>O Conselho dos Deuses de Seattle

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Em 1962, o Hospital Sueco de Seattle começou a abrir seu programa de diálise para pacientes. Como havia apenas 17 vagas para um programa pioneiro, o hospital montou um “comitê de políticas de admissão” formado por pessoas bastante comuns: um pastor, um advogado, uma dona-de-casa, um líder sindicalista, um funcionário público, um banqueiro e um cirurgião.
Na peneira para escolher os candidatos, o comitê considerava se o paciente: (a) era empregado; (b) tinha filhos; (c) era educado; (d) tinha um histórico de realizações pessoais e (e) tinha potencial para ajudar outras pessoas. Em suas deliberações, o conselho ainda avaliava a personalidade do candidato, seus méritos pessoais e as forças e fraquezas de sua família. 
“O candidato preferido” — relataram os sociologistas Renée Fox e Judith Swazey — “era uma pessoa que havia demonstrado realizações através de trabalho duro e sucesso profissional, alguém que ia para a igreja, participava de grupos e estava ativamente envolvida em assuntos da comunidade.” Pode parecer um processo seletivo bastante isento e objetivo vindo de pessoas tão comuns.
No entanto, quando a atuação do “comitê de políticas de admissão” foi divulgada pela imprensa, observadores passaram a questionar a ética de sua atuação e a qualificação de seus membros, majoritariamente leigos em questões médicas. Nenhum dos critérios usados levava em conta o estado da doença ou a expectativa de vida do paciente durante o tratamento.

Na primavera de 1963, o Seattle Times apresentou uma foto de nove candidatos à diálise em sua capa e perguntava: “Essas pessoas vão ter que morrer?” Um membro da comissão se defendeu: “Nós estamos escolhendo cobaias para fins experimentais. Não estamos negando a cura aos outros.” Hoje a ”Experiência de Seattle” é lembrada como um marco na formação da bioética.

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