Pessoas comuns carregam seus telefones celulares no bolso ou na bolsa. Se prefere ser clássico, você o leva naquele pequeno suporte de couro preso ao cinto. Se for mais ousado, talvez use um cinto (ou coleira) de utilidades. Mas e se você quiser ostentar e ainda ter estilo de super-herói? Não tema! Este é um trabalho para Marcus e Franco Caldana e seu Device for the quick and easy use of a small size cellular telephone [Dispositivo para uso rápido e simples de um telefone celular de tamanho pequeno], no qual
O telefone celular de pequeno tamanho (T) é fixado num escorregador [slide] (201, 101) que desliza numa guia (1) que pode ser longitudinalmente segura no pulso (P) do braço do usuário (B). Quando o telefone toca e o sistema de vibração está acionado, as vibrações são facilmente transmitidas para o sistema de escorregador e guia e deste para o pulso do usuário que, desta forma, pode instantaneamente perceber a chamada, mesmo em um local ruidoso. Ao apanhar o celular com a mão livre, o usuário pode estender as guias e rapidamente colocar o próprio telefone na palma da mão para usá-lo. Igualmente, quando a conversação for encerrada, o telefone celular pode ser agilmente retirado para a posição retraída no pulso. Meios de liberação adequados são fornecidos para manter o escorregador na posição de repouso e, se necessário, também na posição estendida de uso do telefone celular.
Parece uma cena digna de ficção científica: o telefone toca, mas ninguém vê. Mas um segundo depois, o usuário já está falando. De onde surgiu o aparelho? Debaixo da manga! Parece modernoso, mas é apenas o velho truque de tirar algo da manga! Neste caso, um celular.
Italianos de Bolonha, Marcus e Franco Caldana atravessaram o Atlântico para patentear sua ideia nos Estados Unidos em 9 de fevereiro de 2001, pouco depois de entrarem com um pedido de patente europeia. O USPTO, simpático com qualquer ideia que apareça, foi mais rápido e concedeu a patente nº. 6.796.467 [pdf] em 28 de setembro de 2004.
Os europeus, porém, não devem ter se impressionado com a ideia, pois a patente EP 1256185 B1 só saiu em 26 de março de 2008 — mais de sete anos após o pedido! Ou isso ou eles tiveram que passar por uma montanha de patentes patéticas antes de chegar ao documento dos inventores italianos. Em inglês (patentes europeias também exigem redação em francês), o texto de ambas as patentes é praticamente o mesmo. Tanto que nos dois lados do Atlântico os irmãos Caldana apresentaram o mesmo argumento:
Para o usuário transportar com proximidade telefones celulares ou móveis, há realmente diversos tipos de estojos que o usuário pode vestir, por exemplo, no cinto ou em um dos ombros. Nenhum dos dispositivos atualmente conhecidos permite a possibilidade de agilidade e facilidade para montar o telefone celular em sua condição de uso e, em seguida, com a mesma agilidade e facilidade, desmontá-lo na posição de repouso e nenhum dos dispositivos conhecidos permite carregar o celular em posição tal que permita ao usuário ouvir um toque, principalmente na presença de um grande ruído. A invenção intende solucionar este e outros problemas através da seguinte ideia.
A “seguinte ideia” é uma discrição similar à do resumo (que já apresentamos) e as tradicionais descrições nos mínimos detalhes das figuras. E só. O texto na íntegra tem quase uma página e meia. As cinco figuras tomam mais espaço. Até porque não há muito mais o que dizer e a ideia é gritantemente óbvia. A patente de Marcus e Franco termina por aqui, mas nossas pesquisas não terminaram.
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Os manos Caldana não dizem de onde tiraram essa ideia. Talvez eles já tivessem o hábito de carregar seus cellulare na palma da mão retraída e escondida na ponta da manga. #quemnunca? Talvez eles tenham lido Marshall McLuhan (1911-1980) — “os meios de comunicação como extensão do homem”, capisce? — e tenham interpretado isso de maneira literal. O mais provável, porém, é que eles tenham se inspirado em outra patente patética — o que, por si só, já é o bastante para tornar uma ideia patética. Entre as referências citadas na patente americana, os Caldana citam a clássica (e igualmente estilosa) Self-defensive firearm, de Frederick G. Palla. Foi só trocar a arma de fogo dos anos 1930 pelo auge da tecnologia da virada do século — o celular dobrável.
Se esses aparelhos dobráveis lhe parecem ultrapassados e você quer ganhar rios de dinheiro vendendo algo parecido para usuários de iPhone, pode tirar o cavalinho da chuva colocar sua patentinha na gaveta. Como os Caldana só falam em “telefones celulares de tamanho pequeno” e não em tablets, smartphones, câmeras digitais ou qualquer aparelho eletrônico portátil possível e imaginável, não tardaram a surgir espertalhões mais sagazes e novas patentes com basicamente a mesma ideia.
James Pyle Colin, de San Francisco, conseguiu registrar seu Wrist or arm strap with hinged mount for camera [Punho ou cinta para braço articulada com montagem para a câmera], sob número 8.016.492 em 13 de setembro de 2011. Colin propõe, em vez de trilhos, uma pulseira com velcro e uma base com encaixe para câmeras digitais (porque ninguém mais usa tripés e usar as duas mãos exige muita coordenação motora, além de cansar).
Leo Green, de Rienzi, Mississipi, é detentor da patente nº. 8.140.131, aprovada em 20 de março de 2012. Green, que deve ser um relojoeiro, foi mais esperto que todos os seus antecessores. Chamou seu invento de Systems and methods for holding mobile electronic devices [Sistemas e métodos para segurar dispositivos eletrônicos móveis], o que é bem mais genérico — qualquer coisa que alegue ser capaz de segurar um gagdet infrigiria esta patente. Fora isso, tudo o que Green fez foi juntar um suporte para smartphones (ou talvez tablets pequenos ou aparelhos GPS ou um MP3 ou um MP4 ou algo que seja tudo isso) à pulseira de um relógio. Digital, é claro.
É melhor o pessoal da Apple desistir de patentear o tal de iWatch.