Lewis Carroll analisa a tensão superficial em um experimento mental. É um exemplo perfeito de lógica escorregadia:
Suponha um sólido mantido sobre a superfície de um líquido e parcialmente imerso: uma porção do líquido é deslocada enquanto o nível sobe. Mas, evidentemente, com essa elevação do nível, um pouquinho a mais do sólido acaba imerso. Assim, temos um segundo deslocamento do líquido e um consequente aumento do nível. Novamente, essa segunda elevação do nível causa ainda outra imersão e porseguinte outro deslocamento e mais outra elevação do nível do líquido. É auto-evidente que esse processo deve continuar até que o sólido seja inteiramente imerso e que o líquido passará a imergir o que quer que tenha mantido o sólido ou que esteja em contato com ele ou que possa ser temporariamente considerado parte dele. Se você mantém um galho de seis pés em contato com a superfície de uma poça d’água e esperar o bastante, eventualmente vai acabar sendo imerso. A questão da fonte de onde a água vem — que pertence a um alto ramo da matemática e está além de nosso presente escopo — não se aplica ao mar. Vamos, portanto, considerar o caso familiar de um homem parado à beira-mar, durante a maré-vazante, com um sólido em sua mão, o qual ele imerge parcialmente. Nesse caso, ele [o homem] mantém-se firme e imóvel, embora saibamos que ele deveria acabar afogado.
As multidões daqueles que perecem diariamente dessa maneira para atestar uma verdade filosófica — cujos corpos as ondas rabugentas lançam indiferentemente em nossas praias ingratas — merecem ser chamados de mártires da ciência mais do que um Galileu ou um Kepler.
Igor Santos
Existe um enigma meio baseado nisso, o do homem num barco segurando uma bola de boliche. Conhece?
Renato Pincelli
Não conheço, Igor. Mas até que faz sentido.
Raphael
Taí, um sujeito que confunde ciência moderna e, portanto, experimental nos termos das observações práticas e objetivas de Kepler e Galileu, com qualquer filosofia barata (e qualquer outra "pseudo-ciência") com suas "verdades filosóficas" e "experimentos mentais" (que podem se dar ao "luxo" de atenderem apenas a princípios lógico-filosóficos e subjetivos). Pretende, AINDA, que os defensores destas ultimas sejam considerados MAIS do que os dois ilustres primeiros; a despeito de toda imensa contribuição que deram pra historia e desenvolvimento do método científico. É, simplesmente, fantástico!
Renato Pincelli
Raphael, creio que Carroll esteja sendo irônico em relação a Kepler e Galileu.
Igor Santos
Um sujeito está num lago/lagoa/piscina em pé num barco/jangada/balsa segurando uma bola de boliche/bala de canhão/algo de ferro bem pesado.
Após medir o deslocamento da água na borda/margem, ele solta o objeto e este afunda.
A pergunta é: o nível da água retraia, avança ou permanece igual? O espaço que o objeto ocupa imerso é maior, igual ou menor que sua influência por flutuabilidade?