Pra mim mostra que a marca está de fato se empenhando em entrar na economia circular e quem sabe futuramente mudar seu modelo de negócio. Já imaginou o dia que a Ikea não venderá mais móvies mas sim simplesmente alugará e estará sempre responsável por toda a vida de seus produtos?
Eu sei que esse conceito é muito estranho para a maioria das pessoas no Brasil, somente quem é muito rico troca móveis da casa com frequência, mas em países ricos trocas de móveis da casa é quase que nem comprar roupa nova a cada estação.
Quem já faz isso e durante muito tempo foi case de sucesso de sustentabilidade por anos é a Interface floor. Uma empresa de carpetes e pisos de vinil que não apenas os vende, mas se responsabiliza pelo recolhimento, reciclagem e reuso do material. Tudo bem que carpete é algo muito relacionado a países frios e aqui são poucos os ambientes que usam esse tipo de solução, mas pensar em reutilizar o material e se preocupar com o destino dos resíduos é algo bem inovador (não deveria, mas é).
Voltando ao caso dos móveis da Ikea, de certo modo, isso meio que existe no Brasil, toda cidade tem sua loja de móveis usados ou herdar móveis de alguém que está mudando não é algo incomum. Mas quem já não viu por ai um sofá descartado num riacho? Ou mesmo algum móvel dando as caras no esgoto na época de chuva e enchentes em grandes cidades? Torço que várias marcas se empenhem nesse sentido e até mesmo outras indústrias como de carro ou tecnologia por exemplo. Gostaria de vê-las se preocupando com o que acontece com seus produtos depois que seus clientes se desfazem deles.
Vamos fazer um exercício mental aqui. Só por diversão.
Imagina que você tem um produto super inovador que seu cliente adora. Vende super bem, dá lucro e funciona. Mas o produto tem um problema sério de ciclo de vida. Quando ele foi inventado ninguém se preocupava muito com geração de lixo e o problema do seu produto está aí. A vida útil dele é relativamente curta depois que o cliente compra, ele usa e já descarta e não tem muito o que fazer com o produto depois de usado. E como reciclagem não chega em todos os lugares do mundo não é o que acontece com seu produto por mais que você se esforce em recolhê-lo e reciclá-lo. Alguns lugares do mundo até já proibiram o seu produto.
E agora responsável pelo produto? O que você faz?
Finge que não é problema seu, afinal, a sua função é oferecer um bom produto para seu consumidor e fim.
Você faz a sua parte de tentar recolher o que é possível e dar um destino correto. Mas joga parte da culpa de não dar um destino correto para toda a sua produção no seu consumidor, afinal ele também não colabora na hora de dar um destino certo ao produto.
Começa a gastar toda sua energia, dinheiro e empenho em desenvolver um produto melhor que não gere mais resíduos pós consumo. Mesmo que depois de todo esse processo e esforço você descubra que tenha que desistir do seu produto já consagrado e criar um novo.
Você pode sugerir outras soluções e opções se você tiver e for mais criativo que eu.
Adendo: seu produto não é único no mercado. Ele é apenas uma forma diferente e cômoda de obter o mesmo resultado obtido de outras formas um pouco mais trabalhosas ou apenas mais diversas.
Alguma pista de que produto é esse? Fiquei impressionada que pude pensar em outros produtos além do qual eu tinha em mente originalmente.
E você consumidor do produto o que faz? Qual a sua atitude? Para de usar o produto? Cobra uma atitude da empresa que produz? Finge que nada disso é com você ou sequer tem consciência que usar esse produto gera um impacto e existem outras soluções?
Fazia tempo que eu não colocava um texto traduzido aqui no blog (confesso que sou uma péssima tradutora), mas quando li esse vi que precisava compartilhar! E com a ajuda do Google Translate resolvi postar aqui. A versão original em Inglês: Sustainability is impossible until companies admit environmental cost.
