas pegaram fogo e alguns residentes perderam suas casas, já que sua água ficou imprestável. Isso porque, no meio do caminho entre o folhelho e a cabeça dos poços, havia um lençol freático. Um trabalho nas coxas de perfuração fez com que o mix de químicos, água e gás metano vazasse para dentro do aquífero. A história é contada no belo livro Under the Surface, do jornalista americano Tom Wilber, e no documentário Gasland.

Um conhecido esteve em Dimock no ano passado e conversou com alguns moradores. A maioria não foi afetada pelo vazamento, ganha royalties pelos poços em sua propriedade e o impacto visual é francamente pequeno. O pessoal está bastante satisfeito. Claro, há vários estudos mostrando que o impacto do shale gas sobre o clima no curto prazo pode ser mais grave que o do carvão, mas hoje em dia ninguém está nem aí para esses detalhes, certo? O que o Brasil está esperando, então? Provavelmente foi esse o raciocínio da ANP.

A figura abaixo mostra qual é o problema. Ela é meio arcana, mas acho que dá para entender: trata-se de uma estratigrafia da bacia sedimentar do Paraná.

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Há quase 300 milhões de anos, grande parte da região que hoje vai da Argentina e Uruguai ao Mato Grosso e Goiás estava tomada por mares rasos cheios de lama. O fundo desses mares viraram o folhelho Irati, a camadinha fininha de rocha que você vê na segunda coluna de “litoestratigrafia”. Segundo Alexandre Szklo, da Coppe-URFJ, os folhelhos da bacia do Paraná podem conter 60 vezes mais gás do que todas as reservas brasileiras conhecidas hoje. Aliás, meus primeiros reconhecimentos geológicos aconteceram nessa formação, a primeira vez que eu vi um folhelho na vida foi o Irati!

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Formação Irati. As partes escuras são o famoso folhelho. Foto: Alexandre Perinotto.

No Jurássico, há 160 milhões de anos, toda aquela região virou um grande deserto. Isso explica por que não temos quase nenhum fóssil de dinossauro daquela época no Brasil. E explica também o aquífero Guarani, formado pelas rochas porosas do arenito Botucatu, remanescentes daquele deserto. Na maioria dos locais, para chegar aos 70 metros do Irati é preciso furar através dos 450 metros do Botucatu. É fácil imaginar problemas no caminho.

Um amigo geólogo especialista na bacia do Paraná me diz que não há problemas ambientais, necessariamente. Ele lembra, por exemplo, que a Petrobras explora há anos no sul do Paraná o petróleo do folhelho Irati, o tal “oil shale” (não confundir com “shale oil”), no qual a rocha é moída e cozida até separar o hidrocarboneto. Naquela região, porém, o folhelho está mais próximo da superfície e o que acontece lá nada tem a ver com o fracking e sim uma mineração desses folhelhos. É assim nos blocos concedidos no oeste paranaense? Provavelmente não.

É um caso complexo de decisão, que faz invocar o princípio da precaução, sempre desprezado pela indústria e algumas vezes abusado pelo ambientalismo e pelos ministérios públicos da vida. A probabilidade de dano pode ser mínima, mas o impacto seria tão grave que é caso de parar para discutir. Para o Brasil, o pior cenário seria ter Dimock em proporções continentais sem gozar da bonança econômica do gás. No Brasil, o pior cenário é o que costuma acontecer. Não acho que o país possa ou deva dizer não ao fracking, mas um pouco mais de estudos, precaução e canja de galinha não faz mal a ninguém. E de verdade, entre gás e água eu sempre vou ficar com a água por uma questão de sobrevivência. Pra mim não faz sentido vender gás para comprar água limpa importada.

Finalmente o “piscinão” de Cingapura e mais algumas coisas

É até um certo desmerecimento chamar a Marina Barrage de piscinão, se formos comparar com os piscinões que eu tenho conhecimento em SP, essa represa nada mais é que um parque com uma vista sensacional da cidade e uma área de lazer invejável, não lembra nem de longe um piscinão paulistano.

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Piscinão Aricanduva, SP. Foto: http://farm1.staticflickr.com/248/514839748_78153f5e2f.jpg
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“Piscinão” de Cingaoura.

