O problema é só a escala…

Eu realmente gostaria de terminar o ano com um post otimista dizendo o quanto eu vejo no futuro um mundo melhor, mas não, o mundo adora me contrariar e só me diz que tudo só tende a piorar… Eu queria muito ter terminado o ano sem ter lido esse artigo do Valor Econômico: Choque de escala. Nunca li tanta barbaridade atrás da outra numa reportagem que se dize sobre  sustentabilidade, num suplemento do jornal chamado “Negócios sustentáveis”. PARA A PORRA DO MUNDO QUE EU QUERO DESCER!!!!!!!!

A começar para a chamada da reportagem: “Marina Grossi, presidente do Cebds: “As soluções para os principais dilemas já existem, mas precisam ser difundidas e ganhar escala, com base em metas mensuráveis, para que tenham viabilidade””. Cara Marina Grossi de quais dilemas você se refere? Eu não vejo solução para a obssessão do mundo por crescimento, não vejo solução para a sociedade consumista que estamos inseridos e nem vejo solução para a destruição em massa da biodiversidade mundial. Para mim esses são dilemas essenciais que temos no mundo hoje e que não vejo nenhuma solução que precisa ser apenas difundida e ganhar escala. Se você tem essa resposta, por favor me escreva e me conte para que eu não ache que tudo continua perdido.

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Outra pérola da reportagem  veio da gerente de sustentabilidade da Unilever, Ligia Camargo: “”Queremos dobrar de tamanho e reduzir pela metade o impacto ambiental até 2020″, conta . A empresa pretende contribuir para um planeta saudável vendendo mais produtos, principalmente aqueles ligados a aspectos socioambientais, aumentando o faturamento anual de € 40 bilhões para € 80 bilhões.” Planeta saudável vendendo mais produtos!!!! Que planeta essas pessoas vivem? E ainda imenda “Com o sabonete bactericida, por exemplo, o plano é estimular o hábito de lavar as mãos, com reflexos na redução da mortalidade infantil e no bem-estar de 1 bilhão de pessoas no mundo.” Pra que sabonete bactericida se as pessoas nem água encanada tem??? Se apenas 57% dos domicílios brasileiros estão ligados a redes de esgoto? Já tô vendo o povo tomando banho com sabonete bactericida naqueles açudes lamacentos do nordeste brasileiro e da África no relatório de sustentabilidade da empresa. E por fim, mas não menos importante, querida Unilever, se você quer de fato diminuir seu impacto, para dobrar de tamanho você tem que anular seu impacto ambiental, não apenas reduzí-lo pela metade, de que adianta gastar 5 ao invés de 10 para produzir se vcoê tá produzindo o dobro? Pra mim a conta continua não fechando.

E o último achado da reportagem: “”O resultado financeiro é uma das metas de sustentabilidade“, argumenta Soto.  Ele cita o economista indiano Pavan Sukhdev, autor do livro “Corporação 2020”, no qual traça as condições para o desenvolvimento de empresas mais responsáveis e destaca a importância da viabilidade econômica.  “Não podemos esperar até 2050 ou 2100 para fazer mudanças no desempenho ambiental; as transformações devem ocorrer na próxima década se quisermos manter a esperança de construir uma economia sustentável”.” Eu não li o livro Corporação 2020, apenas vi a promoção do livro no site Planeta Sustentável, mas pelo que eu pude entender o que tá em jogo nesse trecho da reportagem é a sustentabilidade financeira das empresas, a economia sempre em primeiro lugar, se tiver ganho ambiental, social e o que for, legal, mas não é o primeiro objetivo, nunca.

Ontem li essa entrevista ‘O capitalismo sustentável é uma contradição em seus termos’ diz Eduardo Viveiros de Castro e com a reportagem de hoje só comprovei, mais uma vez, que a sustentabilidade é mesmo coisa de hippie, por que quem manda no dinheiro, quem compra, quem consome e vende tá pouco preocupado com o futuro do seres humanos, ninguém tá muito interessado em mudar seu estilo de vida para ter um planeta mais habitável. Então por favor, vamos parar de nos enganar, empresas digam logo: Nós queremos lucros estratosféricos nem que isso comprometa a existência dos seres humanos no longo prazo e seres humanos assumam: Num tô nem ai para o resto do mundo e para as futuras gerações, quero consumir muito e sempre mais.

Que venha 2014.

One comment

  • João Marx
    23 de dezembro de 2013 - 19:46 | Permalink

    Parabéns! Excelente texto, me interesso muito por esse tema.
    Fim de ano só pondero o consumismo, desperdício e "falácias verdes".
    Fico imaginando quando a Sustentabilidade será um fato ou uma meta global, substituindo o atual interesse crescimento econômico lunático.
    Seria algo idealista de mais, impossível ou futurista??

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