Patentes Patéticas (nº. 154)

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As férias estão acabando (ou mesmo já acabaram) e o retorno ao trabalho é de desconjuntar a postura de qualquer um. Principalmente de quem, por motivos puramente profissionais, passa o dia todo sentado diante de um computador. Soluções ergonômicas para os operários de escritório não faltam. Uma das mais geniais já está completando quinze anos e — surpreendentemente — ainda mal saiu do papel em que foi patenteada. O nome simples — Estações de Trabalho Computadorizadas — pode soar familiar mas está longe de ser um cubículo tradicional:

A presente invenção relaciona-se às estações de trabalho computadorizadas e, mais particularmente, a uma novel estação de trabalho que permite que um operador possa operar um computador de uma posição recumbente e personalizada, evitando assim os múltiplos problemas físicos resultantes do uso prolongado do computador numa posição sentada.

Quantas e quantas vezes o leitor ou leitora já não desejou poder se deitar confortavelmente com seu PC ou mesmo notebook? Pode parecer uma ideia preguiçosa. E talvez seja mesmo, pois foram necessários três inventores para patenteá-la: David M. Baus, Gary T. Lobdell e Kevin J. Gould, todos moradores do Estado de Washington (confesso que tô com preguiça de digitar o nome da cidade de cada um deles…).

Apresentada em 14 de abril de 1995 e aprovada pelo USPTO — após um longo e cansativo processo de análise em cubículos tradicionais — em 8 de fevereiro de 2000, essa estação de trabalho inova justamente pela posição horizontal do usuário.

De acordo com a patente de nº. 6.021.535 [pdf], o preço pela revolução da informática é a dor nas costas:

A invenção e subsequente dominância do computador como meio preferido de acumulação e manipulação de dados levou-nos à revolucionária era da informação. Esse avanço tecnológico tem transformado o ambiente de trabalho tradicional e, assim, o modo como as pessoas realizam seu trabalho cotidiano. Ao mesmo tempo, essa revolução tem resultado em várias lesões relacionadas ao trabalho de escritório que diferem sigificativamente daquelas vistas no passado.

Como solução para um problema que, além de dor nas costas, causa muitos prejuízos por afastamento no trabalho, Baus et. al. propõem uma mudança radical de postura nos escritórios, por meio de uma nova estação de trabalho que

permite a uma pessoa que opere um computador desktop ou laptop a partir de uma posição recumbente ou supina, com a cabeça, pescoço e costas do operador suportada por uma espécie de encosto com inclinação ajustável. O repouso das costas contra um encosto inclinado transfere uma porção significativa do peso do tronco para o encosto e reduz a pressão sobre os discos [da coluna vertebral] e os músculos.

Quanto ao resto do corpo, “os quadris e joelhos do operador podem ser posicionados em graus variáveis de flexão ou extensão sobre uma maca ou placa de apoio”. Não é nada que nenhum preguiçoso já saiba.

Inclusive na prática, porque a coisa toda se resume a um conjunto de itens fáceis de se encontrar: (1) um suporte de espuma triangular, (2) um colchonete, (3) um suporte vertical onde se prende o teclado, (4) uma mesinha para as pernas e (5) uma mesinha para o monitor. Um detalhe é que em desktops, o mouse parece ficar de fora, sendo substituído por um teclado com trackpad. Até o sujeito mais preguiçoso pode piratear facilmente essa patente.

Pode parecer muito confortável e mesmo útil para usuários acamados ou internados em um hospital. Mas não dá pra dizer o mesmo no caso de um banco, por exemplo. Consultar um gerente praticamente deitado seria algo ridículo. Um chefe deitado não seria muito capaz de impor medo em quem fosse pedir aumento. Fosse quem fosse, o usuário poderia ser vítima de uma queda potencialmente fatal.

Por mais que a patente afirme que o sistema é “seguro (um monitor pesado de computador nunca é suspenso sobre o operador)” a queda de um monitor sobre o usuário não deve ser muito agradável e acaba causando outras lesões sérias. Especialmente se for um daqueles monitores de tubo, tal como no desenho da patente.

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