Mesmo hoje, botar uma vela sobre a cabeça de um animal parece uma péssima ideia. Mas em 1879, Lorenzo Macauley considerou seu Improvement in Road-Lanterns [aperfeiçoamento de lanternas estradeiras] tão brilhante que o patenteou. Segundo o inventor,
Minha invenção consiste de uma lanterna combinada com uma cobertura, sendo a cobertura construída e provida de cintas que são adaptadas para prendê-la na cabeça de um cavalo ou outra besta de tração ou carga, como descrito a seguir.
Assim poderia ser resumida a única página de texto da patente nº. 214.422 [pdf], emitida em 15 de abril de 1879. Natural da pequena cidade de Augusta, no interior do Estado de Winsconsin, Lorenzo G. Macauley considera que
Uma lanterna assim anexada à cabeça do cavalo permite tanto ao cavalo quanto ao condutor ver a condição da pista e objetos nela muito mais claramente e a maiores distâncias do que quando a lanterna é posta na carruagem.
É um bom argumento, mas Mr. Macauley parece ter desconsiderado que a cabeça de um cavalo é uma base móvel e, portanto, inconstante e consequentemente insegura. O condutor poderia até controlar o trote do cavalo, mas dificilmente poderia manter o facho sempre na direção mais desejável. Além disso, nada impede que o animal volte sua cabeça na direção do cocheiro provocando uma espécie de auto-ofuscamento que seria no mínimo cômico.
Se bem que seria difícil ser ofuscado por uma lanterna a vela. Aí está outro problema: não há nenhuma inovação tecnológica pra valer. A única novidade é a localização insólita da lanterna. Não se pode nem falar de aperfeiçoamento.
Ainda que haja uma proteção — aparentemente de couro — entre a lanterna de lata e a cabeça do cavalo, talvez seja muito pouco para evitar um acidente como o escorrimento de cera quente na cabeça do animal. Durante uma viagem, isso poderia ter consequências bem trágicas.
Talvez a única influência que a lanterna de Macauley possa ter criado (ou não) seja meramente linguística. Headlight [lit. luz da cabeça] é, até hoje, farol na terminologia veicular americana.
rafinha.bianchin
Uma antiga (antiga de verdade) 'lei' na minha cidade previa uma severa multa para quem deixasse um boi solto sem lâmpadas (a querosene) penduradas nos chifres.
Renato Pincelli
É sério isso, Rafinha? o.O
rafinha.bianchin
"09 - Boi ou vaca deitado na rua sem lanternas nos chifres de modo que os andantes o vejam bem de longe, multa de 5$000.
[...]
13- Toda contraversão omitida nesta postura será resolvida pelo meu pau."
[Favor notar que "pau" não demonstra sentido obsceno, referindo-se a algo também conhecido por 'cacetete'].
O texto é de 1855, 24 anos antes da patente citada no texto.
O trecho foi extraído de' Alegrete em fatos', Danilo Santos.
O objetivo da patente não é exatamente o mesmo do citado no texto do fiscal maluco.
Ah, e é conveniente lembrar que o texto foi publicado em frente de um boticario nem um dia 1° de abril.
Renato Pincelli
Ah, claro, tem cara de 1º. de Abril. E quem quiser, pode ver a lista completa aqui ó.
rafinha.bianchin
Ah, coisa boa, o livro em versão digital! É importante lembrar que o texto existiu de verdade, o que podia ser falso era as ordens expressas. Mas não é uma 'idéia' patética.