Enquanto o impacto das empresas no meio ambiente permanecer ignorado a questão de como a sociedade lida com as consequências dos danos permanecerá sem resposta
Por Joseph Zammit-Lucia
De férias, recentemente, visitei a área sagrada japonesa de Kumano Kodo. Milhas de caminhadas marcam rotas de peregrinação da antiga capital de Kyoto para uma série de santuários localizados em torno da península Wakayama.
Nós estávamos andando em um alto cume e paramos para olhar e ouvir os sons da floresta – o canto dos pássaros , uma variedade de ruídos de insetos e grandes borboletas .
Mas havia algo de estranho. O som estava vindo para nós em mono, não em estéreo. Um dos lados do cume caiu vertiginosamente. A floresta era exuberante, variada e cheia de vida animal e de insetos. Foi a partir deste lado que a cacofonia de som estava vindo. O outro lado do cume era menos íngreme e tinha sido explorada comercialmente como uma plantação de madeira: a monocultura de pinheiros. Nenhum ou muito pouco de vida além dos pinheiros -se poderia sobreviver aqui.
De acordo com algumas normas, as plantações de pinheiros pode ser considerado “sustentável”. Elas são bem geridas, o re- plantio ocorre e o solo é mantido em boas condições. Mas o que acontece a grande quantidade de outras formas de vida que foram expulsas e destruídas no processo de transformar cadeias de montanhas inteiras em florestas manejadas? Quem banca os custos disso? A gestão de “externalidades” – como tal dano é um- emocionalmente marcado por economistas – tem provado ser uma das questões mais difíceis no caminho para a sustentabilidade.
Não só a capacidade das empresas a fazer danos ou despejar seus resíduos sem impedimentos prejudicar o meio ambiente. Ela pode levar à criação de produtos que podem ser prejudiciais à saúde humana. Pegue a indústria de criação de salmão norueguês – e a maioria das agriculturas de salmão em outro lugar, muitas delas controladas por empresas norueguesas. Um relatório sobre salmão de viveiro pelos Guerreiros Verdes da Noruega, afirmou que “os peixes de viveiro é o produto mais tóxico da Noruega.” Por quê?
A proporção desses produtos químicos permanecem no peixe e, como resultado, o salmão que comemos pode ser muito longe da limpo, saudável , natural (produto que se posiciona como). Até mesmo a coloração típica salmão é frequentemente adicionada quimicamente, o salmão de viveiro tem a carne cinza. A questão da imposição de custos sobre os outros tem sido um dos mais intratáveis no debate sobre a sustentabilidade. As tentativas para avançar foram criticadas por todos os lados. As empresas têm resistido a assumir a totalidade dos custos de suas atividades. Mesmo quando as tecnologias alternativas que poderiam eliminar e reduzir significativamente o impacto já existem e são acessíveis – como na criação de salmão – produtores se recusam a adotá-las.
Reguladores preferem manter o status quo em vez de descarregar as responsabilidades com o ambiente e a saúde humana. Por outro lado , alguns grupos ambientalistas se opuseram às tentativas de compensar alguns dos custos externalizados da indústria como representando uma mercantilização da natureza.
A indústria não pode absorver custos anteriormente externalizados da noite para o dia. É também claro que continua a ignorar as consequências, o que também não é aceitável.
Um primeiro passo seria uma exigência para todas as empresas a serem transparentes sobre as externalidades que geram em termos de finanças, meio ambiente e saúde. Podemos, então, iniciar uma discussão aberta perguntando: se as empresas não querem arcar com estes custos que elas geram, como deve a nossa sociedade lidar com eles? Enquanto esses custos permanecerem ocultos e largamente ignorado, tal discussão é impossível.
Há sinais de progresso. A nova exigência do Reino Unido para as empresas informarem sobre as emissões de gases de efeito estufa a (GEE ) é um passo bem-vindo. Mas a exigência deve ser estendida para incluir todo o tipo de impacto ambiental externalizada em toda a cadeia de abastecimento.