Além do prédio sustentável, o telhado verde, o parque de energia solar o local ainda tem uma exposição sobre sustentabilidade em Cingapura. Essa exposição além de falar sobre a história da água na cidade-estado ainda mostra como a barragem funciona, é uma maquete que simula o aumento do nível da água no reservátorio e como as comportas funcionam nessa situação. Fiz um video do simulador funcionando, mas não ficou muito bom, mas dá pra ter uma ideia.

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Além de tudo isso você ainda tem um audio tour de graça para fazer a visita.

Além do telhado verde onde as pessoas tomam sol, empinam pipas, fazem picnic ainda tem um parque aquático, não, não tem piscina, mas eu achei super divertido brincar com eles chafarizes!

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Telhado verde
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Parque Aquático

O local é um exemplo, não tem nem o que discutir. Mas a sustentabilidade em Cingapura é tudo isso? Bom, nesse local o assunto é água e só água e parece que a grande preocupação deles é essa, nada mais natural afinal, eles não tem aquíferos  e importam muita água para consumo da sua população, mas como esse é um assunto estratégico para eles a sustentabilidade se resumiu a isso. E qualquer pessoa sabe que sustentabilidade é um assunto estratégico, mas vai muito além de água.

Quando eu falo que o “sucesso” da reciclagem no Brasil se deve à miséria, Cingapura é o maior exemplo disso, aqui simplesmente não tem reciclagem e se tem é muito, mas muito tímida e provavelmente porque aqui não tem miseráveis para ver no lixo uma alternativa de sobrevivência. Olhando no site da agência ambiental de Cingapura programas de reciclagens nem aparece.  A preocupação está mesmo em eficiência energética e limpeza da cidade. Mas por que eu acho que reciclagem é tão importante? Na verdade não é a reciclagem que eu acho importante, mas sim a relação das pessoas com o lixo, essa relação faz (ou deveria fazer) com que você repense seus hábitos de consumo e esse é um problema que todo mundo ignora porque acha que uma vez que você joga uma coisa no lixo o problema desaparece…

Pesquisando mais sobre lixo e o gerenciamento dele em Cingapura achei que o lixo aqui é incinerado em usinas que geram energia (por isso reciclagem não é tão importante, afinal quanto mais lixo, mais energia), mas mesmo assim a agência nacional de meio ambiente tem o como objetivo atingir 65% de reciclagem do lixo até 2020 e 70% até 2030. Por conta de incinerar o lixo antes eles conseguiram fazer o primeiro aterro sanitário no meio do mar, uma vez que só as cinzas do lixo vão para o aterro. Pra saber mais sobre o aterro achei o video institucional:

Amazônia Pública – Tapajós

Acabei de ler um livro chamado Como mudar o mundo, e vou precisar muito da ajuda dele para não me sentir a pessoa mais impotente do universo depois de ler a última série de reportagens da Agência Pública sobre a Amazônia.

A única região da Amazônia que eu conheci é o oeste do Pará, às margens do Rio Tapajós, numa visita patrocinada pela Vivo e a Ericsson para acompanhar a inauguração da primeira torre de dados da região. E pensar que toda a beleza daquele local pode estar comprometida me deixa bem triste. Nada mais, nada menos que um complexo hidrelétrico com 7 represas estão programadas para o local, esse é um dos aspectos levantados nessa terceira semana de reportagens, essa semana sobre o Rio Tapajós.

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Rio Tapajós. Foto: Fernanda Ligabue.

Tudo que essas reportagens contaram só mostra o jeito capitalista de desenvolvimento, o jeito capitalista de crescer e o jeito capitalista de ser dos governos. É errado? Bom, não tenho achado que seja o melhor caminho, mas parece que é o melhor que a humanidade tem conseguido. E como faz para mudar isso? Como faz para fazer realmente diferente em que todos saiam perdendo o menos possível? E rápido por que não adianta nada pensar que poderia ter sido diferente depois do estrago feito.

Eu sei que lendo essas reportagens me senti muito impotente… Chega a ser desanimador, o que será que se pode fazer e não deixar a Amazônia virar um canteiro de obras?

Amazônia Pública – Rio Madeira

Semana passada a Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo iniciou uma série sobre a Amazônia, Carajás e a exploração do ferro foi o primeiro tema. Essa semana o tema são as usinas hidrelétrica que estão em construção ao longo do rio Madeira, Jirau e Santo Antônio.

