Há invenções (e invetores) ganham fama por serem tão geniais que parecem à frente de seu tempo. Também há casos que, apesar do avanço e da genialidade, continuam largamente ignorados. Jack Jensen, por exemplo. Quem já ouviu falar de seu Airplane Hijacking Injector [ou Injetor de Sequestrador de Avião]? Não se engane pela denominação ambígua. Trata-se de um engenhoso
aparato para imobilização de passageiro montado sob um assento de aeroplano, remotamente controlado por um piloto ou membro da tripulação para imobilizar um sequestrador de aeroplano. O aparelho imobilizador compõe-se de um cinto de segurança sob controle de um solenoide em combinação com um encosto inflável e um aparelho de injeção hipodérmica arranjado para colocar a agulha de uma seringa hipodérmica, através do revestimento do assento, dentro do passageiro para instantaneamente sedar ou matar o passageiro.
Ou seja, Mr. Jensen, texano de Fort Worth, criou um sistema antiaeroterrorista ainda nos anos 1970, muito antes da paranoia nos aeroportos causada pela Al-Qaeda (ou, no caso do Brasil, pela Infraero). A justificativa da patente 3.841.328, emitida em 15 de outubro de 1974, parece ter sido escrita ontem:
Sequestros de aeroplanos estão se tornando rapidamente ocorrências que ameaçam imensamente a vida tanto de passageiros quanto da tripulação, com resultados como perda substancial de propriedade, inconveniência para os passageiros, que podem ser equivocadamente detidos, e causam substanciais estresses mentais para um número significante de possíveis passageiros (…). Até agora, as companhias aéreas têm adotado numerosas medidas para coibir sequestros, inclusive a observação de passageiros, o uso de aparelhos detetores de metais, as buscas aleatórias na bagagem de passageiros e o uso de guardas armados na aeronave. Outras medidas têm sido consideradas, como a instalação de paredes à prova de balas entre a cabine da aeronave e o compartimento dos passageiros e a interrupção da comunicação entre o compartimento de passageiros e a cabine da aeronave entre os momentos da decolagem e do pouso.
Como todo mundo que já teve que a infelicidade de embarcar em um avião sequestrado já sabe, “tais medidas para coibir sequestros de aeroplanos tem sido inefetivas.” Então, como proceder? Mr. Jensen propõe que cada assento seja dotado de um sistema com seringas hipodérmicas nos assentos, cintos de segurança reforçados e uma espécie de airbag no encosto da poltrona.
Em caso de suspeita, o piloto ou algum tripulante responsável pela segurança acionaria, por controle remoto, o tal balão inflável no assento do suspeito. Forçado pela pequena explosão a se curvar para frente e preso por um cinto que não pode destravar, o terrorista ficaria em posição perfeita para tomar uma confortável injeção de “um forte sedativo ou veneno”.
A princípio, tudo parece perfeito. Todos os problemas de segurança aérea antiterror são resolvidos. Nenhum passageiro honesto corre riscos nem é forçado a passar por aborrecimentos antes do embarque em nome da segurança. O terrorista entraria na aeronave-alvo com a maior facilidade — e, no fim, cairia numa armadilha. Apenas o sequestrador seria acertado, e com grande precisão. Se houver cúmplices, eles podem facilmente desistir ao ver o chefe dominado — isso se não forem sedados juntos todos os terroristas.
Evidentemente, a perfeição está só nas aparências. Embora Jensen proponha que o piloto seja responsável pela segurança dos passageiros, parece improvável que, além de controlar a aeronave e se comunicar com a torre ou outros pilotos, o comandante ainda aplique injeções por controle-remoto em passageiros que lhe parecem suspeitos. Além disso, o tripulante encarregado do sistema pode ser cúmplice dos terroristas e fazer vista grossa até ser tarde demais.
Mesmo que não haja sequestradores a bordo (e geralmente não haverá), pode haver problemas: e se o “terrorista” for uma pessoa que aparenta um comportamento suspeito mas, na verdade, é apenas alguém que, digamos, esteja com medo do voo? Se um passageiro for sedado (ou mesmo envenenado) indevidamente, de quem é a culpa? Um passageiro morto por engano, mesmo com a melhor das intenções, não seria muito bom para a imagem de nenhuma empresa aérea.
Por fim, além das falhas humanas, sempre há o risco de uma falha puramente mecânica. As seringas são acionadas por molas, que talvez possam se soltar caso o passageiro seja obeso. E assim como provam os airbags acionados por nada, os encostos infláveis também poderiam funcionar indevidamente por causa de uma falha eletrônica.
Patentes Patéticas (n°. 123) | hypercubic
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