Algumas empresas já começaram este processo. Puma é provavelmente o mais conhecido por sua demonstração de resultados do meio ambiente. Patagônia é outra empresa que leva a sério as suas responsabilidades ambientais . Eles têm feito grandes progressos, mas ainda não totalmente transparente e responsáveis por todos os custos impostos ao meio ambiente e à saúde humana.
Estamos todos chocados quando vemos imagens de aberto de lixo nas ruas ou pilhas de resíduos nas cidades de muitos países em desenvolvimento. No entanto, a discussão sobre a grande quantidade de custos externalizados pelas indústrias em todo o mundo recebe pouca atenção.
Até as corporações começarem a ser totalmente transparente sobre os custos totais que eles impõem sobre o meio ambiente e os reguladores começarem a tomar tal despejo a sério, grande parte da conversa sobre a criação de negócios sustentáveis permanecerá apenas da boca para fora. Transparência e um debate aberto sobre como, como sociedade, deve cobrir os custos externalizados estão ambos muito atrasadas.
Eu realmente gostaria de terminar o ano com um post otimista dizendo o quanto eu vejo no futuro um mundo melhor, mas não, o mundo adora me contrariar e só me diz que tudo só tende a piorar… Eu queria muito ter terminado o ano sem ter lido esse artigo do Valor Econômico: Choque de escala. Nunca li tanta barbaridade atrás da outra numa reportagem que se dize sobre sustentabilidade, num suplemento do jornal chamado “Negócios sustentáveis”. PARA A PORRA DO MUNDO QUE EU QUERO DESCER!!!!!!!!
A começar para a chamada da reportagem: “Marina Grossi, presidente do Cebds: “As soluções para os principais dilemas já existem, mas precisam ser difundidas e ganhar escala, com base em metas mensuráveis, para que tenham viabilidade””. Cara Marina Grossi de quais dilemas você se refere? Eu não vejo solução para a obssessão do mundo por crescimento, não vejo solução para a sociedade consumista que estamos inseridos e nem vejo solução para a destruição em massa da biodiversidade mundial. Para mim esses são dilemas essenciais que temos no mundo hoje e que não vejo nenhuma solução que precisa ser apenas difundida e ganhar escala. Se você tem essa resposta, por favor me escreva e me conte para que eu não ache que tudo continua perdido.
Outra pérola da reportagem veio da gerente de sustentabilidade da Unilever, Ligia Camargo: “”Queremos dobrar de tamanho e reduzir pela metade o impacto ambiental até 2020″, conta . A empresa pretende contribuir para um planeta saudável vendendo mais produtos, principalmente aqueles ligados a aspectos socioambientais, aumentando o faturamento anual de € 40 bilhões para € 80 bilhões.” Planeta saudável vendendo mais produtos!!!! Que planeta essas pessoas vivem? E ainda imenda “Com o sabonete bactericida, por exemplo, o plano é estimular o hábito de lavar as mãos, com reflexos na redução da mortalidade infantil e no bem-estar de 1 bilhão de pessoas no mundo.” Pra que sabonete bactericida se as pessoas nem água encanada tem??? Se apenas 57% dos domicílios brasileiros estão ligados a redes de esgoto? Já tô vendo o povo tomando banho com sabonete bactericida naqueles açudes lamacentos do nordeste brasileiro e da África no relatório de sustentabilidade da empresa. E por fim, mas não menos importante, querida Unilever, se você quer de fato diminuir seu impacto, para dobrar de tamanho você tem que anular seu impacto ambiental, não apenas reduzí-lo pela metade, de que adianta gastar 5 ao invés de 10 para produzir se vcoê tá produzindo o dobro? Pra mim a conta continua não fechando.
