Patentes Patéticas (nº. 118)

https://www.google.com/patents/US4364132

Depois de passar o dia inteiro com seus peixinhos, é recomendável que se tome um banho. Sim, isso significa que você vai ter que tirar seu colete-aquário e ficar longe deles por alguns minutos. Até daria pra tomar banho com seus peixinhos de estimação, mas você não quer perder nenhum pelo ralo ou intoxicado pela espuma. A não ser, é claro, que você tenha uma Banheira-Aquário:

Uma banheira com paredes externas e internas, laterais e no fundo, um rebordo estendendo-se ao longo do topo dessas paredes, uma base que une as paredes internas e externas, com o todo formando uma câmara à prova d’água que se estende ao redor da banheira. Uma tampa é colocada num rebordo da banheira. A tampa provê uma abertura de acesso, e ainda há uma abertura de aeração, para admissão do ar pela água na câmara e para manutenção da câmara. A câmara pode ser usada por peixes e assim resultar numa combinação aquário-banheira.

Patinho de borracha é para os fracos. Lawrence D. Robinson deve ser destes que não larga seus peixes por nada. Ou talvez tenha sido um decorador visionário. O mais provável, porém, é que ele tenha tido um momento eureka — juntar dois objetos comuns e antiquíssimos — durante o banho mesmo. É o que depreendemos das justificativas da patente nº. 4.364.132 [pdf], onde Robinson explica que

Banhos dos mais diversos tipos têm sido apresentados ao longo dos anos, dos banhos romanos às presentes banheiras de tamanho padrão comercialmente disponíveis e que são usadas na casa média. Esta é tipicamente montada sobre o piso, embora também possa ser disposta sobre seções elevadas ou rebaixadas. É comum que sejam montadas em recintos separados. Têm várias formas; algumas com bancos em seu interior, outras sem, etc.
Aquários também tem estado em cena por muitos e muitos anos. Também estão disponíveis em diversos tamanhos e formatos, com características variáveis. Muitos são vasos relativamente simples e pequenos, que podem ser colocados sobre mesas ou prateleiras, [enquanto] outros são mais substanciais em tamanho e mais permanentes em estrutura. Todos são comumente equipados com meios de filtragem, sistema de aeração, bombas e outros equipamentos para uso na manutenção do aquário em condições adequadas para os peixes, etc.

Dito isto, Robinson — que é de Detroit, Michigan — conclui que merece uma patente já que “ninguém até agora apresentou uma combinação de banheira e aquário para o típico uso doméstico. Particularmente, não tem havido até agora um aquário-banheira no qual o banhista fica no centro do aquário ao tomar seu banho.” Talvez esteja certo pelo critério do pioneirismo, mas e quanto à praticidade? Uma banheira-aquário é algo realmente necessário? Robinson ainda destaca a praticidade de seu invento:

Pode-se entrar nesta banheira da mesma maneira que qualquer banheira e ela também pode ser limpa e mantida da mesma maneira [i.e. do mesmo modo que uma banheira comum, não como se entra]. Os encanamentos para a banheira são separados e independentes daqueles do aquário e um não precisa sofrer com o funcionamento ou mal-funcionamento do outro.

Outro argumento bastante convincente é de que “a banheira é feita de materiais transparentes” (uau!) e que “os peixes e/ou outras criaturas podem assim ter um curso completo para suas atividades e serão mais saudáveis que se confinados numa seção menor”.

As duas páginas de texto da patente podem ser resumidas apenas nos trechos que apresentamos. Não há nenhuma problematização. Tampouco se apresenta o problema a ser resolvido pelo invento. Robinson não explica o processo de fabricação do invento nem como deve ser instalado (isso pode não ser tão óbvio quanto parece: a água do aquário deve ir pro esgoto ou pro sistema de águas pluviais? Ou seria melhor reciclá-la?).

Também não se discute quais materiais transparentes são mais adequados, qual deve ser o equipamento de filtragem ou aeração usado na parte do aquário, como deve ser feita a manutenção de maneira a não contaminar o aquário (ou como descontaminá-lo, se for o caso) ou simplesmente se o uso decorativo da banheira é mesmo viável (que tipos de peixes podem viver nisso? se é que podem viver). Pior: nada disso parece ter sido considerado como exigência pelo USPTO. O inventor não parece ter feito teste algum, talvez nem mesmo tenha construído uma banheira-aquário. Parece que teve sua eureka e correu pro escritório de patentes.

Não precisava ter tanta pressa. Mesmo com esses argumentos simplíssimos o USPTO levou mais de dois anos para aprovar (mesmo sem qualquer critério de utilidade) a ideia da banheira-aquário. Robinson entrou com o pedido em 29 de agosto de 1980 e ele só foi aprovado em 21 de dezembro de 1982.

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