O que andei vendo no Netflix em fevereiro

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As férias acabaram, eu participei de um processo seletivo pro mestrado (e fui bem-sucedido), então não me restou muito tempo para escolher e assistir documentários esse mês. Foi durante o carnaval que vi quase todas essas recomendações, que vão de concursos de misses a ursos, passando por animações da Disney, castelos britânicos e Darth Vader.

To be a miss (84 min., 2016) — Miss Beleza Internacional, Miss Mundo, Miss Universo. Nenhum país ganhou tantos concursos de miss quanto a Venezuela nos últimos 60 anos. Então o que é que as venezuelanas têm? Como mostram os documentaristas Edward Ellis, Aaron Wolf e Flor Salcedo, elas têm muitos sonhos, pouco dinheiro e uma enorme pressão social para se tornarem miss. Desde a infância as meninas da Venezuela participam de concursos de beleza e têm de se conformar com padrões de beleza que não correspondem à realidade demográfica do país. Além de acompanhar as rotinas de candidatas a miss rumo ao estrelato, também ouvimos os relatos de ex-misses, agentes de modelos, cirurgiões plásticos, professoras universitárias, uma radialista e um auto-intitulado missólogo. Entre as críticas e as histórias dos concursos de miss, que se confundem com a história recente do país, vemos um pouco de tudo: das mortes por cirurgias plásticas à miss que enfrentou Hugo Chávez numa eleição, passando pelos clichês como moças dando tchauzinho de miss, esfomeadas pelas dietas e o estereótipo da miss burra. Quem mais ganha com tudo isso, porém, é um homem chamado Omel Sousa, dono de um conglomerado midiático que organiza o concurso Miss Venezuela.


At all costs (81 min., 2016) — Do outro lado do Golfo do México, além das Montanhas Rochosas, são os meninos de 13 a 17 que sofrem as pressões de uma competição nacional. Conhecida como UAA, a liga de basquete colegial americana é tudo menos amadora. Neste documentário, acompanhamos a trajetória de Parker Jackson-Cartwright e Gabe York, colegiais que atuam em equipes bancadas pela Nike e pela Adidas. Durante a primavera-verão, os times da UAA até 100 jogos diante de olheiros e técnicos universitários num ritmo exaustivo. Diante disso, ouvimos as experiências e opiniões de jogadores e ex-jogadores profissionais, treinadores, jornalistas esportivos, familiares e um psicólogo. Embora o objetivo pareça ser a NBA, a maioria dos aspirantes a basquetebolista busca entrar numa boa universidade por meio de bolsas esportivas. Tradicionalmente nas mãos das escolas, esse processo seletivo está cada vez mais sob controle de fabricantes de artigos esportivos.


Life, Animated (91 min., 2016) — Vivendo nos arredores da capital americana, os Suskind eram uma família típica dos anos 90: o pai, Ron, era jornalista do Wall Street Journal; Cornelia era a dona-de-casa que cuidava dos dois meninos, Walter e Owen, que adoravam as animações da Disney. Vinte anos mais tarde, Owen está se formando e começando uma nova vida em uma casa nova e buscando seu primeiro emprego. A história de Owen e sua família seria bastante comum, se ele não fosse autista. Diagnosticado aos 3 anos, quando passou subitamente a ter problemas de coordenação motora, Owen deixou de falar completamente durante alguns anos. O que não mudou, porém, foi sua paixão pelos desenhos da Disney. Foi vendo vez após vez histórias como Bambi, A Pequena Sereia, Aladim e O Rei Leão que Owen entendeu o mundo e, eventualmente começou a se comunicar, expressando-se com as falas dos filmes, que havia decorado inteiramente. Mas Owen sabe que já não é mais criança e que não pode passar o resto da vida num clubinho Disney. Não é fácil descobrir que a vida adulta e seus relacionamentos nem sempre têm finais felizes, mas Owen está se esforçando por sua autonomia. Inspirado no livro escrito por Ron Suskind, este documentário indicado ao Oscar conta com duas participações especiais: Jonathan Freeman e Gilbert Gottfried, dubladores de Jafar e Iago, os personagens favoritos de Owen.