E o último achado da reportagem: “”O resultado financeiro é uma das metas de sustentabilidade“, argumenta Soto. Ele cita o economista indiano Pavan Sukhdev, autor do livro “Corporação 2020”, no qual traça as condições para o desenvolvimento de empresas mais responsáveis e destaca a importância da viabilidade econômica. “Não podemos esperar até 2050 ou 2100 para fazer mudanças no desempenho ambiental; as transformações devem ocorrer na próxima década se quisermos manter a esperança de construir uma economia sustentável”.” Eu não li o livro Corporação 2020, apenas vi a promoção do livro no site Planeta Sustentável, mas pelo que eu pude entender o que tá em jogo nesse trecho da reportagem é a sustentabilidade financeira das empresas, a economia sempre em primeiro lugar, se tiver ganho ambiental, social e o que for, legal, mas não é o primeiro objetivo, nunca.
Ontem li essa entrevista ‘O capitalismo sustentável é uma contradição em seus termos’ diz Eduardo Viveiros de Castro e com a reportagem de hoje só comprovei, mais uma vez, que a sustentabilidade é mesmo coisa de hippie, por que quem manda no dinheiro, quem compra, quem consome e vende tá pouco preocupado com o futuro do seres humanos, ninguém tá muito interessado em mudar seu estilo de vida para ter um planeta mais habitável. Então por favor, vamos parar de nos enganar, empresas digam logo: Nós queremos lucros estratosféricos nem que isso comprometa a existência dos seres humanos no longo prazo e seres humanos assumam: Num tô nem ai para o resto do mundo e para as futuras gerações, quero consumir muito e sempre mais.
Terça-feira participei de um bate-papo com os responsáveis da Coca-cola sobre o Del Valle Reserva Açaí+Banana, que vem apresentar o novo coletivo da empresa, o Coletivo Floresta.
As primeiras unidades do Coletivo Floresta estão instaladas nos municípios de Manacapuru e Carauari, no estado do Amazonas, onde se localizam agroindústrias credenciadas pela Coca-Cola Brasil. A ideia do coletivo é ser uma parceria entre a empresa e o estado que por meio de um termo de cooperação, buscam um relacionamento com as comunidades extratoras, com o objetivo de preservar a cultura e o meio ambiente, e contribuir para seu desenvolvimento sustentável.
Pelo que eu pude entender a Coca-cola está tentando criar um novo jeito de fazer negócios. Ao invés de ir para o Pará e comprar açaí de comunidades já certificadas ela buscou ajudar na profissionalização das comunidades da Amazônia que ainda não chegaram nesse patamar de organização como fornecedoras de insumos da floresta. Pelo que eles contaram as comunidades que eles estão trabalhando eram comunidades ribeirinhas que não tinham necessariamente a cultura de vender o açaí, a maioria das pessoas que hoje fazem parte desse coletivo tinham o açaí como a árvore do quintal, sabe? Só coletavam para consumo próprio. E agora eles estão encarando a árvore do quintal como forma de renda.
Achei a iniciativa muito boa, afinal não foi apenas um novo produto no portfolio da DelValle, foi além disso, é um novo modelo de negócios que incentiva o empreendedorismo das comunidades da Amazônia.
Mas como eu já falei aqui uma vez, eu não fico feliz com o “produto eco” onde todos os outros produtos da empresa não tem nada de eco, verde, sustentável ou responsável e logicamente perguntei quais os planos para as outras linhas de produtos da marca. Eu achei que essa seria só mais uma pergunta retórica com a resposta clássica, “por enquanto não temos planos de ampliar essas práticas para as outras linhas”, mas eles cogitam a ideia de fazer o mesmo com outras linhas dos sucos DelValle sim, inclusive o responsável pela área de negócios sociais, Pedro Massa, que fez a apresentação, falou que já andou visitando alguns produtores de manga, tomara que daqui algum tempo a gente tenha não só o Coletivo Floresta de açaí na Amazônia, mas também o de manga, abacaxi, maçã por todo o Brasil.
Sobre o produto: experimentei o néctar e gostei, mas confesso que não sou muito fã de açaí, acho o sabor muito forte, pra mim é uma bebida pra tomar só de vez em quando.