Ano passado conheci um colega geólogo que esteve a trabalho nas 2 obras e as histórias contadas por ele eram verdadeiros shows de horrores, praticamente tudo que as reportagens dessa semana contam de alguma forma esse meu colega também citou. E assim como em Carajás o problema social causado é, na minha opinião, o pior e o mais difícil de resolver.

2012 / Marcelo Min / Fotogarrafa / UHE JIrau
Usina hidrelétrica de Jirau. Foto Marcelo Min.

Segundo esse meu colega não eram todas as empresas que tratavam mal seus funcionários ou não davam condições adequadas de trabalho, algumas empreiteiras da obra tinham lista de espera de funcionários pois nelas as pessoas sabiam que seria bem tratadas. Mas provavelmente essas empresas devem ser excessões.

Só eu fico assustada quando ouço ou leio as histórias dessas obras? E não falo apenas dos maus tratos dos trabalhadores, da destruição de vilarejos e vidas de pessoas, mas será que as se tem ideia do impacto que é uma espécie de peixe sumir de um ecossistema? Como podemos deixar isso acontecer em pleno 2012? Bom, se o mundo acabar tá tudo resolvido, mas e se não acabar?

As perguntas que ficam (afinal, eu nunca tenho respostas só mais perguntas) hidrelétricas geram mesmo energia limpa? A gente ignora todo o impacto causado na construção e tudo bem? Ok, ok, precisamos de energia, mas será que não dá pra fazer de um jeito melhor? Quero acreditar que essas obras também teve gente da região impactada positivamente e não apenas financeiramente…

A melhor campanha da Shell, ou não.

Adoro dizer: “Ah, as mídias sociais…” Essa minha frase serve para quase todos os contextos, seja para dizer que elas são o máximo, que eu as odeio, que elas ajudam as pessoas ou pra convencer alguém que esse negócio vale a pena, ou não. E a Shell deve estar pensando exatamente a mesma coisa: “Ah, as mídias sociais”.

Lá nos EUA ela lançou uma campanha para ajudar a convencer as pessoas que explorar petróleo no ártico é uma excelente ideia e para isso resolveu contar com a ajuda das redes sociais! Como? Você entra no site Let´s Go Public! e você lê esse recadinho (tradução livre minha):

“Aqui na Shell, estamos empenhados em mídias sociais. Afinal, é o combustível que lubrifica os motores de comunicação pela internet.

Em junho, milhares de vocês demonstraram isso explicando, online, como a produção de energia no Ártico vai transformar o mundo e, possivelmente, fornecer combustível a preços acessíveis por vários anos.

Hoje, queremos levar a mensagem do “Prontos para o Ártico” para fora da internet, diretamente para os motoristas que se beneficiam de combustíveis de alto desempenho da Shell. É por isso que estamos lançando uma nova campanha (data limite esta quinta-feira!), a partir do qual os melhores anúncios serão impressos e colocados em locais estratégicos em todo o mundo. Com a sua ajuda, nós da Shell podemos dizer ao mundo como estamos entusiasmados sobre a energia do Ártico, e levar a mensagem do “Prontos para o Ártico” para motoristas em toda parte.

Então, tome um tempo para adicionar seu próprio slogan para a nossa bela coleção de imagens. O próximo lugar que você ver esse anúncio pode ser o seu próprio espelho retrovisor.

Porque amanhã é ontem, acelera.

Vamos lá.”

Ai tem um gerador de anúncios, você seleciona uma linda imagem de uma galeria de fotos, faz sua frase e pronto tá feito seu anúncio!

Mas o tiro saiu pela culatra e olha os anúncios que apareceram:

Dane-se o gelo, eu preciso entrar em forma mesmo.
Ainda deve ter algum gelo na Antártica
Você não vai sentir minha falta tanto quanto do seu carro
Tire uma foto isso não vai durar muito #shellnaterra
Isto é um urso polar, nós tiramos uma foto para seus filhos saberem onde eles viviam
Uma dessas coisas não pertencem a essa paisagem
Pássaros são como esponjas… para petróleo!

Claro que a geração de anúncios não está funcionando mais, nem podemos mais votar nas fotos e muito em breve é provável que até o site saia do ar, mas fala que não foi uma bela ação de mídias sociais? Só que ao contrário… 😉

Bom, esse seria o post, mas depois de escrevê-lo descobri que tudo não passava de uma ação da The Yes Men em colaboração com o Greenpeace e o movimento Seattle Occupy que criaram um site-paródia criticando as perfurações de petróleo da Shell no Ártico. Eu achei ótima e se não tivesse acreditado nela certamente esse post não teria saído.