I am your father (81 min., 2015) — Outra história surpreendente que envolve cinema e identidade é a de Dave Prowse. Ele entrou no cinema pela porta dos fundos, atuando em filmes B e chamando a atenção por seu imenso porte físico. Depois de interpretar dois Frankensteins e passar pela Laranja Mecânica, Prowse acabou escolhido para ser o vilão de um filme de ficção científica — um tal de Darth Vader. No entanto, sua cara nunca foi vista na trilogia original. Nem mesmo quando Vader morre. Neste documentário, o diretor e fã Carlos Cabotá reconta a história de Prowse, seu envolvimento em Star Wars, explica porque ele foi excluído da cena mais importante da carreira e busca corrigir essa injustiça. Com depoimentos de produtores e colegas de elenco de Star Wars, escritores, jornalistas e fãs este filme é uma homenagem ao homem por trás do maior vilão do cinema. Como toda boa história precisa de um vilão, esta também tem um: George Lucas, que se recusou a participar do documentário e proibiu a exibição da recriação da cena final de Vader com Prowse.


Magicians: Life in the Impossible (87 min., 2016) — Uma anel flutuante, truques de cartas, uma moeda dentro de uma lâmpada, uma mesa de espadas. Todos estes truques estão neste documentário mas o que ele revela é a vida e as ambições dos caras por trás deles. Gente como Jon Armstrong nerd dos truques de cartas, co-autor de uma HQ, que se apresenta na Comic-Con e dá palestras educativas e só quer ter um bom casamento; Brian Gillis, que depois de uma carreira cheia de apresentações na TV e uma vida num castelinho excêntrico, vê-se obrigado a se mudar para lugares mais modestos e reinventar a carreira; Jan Rouven e Frank Alfter, casal de empresário e mágico alemães que tem como objetivo o estrelato em Las Vegas e David Minkin que busca um lugar ao sol da TV, enquanto tenta lidar com um pastor alemão velho e doente. Os estilos e objetivos de vida desses ilusionistas podem ser diferentes mas todos têm algo em comum: quando as coisas apertam, é a mágica que os mentém vivos — não só financeira mas também psicologicamente.


Secrets of Great British Castles (2016) — Outra coisa associada tanto à magia quanto aos filmes da Disney são os castelos. Em duas temporadas com seis episódios (~ 45 min. cada), esta série do historiador e jornalista Dan Jones nos apresenta os principais castelos do Reino Unido, que de mágicos só têm a aparência. Em meio a passagens secretas, salões suntuosos e muralhas de pedras de lugares como a Torre de Londres, Dover, Stirling, Edimburgo, York e Lancaster, Jones — que mais parece um motoqueiro com seu conjunto de jeans, jaqueta de couro e camiseta — narra histórias de intrigas, crimes, romances, nascimentos e mortes (muitas mortes) que ocorreram nessas fortalezas britânicas.


Tales of Irish Castles (2014) — Com apenas uma temporada de apenas seis episódios, a versão irlandesa de Secrets… é comandada por Simon Delaney. No entanto, a série não me agradou muito. Por dois motivos: 1) a abordagem, um tanto confusa, coloca os castelos da Irlanda como pano de fundo da história geral do país. Assim, cada episódio cobre um determinado período histórico, passando por diversos castelos (e às vezes voltando a alguns em episódios posteriores). A versão britânica do programa teve mais êxito em focar na história local de cada castelo, dedicando um episódio inteiro a cada fortaleza. 2) o apresentador. Delaney faz o tipo bonachão e tenta ser divertido mas considero que isso é inadequado para esse tipo de programa. Como é apenas um apresentador, Delaney tem de recorrer a historiadores profissionais para manter o programa.


Bears: spy in the woods (52 min.) — Negro, branco, pardo, preto-e-branco: ursos existem nessas cores em (quase) todo o mundo. Neste documentário leve, narrado por Sir David Attenborough, as câmeras robóticas da BBC se disfarçam de pedras, troncos e bolas de neve para revelar a intimidade desses grandes mamíferos peludos. Destaque para o urso panda, tão esquivo que só apareceu após 800 horas de espera, e para seu pouco conhecido parente sul-americano, o urso-de-óculos.


Em tempo: só porque vou começar o mestrado não quer dizer que vou abandonar essa série sobre documentários, muito menos o blog. No entanto, pode ser que as atualizações se tornem menos frequentes.

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