Durante a Rio+20 um dos stands dos países no Parque dos Atletas que eu mais visitava era o da Coreia do Sul, por ser fã da revolução educacional que eles fizeram eu fiquei super interessada em conhecer mais sobre o que eles pensam sobre meio ambiente.
Entre os amigos voluntários conheci o André que fez um semestre lá na Coreia durante a graduação e o que ele contou sobre o país no quesito ambiental não é das coisas mais empolgantes 🙁 Assim como qualquer outro lugar do mundo (com raríssimas exceções) meio ambiente não é a prioridade deles e nem sempre as decisões levam a melhor solução ambiental em conta (coisas da democracia?).
De tanto ir no stand eu ganhei um pen drive com vários documentos e vídeos e um dos vídeos que eu vi me deixaram meio “assustada” seguem:
Por que eu fiquei assustada? Ele é um pouco complicado por que não tem legenda, mas não dá uma sensação de consuma a vontade, desde que seja com selo verde tudo bem. Economia verde é consumir produtos verdes e só? Nem passa perto da redução de consumo ou repensar hábitos? Me decepcionei um pouco com isso, mas…
Ai ontem lendo a Página 22 vi a entrevista do presidente do Instituto de Tecnologia e Indústria Ambiental da Coreia do Sul (Keiti, na sigla em inglês) falando do cartão verde do país.
E aí os videos abaixo fizeram mais sentido.
Um mascote fofo (que eu ganhei de pelúcia) pedindo para as pessoas economizarem água e energia.
Será que um cartão desses cria consciência nas pessoas? Pensando na forma de consumir talvez faça as pessoas escolherem melhor o que consomem e como consomem, mas será que isso evolui para consumir menos, que na minha opinião é o mais importante de fato? Alguém conhece algum coreano (a)?
De todos os posts que eu me propus a escrever esse me pareceu o mais fácil de começar, vamos lá.
Um dos pontos que ouvi muita reclamação foram as praças de alimentação, todas com preço altos e com poucas opções verdadeiramente sustentáveis ou saudáveis, mas lá no Rio Centro o pessoal tinha uma opção a mais, uma pequena loja do supermercado Pão de Açúcar, com opções a um preço como os das lojas fora do evento e com produtos locais, naturais ou orgânicos e brasileiros. Senti inveja de quem estava no Riocentro por eles terem essa opção, achei a sacada dessa loja sensacional, tentei encontrar alguma coisa na internet que falasse mais disso, mas não vi nada (olha só como eles estão perdendo a oportunidade…). Antes que falem que o Pão de Açúcar é um supermercado caro eu quero dizer que dentro das opções dadas na praça de alimentação do Rio Centro essa era a mais coerente com o evento, afinal esse era um evento sobre desenvolvimento sustentável e não vender somente fast food e comidas de puro carboidratos já é um bom começo. Infelizmente não tirei fotos, mas pelo que ouvi dizer, foi um sucesso.
Em alguns momentos essa conferência não se diferencia em nada de outras que eu já foi por ai, tem um monte de stands e um monte de gente e não pude deixar de reparar em como o lixo foi tratado (pelo menos no parque dos atletas). Na maioria dos locais você via 2 tipo de lixeira, uma azul para materiais recicláveis e uma cinza para materiais não recicláveis e as vezes uma laranja para pilhas e baterias. Bem fácil, nao? É a separação que eu faço aqui em casa, mas quem disse que as pessoas sabem ou se preocupam com em jogar o lixo certo no lugar certo? Como já disse, as pessoas precisam mudar a relação delas com o lixo para ai sim vermos a coleta ser efetiva por aqui.
Uma coisa que me deixou chocada foi o desespero das pessoas por brindes! Impressionante! Cheguei a ter momentos de vergonha alheia ao ver os brasileiros esfomeados por pen-drives, ecobags, mudas de plantas, bibelôs e coisas afins, como queremos um mundo com menos consumismo se as pessoas querem qualquer quinquilharia desde que seja de graça (ou talvez só por ser barato demais)?