Ah, Belo Monte…

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Eu não quero discutir Belo Monte, aliás já disse uma vez o que eu realmente defendo em relação a essa obra, principalmente depois de ler essa entrevista. Pra mim Belo Monte nada mais é do que o bode na sala, fica todo mundo falando disso e esquece de discutir o que realmente é importante para o futuro, o país, as pessoas. Brigar contra ou a favor de Belo Monte é apagar incêndio, é pensar em curto prazo, bem típico de brasileiro que não faz planejamento direito. E isso eu deixo para os ecochatos, os políticos que querem viabilizar essa obra e quem mais quiser, eu me abstenho, vou ficar em cima do muro mesmo, pois eu acho que pra essa questão nunca vamos encontrar o certo ou o errado, sempre vão existir ótimos argumentos para fazer e não fazer essa obra.

O que eu quero debater é: qual o nosso modelo de desenvolvimento? O dia que tivermos isso claro e de forma consensual a discussão de Belo Monte não existirá. Simplesmente por que se decidirmos que o nosso modelo é de explorar todos e quaisquer recurso até o fim sem pensar se haverá amanhã fazer essa obra é tudo de coerente, mas se o nosso modelo é de preservação, eficiência e tecnologia provavelmente Belo Monte não é parte dessa discussão. Simples assim. Ok, discutir esse modelo e chegar a esse consenso pode não ser tão simples, mas pra mim é a discussão que realmente interessa, o resto é só confirmação de que ainda não estamos maduros o suficiente pra sabermos de fato o que queremos como nação.

Belo Monte mais uma vez

Depois de alguns comentários no post Belo Monte, um ponto de vista, tive a impressão que talvez a capacidade de me expressar pela escrita estivesse falhando absurdamente. Mas achar isso foi um exagero meu, afinal eu não escrevo tão mal assim, então resolvi escrever outro post a respeito e tentar ser mais clara agora, pra quem sabe não restar dúvidas sobre meu ponto de vista em relação à obra.

Outro dia zapeando pela TV vi o final do programa que está aqui em cima (infelizmente os conteúdos das globo tem tempo de vida na internet) e hoje buscando mais informações sobre Belo Monte pude assistí-lo e compartilhá-lo. Achei sensacional colocarem 2 pessoas para debater sobre o assunto, uma a favor e outra contra. Conheço o Roberto Smeraldi pessoalmente, inclusive sigo-o no twitter.

Hoje na Folha de S. Paulo, coincidentemente ou não, saiu na seção debate um ponto de vista a favor e outro contra sobre a usina (infelizmente exclusivo para assinantes). Mudou apenas a pessoa a contra , dessa vez o Marcelo Furtado, do Greenpeace. Seria Luiz Pinguelli Rosa o maior e único defensor da Usina?

De verdade, em ambos debates achei que o Luiz se saiu melhor, tanto no discurso do Roberto Smeraldi como no do Marcelo Furtado encontrei falhas em seus argumentos, achei suas argumentações fracas e insuficientes para me convencer que fazer aquela hidrelétrica é pior coisa que pode acontecer. Mas nem por isso acho que a usina tem que ser feita, só constatei que os argumentos de quem a defende são melhores e mais consistentes.

Quais argumentos do Roberto Smeraldi e do Marcelo Furtado são fracos? Estamos falando de uma mega obra de engenharia que por si só gera um impacto enorme independente de onde for feita, falar que o local não está preparado para receber uma obra dessas é chover no molhado, existe algum lugar no mundo que estaria? Ela causaria impactos de todos tipos onde quer que fosse instalada, imagine fazer uma obra desse porte no Estado de São Paulo (lugar mais impactado e desmatado do Brasil, achismo meu), ela causaria tantos impactos, diferentes dos que serão causados na Amazônia, mas causariam também. Marcelo cita um estudo do Greenpeace chamado de (R )evolução energética, ainda não li, mas  a maneira como ele fala parece que para termos energia eólica e solar é a mágica que ninguém descobriu ainda, só Greenpeace! Por favor, energia causa impacto não importa de onde venha, ou você acha que os painéis solares são feitos de que? E as hélices das usinas eólicas? E que fazendas de captação de energia eólica não causa impacto nenhum? Não existe mágica nem mundo perfeito e duvido que as energias alternativas sejam tão cor-de-rosa assim.

