Sem dinheiro, sem lei

Ser xerife no faroeste nem sempre era sinônimo de grana e poder. Aliás, quanto menos dólares no bolso, mais limitado era o raio de ação de um xerife. Esse foi, por exemplo, o caso do xerife George Tyng, de Yuma County, no então Território do Arizona. O caso é tão enrolado quanto a descrição feita por Mr. Tyng em uma carta:

Recebido o processo de Arizona City, em janeiro de 1873, parti para deter o acusado em Ehrenberg, Território do Arizona, em 31 jan. 1873. Mas, considerando — que o acusado não tinha dinheiro algum e eu mesmo estava quebrado; e que o condado não pagou o adiantamento em dinheiro; e que nem havia por aqui barco a vapor e nenhum calabouço disponível; e que o acusado não poderia seguir sozinho a pé até Yuma e eu não poderia acompanhá-lo antes de detê-lo, o que não podia fazer por falta de dinheiro — ele apresentou um casaco (valor estimado em 45 centavos em moeda corrente), dizendo que nunca o havia roubado, mas que lhe havia sido presenteado por Bryson. Só que, de todo modo, Bryson era um mentiroso desgraçado e eu, não sabendo o que fazer dele [do acusado], não restou-me nada mais além de passar-lhe um excelente sermão moral, o qual ele considerou desnecessário, já que sua vida seria inocente e sua reputação ilibada, como ele poderia comprovar através dos melhores homens de Nevada e Idaho. Acabei por liberá-lo até uma estação mais favorável, quando um navio a vapor esteja por aqui e nós pudermos fazer as malas para sua passagem até Yuma e apresentar a conta para os próprios Supervisores, o que é quase tudo o que tive que fazer nesse processo, embora eu pudesse fazer o retorno do Orçamento se esse processo tiver um retorno mais maior.

Multas — orçamento de quanto vale o casaco após o pagamento das tarifas judiciárias.

George Tyng,
Sheriff de Yuma County,
Arizona

Seria melhor nem se dar ao trabalho de ir atrás do acusado. Aliás, como ele pôde fazer a viagem de ida sem dinheiro? Talvez seus recursos tenham acabado durante a viagem. Isso poderia ser facilmente resolvido com um caixa-eletrônico, mas o xerife estava preso no Velho-Oeste do séc. XIX. Mas então porque raios ele não recebeu a quantia que parece ter-lhe sido prometida para o cumprimento do dever? Anyway, ficamos com a impressão de que, naquela época, ser xerife era mais um trabalho voluntário do que emprego público. Quanto ao acusado anônimo, é bem provável que tenha ficado livre-leve-e-solto.

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