Vi gente reclamando do excesso de papel do evento, mas enquanto reclamava disso estava carregando sacolas e sacolas cheia deles… Bom, se papel realmente te encomoda recuse-os, mas eu ouvi: ah, mas eu queria a informação e não tinha de outro jeito, bom, é fácil colocar a culpa nos outros, né? Eu numa situação dessas recusaria o papel e ainda diria para a pessoa por que estava recusando ou simplesmente pegaria e não reclamaria depois, acredito que a gente sempre tem escolha e até não escolher é uma delas.
Esses dias estou a pensar se as poucas coisas que eu acho que faço a favor do meio-ambiente, como consumir menos, por exemplo, realmente faz alguma diferença. De verdade a única diferença que eu tenho sentido é a minha insatisfação e sensação de impotência.
Por exemplo, eu não troco meu telefone celular faz 3 anos, ao longo de 7 anos, tive três aparelhos, 1 está engavetado, meio capenga, mas ainda funcionando, o outro em uso com meu irmão e o atual comigo. Pois bem, até penso em trocar de aparelho, mas eu fico com peso na consciência pois estou substituindo um item que ainda está em funcionamento, e me pergunto se realmente é necessário. Só que ao me redor parece que eu sou a única pessoa que pensa alguma vez antes de trocar seu aparelho celular… As pessoas simplesmente trocam seus aparelhos, por que apareceu um modelo novo mais legal, por que a bateria acabou, por que o atual aparelho tá velho ou por que deu vontade…
Outra coisa, comida… Só eu me privo de comer salmão, cação, frango, aquele sorvete Melona, o Häagen-Dazs e outras tantas coisinhas porque considero a pegada de carbono, ou a biodiversidade, ou o mínimo de respeito aos animais, nao vejo ninguém por ai dizendo que não come camarão por princípios, aliás a única coisa que eu já ouvi alguém dizendo é que não come é foie gras, que convenhamos, não acho que faça parte do prato cotidiano de muitos brasileiros.
Me pergunto: toda essa chatice minha serve pra quê? Para fazer parte do clube das pessoas que se sacrificam em prol de um mundo melhor e não ganham nada com isso? De verdade eu não vou dormir mais feliz por causa disso, nem me sinto uma pessoa que faz alguma diferença no mundo. É, talvez tudo isso seja uma grande bobagem mesmo e eu tô me sacrificando à toa.
Perdemos o Banco Real. Não sei se os clientes do banco realmente lamentam por isso, mas pra quem conhecia o case Real de sustentabilidade talvez seja alguma perda.
O Santander, comprador do Banco Real, provavelmente vai dizer que todas as práticas do Real de sustentabilidade foram mantidas e blablabla, mas qualquer um que conhecia das práticas do Real sabe que isso pode não ser bem verdade.
