Habemus domini

Em abril de 2005, enquanto o Vaticano procurava um sucessor para João Paulo II, Roger Cadenhead registrava os domínios ClementXV.com, InnocentXIV.com, LeoXIV.com, BenedictXVI.com, PaulVII.com e PiusXIII.com. Cadenhead estava se precavendo, pois o novo papa poderia escolher um daqueles nomes. Porém, ao contrário do que parece, Cadenhead não era funcionário do Vaticano. Na verdade ele reclamava para si os possíveis territórios pontifícios do século XXI.

Cadenhead parece um ilustre desconhecido, mas é notável no universo geek. Ele é jornalista e autor de diversos livros sobre tecnologia, entre os quais Java in 21 Days e Java in 24 Hours. Blogueiro desde o fim dos anos 90, mantém o Drudge Retort, contraponto liberal ao conservador Drudge Report (os dois sites ainda mantêm um visual típico da virada do século).

“Alguém já tinha [registrado] JohnPaulIII.com e JohnXXIV.com”, escreveu ele em seu blog, que incrivelmente não tem uma caixa de buscas [ah, achei! é este o post]. Por isso ele apostou “em todos os nomes dos últimos três séculos.” Quando Joseph Ratzinger escolheu o nome de Benedito [Bento] XVI, Cadenhead contou à CNN que foi “como se meu cavalo chegasse em primeiro nos dérbis de Kentucky”. Como proprietário do domínio do novo papa, o blogueiro fez algumas exigências simples para ceder o endereço à Sua Santidade:

1. Três dias e duas noites no Vaticano;
2. “Um daqueles chapéus”;
3. Absolvição completa, sem qualquer confissão, para a terceira semana de março de 1987.

Era uma pechincha, mas o negócio nunca foi fechado. Bento XVI era o nome certo para Cadenhead, mas a pessoa errada. Como todo mundo sabe, o último papa nunca foi muito afeito às novas tecnologias e pouco dado a liberalismos teológicos — uma absolvição sem confissão lhe seria inadmissível. Na prática, o ex-papa foi mais esperto que Cadenhead e abriu uma conta no twitter (gratuita e livre de absolvições). Talvez nem isso fosse necessário, já que, como Estado, o Vaticano tem seu próprio top level domain, .va.

Na época, houve quem acusasse o blogueiro de comprar o domínio (por meros 12 dólares) para revendê-lo por milhões para a indústria pornô. Cadenhead ainda tentou usá-lo para fins de caridade, depois tentou simplesmente dar o domínio ao Vaticano. Solenemente ignorado, o domínio papal de Cadenhead continua inativo e esquecido — tão esquecido e obscuro quanto aquela semana de março de 1987.

Pelo menos o nosso domain geek conseguiu, alguns anos mais tarde, comprar os domínios de seus principais rivais virtuais, João Paulo III e João XXIV.

Em tempo: quando o cardeal Bergoglio foi eleito no começo deste ano, Cadenhead apostou de novo nos nomes que registrou. No entanto, ele disse que gostaria de algo simples e inédito, como José. Quase acertou…

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