Roberto Smeraldi também cita argumentos dos quais eu concordo como a inacessibilidade à energia gerada por essas grandes hidrelétricas para as pessoas da região norte, a falta de subsídio de igual tamanho para energia eólica ou a falta de efeciência na geração, tramissão e consumo da energia. Mas esses argumentos não são especificamente relacionados à Belo Monte, são argumentos para serem usados para criticar a política energética do país, entao ao meu ver não cabem necessariamente nessa discussão.

A grande maioria das pessoas que entraram no post anterior para defender o fim de Belo Monte apontam fatores sociais para a não construção da Usina. Ok, entendo que é um dos fatores mais delicados da obra e de verdade a única solução que eu vejo pra esse caso ao invés de se sair bradando contra a usina (ou talvez essa seja uma boa alternativa, depende do ponto de vista), eu defendo que a Amazônia como um todo tem de ser defendida, defendida com um desenvolvimento tecnológico e científico agressivo para toda a floresta, só assim todos envolvidos poderão se defender de projetos impactantes como esse de forma coerente e inteligente, não como já foi feito 2 vezes pelos índios com agressões e ameaças físicas. De verdade, antes de ser contra ou a favor de Belo Monte eu defendo tecnologia, ciência e educação da mais alta qualidade para todaa as pessoas da região norte do país, sem isso tudo me parece atrasado e incoerente.

Belo Monte, um ponto de vista

USINA DE BELO MONTE NO XINGU Rio Xingu

Sobre a obra de Belo Monte, de verdade, a única certeza que eu tenho é que temos dúvidas demais. Pelo menos tudo que tenho lido a respeito me leva a crer nisso. Mas com todo o bafafá da licença que foi liberada para a construção do canteiro de obras resolvi dar uma olhada em alguns dados.

Essa licença parcial polêmica que saiu autoriza a supressão de 238 hectares de vegetação, entre outras ações. E será que isso é muito? Talvez a questão nem seja discutir isso, mas vou me ater a esse dado. 238 hectares equivale a 2,38 km2, isso é uma área de aproximadamente 1,5km x 1,5km.

Considerando que só nos meses de novembro e dezembro de 2010 foram desmatadas na Amazônia 135 mil km2 (13,500ha), desmatar 238ha para uma obra do tamanho que é Belo Monte é quase ridículo.

Ok, ok, essa é só a licença de instalação e a área total da obra são 51,600 ha, ou seja, mais desmatamento por conta da obra vem por ai. Mas vamos combinar que pra quem já desmatou em um único mes, só na Amazônia, 48,500ha, desmatar por conta de uma obra um pouco mais que isso em aproximadamente 4 anos não me parece tão absurdo assim. A gente desmata, queima e destrói provavelmente ilegamente um número absurdo de floresta e agora para construir uma hidrelétrica fica todo mundo fazendo drama? Energia tem que vir de algum lugar e infelizmente tem seus custos e alguém tem que pagar.

Calma! Antes que comecem a me apedrejar aqui é o seguinte, eu nao to dizendo que a obra de Belo Monte tá tudo certo e vamos que vamos construir mais uma hidrelétrica, não é isso! O que eu to querendo demonstrar aqui é que a gente destrói de floresta sem construir nada em troca e muitas vezes ilegalmente muito mais floresta do que vão desmatar com  Belo Monte, percebe a lógica? Belo Monte tem vários outros problemas além do desmatamento? Sim, com toda a certeaza, só pra começar uma licença parcial que inexiste na legislação ambiental brasileira para caso de hidrelétricas, mas também não podemos esquecer de outros argumentos para esse discussão, todo mundo quer falar de crescimento, desenvolvimento, mas tudo isso tem um custo e alguém tem que pagar por ele. Torço e espero de verdade que os técnicos do IBAMA e do Ministério do Meio Ambiente estejam fazendo o melhor para que essa obra não se torne um arrependimento ambiental no futuro. Eu só tenho percebido que o debate tem ficado somente de um lado e não podemos esquecer que tudo pode ter vários lados.

Leia um artigo muito bem ponderado sobre a usina: Pela imparcialidade em Belo Monte.