Começamos a ler os genes de uma árvore que sobrevive a bactérias, insetos, fungos, glaciações e até a bombas atômicas
Na China, existe uma árvore que pode viver até mil anos e alcançar 40 metros de altura. Seus galhos são meio tortos, as folhas têm forma de leque e os frutos são fétidos e intragáveis. Com aparência pré-histórica, era de se imaginar que essa árvore não servisse para nada além de fornecer madeira. No entanto, suas sementes são parte da culinária chinesa e suas folhas são a base de um remédio conhecido no Ocidente pelo mesmo nome científico dessa árvore: Ginkgo biloba.
A Ginkgo biloba é uma árvore durona: resistiu a milênios de glaciação na China e desenvolveu um arsenal químico para se defender de bactérias, fungos e insetos. Dentre os poucos sobreviventes da bomba atômica de Hiroshima, havia algumas árvores de ginkgo. Para descobrir o que há por trás de tamanha resiliência, cientistas chineses foram dar uma olhada no genoma desse Chuck Norris vegetal.
Logo de cara o Dr. Wenbin Chen e seus colegas do Instituto de Genômica de Pequim descobriram um material genético maior que o esperado. Muito maior: com 10 GB, é oitenta vezes maior do que o genoma de uma planta-modelo, a Arabidopsis thaliana. O DNA da ginkgo também supera em tamanho outros materiais genéticos gigantes, como o do milho e das orquídeas.
“O grande genoma da ginkgo”, explica o Dr. Chen em comunicado do Sci-News, “deve ser resultado de uma duplicação genômica integral e a inserção de uma grande proporção de sequências repetitivas, pelo menos 76,58%, além dos maiores íntrons dentre todas as espécies sequenciadas.”
Como essa essa espécie mudou pouco ao longo de 170 milhões de anos de existência, a Ginkgo biloba é considerada um fóssil vivo. Entender seu código genético pode responder dúvidas sobre as relações entre linhagens de gimnospermas, a evolução genética de plantas terrestres, o desenvolvimento de novos traços, a evolução do sexo. Tudo isso e mais os segredos da resistência quase implacável da ginkgo.
Parte desses segredos já começam a ser revelados na pesquisa publicada no jornal GigaScience em 22/11. Entre os estimados 40 mil genes da ginkgo, há uma grande variedade de famílias de genes que parecem ligados aos mecanismos de defesa da planta. Genes que combatem patógenos, por exemplo, geralmente estão duplicados. Essa grande variedade de linhas de defesa deve explicar a extraordinária resistência da Ginkgo biloba, a serena mestra das artes marciais botânicas.
Referência
Rui Guan et al. Draft genome of the living fossil Ginkgo biloba [Prospecto do genoma do fóssil vivo Ginkgo biloba]. GigaScience, 5:49 published online November 22, 2016; doi: 10.1186/s13742-016-0154-1