Vou usar um exemplo bem emblemático. Fórmula 1. O que a Fórmula 1 tem a ver com a sustentabilidade? Um esporte que transporta toneladas de equipamentos ao redor do mundo durante uns 8 meses do ano, que causa a maior poluição sonora, que queima combustível fóssil para ver quem chega mais rápido, que deve gerar uma quantidade louca de resíduos (alguém faz ideia com o que acontece com todos aqueles pneus usados nas corridas e treinos?)… Sustentável, hein? Nada contra Fórmula 1, nada mesmo, até costumo acompanhar pela tv de vez em quando, mas dizer que é um esporte sustentável é forçar bem a barra. Não que o Santander tenha dito isso, mas um banco que preza por ações que se preocupam com o futuro do planeta não tem nada a ver com o patrocínio de um esporte como esse… Ainda se fosse uma competição de vela…
Outra coisa que tem causado minha indignação… Empresas que fazem ações relacionadas a sustentabilidade e insistem no papo ação individual, economia de energia, reciclagem… Até quando as empresas vão ficar repetindo esse mantra?? Ação individual pode ajudar alguma coisa mas não vai NUNCA resolver o problema, economizar energia e reciclar não são o suficiente para conseguirmos melhorar a nossa situação no planeta. Quem DE FATO precisa mudar são as empresas e não apenas numa linha de produtos, mas em todo seu modo de produção e operação, por que será que é tão difícil de entender isso? Ok, ok, não é fácil, não é barato ser sustentável, nem tenho certeza se isso é lá muito possível, mas não me vem tentar tapar o sol com a peneira. Propagandear sustentabilidade não é sustentabilidade, nem aqui nem na China, onde acho que começam a se preocupar como tema…
Outra coisa também são os sites corporativos… Todos, TODOS (principalmente os relacionados com atividades industriais) tem em algum lugar de seus sites alguma coisa relacionada a sustentabilidade. Pode não dizer nada de concreto, mas tá aí no site que a minha empresa tem, tá? Seja lá o que de fato isso for.
Eu não gosto de ser assim rabugenta, não gosto mesmo, mas irrita ver todo mundo falando que está preocupado com o futuro do Planeta, mas de concreto mesmo só discurso, economia de energia e reciclagem, gente, vamos passar dessa fase, por favor? Quando vamos entender que a redução da população mundial e do consumo é que vão de fato fazer a diferença pra conseguirmos continuar com a espécie humana por aqui por mais algum tempo?
Ser ambientamente correto, responsável e sustentável não é das tarefas mais fáceis que existe, sempre existirá uma dúvida, uma incerteza e nenhuma prova de que a opção que você escolher é de fato a melhor. Na maioria das vezes você tem apenas o bom-senso.
Eis algumas perguntas que eu não sei a resposta e espero que alguém me ajude a respondê-las. Talvez até faça um post de cada uma delas para tentar encontrar a melhor solução. Em itálico coloquei minhas respostas rápidas baseadas em bom-senso, mas não tenho nada que as comprove como de fato uma melhor opção.
Qual a melhor opção produtos orgânicos de longe ou produtos normais de perto? Normais próximos à minha casa, baixa pegada de carbono, apesar do impacto que os agrotóxicos possam ter no ambiente e na minha saúde.
Lenços/ guardanapos de papel ou de pano? Esse texto tenta ajudar na resposta, mas não me convenceu muito (em inglês). Como na conclusão do texto também acho que depende, mas em restaurante por exemplo sempre prefiro (quando tenho opção) guardanapos de pano.
Carros elétricos são realmente a melhor opção quando a matriz energética é suja (petróleo, carvão)? Eu ACHO que não, mas é apenas achismo.
Xícaras de porcelana/cerâmica são realmente a melhor opção quando se recicla os copinhos de plástico? Porcela/cerâmica não se recicla e também são materiais não renováveis. Essa pergunta eu não faço idéia da melhor opção, ainda mais com o condicionante de se reciclar os copinhos plásticos.
A água gasta para lavar canecas compensa o uso delas? Não sei mesmo!Materiais novos x água é sempre uma dúvida cruel pra mim…
Compensa trocar produtos velhos (geladeira, ar condicionado, carro) com baixa eficiência energética por novos e que gastem menos energia? A princípio sim para diminuir o consumo de energia, mas e o lixo gerado com os produtos velhos? Quem cuida?
Usar papel higiênico ou ducha na hora de usar o banheiro? Essa dúvida se responde com outra pergunta: O que é mais barato tratar água ou fazer papel? Bom, papel gera lixo, mas também pode virar energia ou humus... (colaboração do amigo Igor Santos).
Provavelmente deve ter mais 1001 dúvidas que passam pela minha cabeça, mas no momento são essas que me lembro. A Tatiana Nahas, do Ciência na Mídia também levantou questões sem respostas bem interessantes no post o lixo, o consumo e a matemática.