Em suma, os preços constituem uma forma de racionamento. As autoridades fixam o preço de acordo com a quantidade do artigo que desejam por no mercado. O governo sabe muito bem que o povo anseia por possuir não meros bens de consumo comuns – panelas e caçarolas – mas superfluidades tais como máquinas fotográficas, refrigeradores, bicicletas, espingardas de caça e, coisa curiosa, lustres. Não desejando, na fase atual, desviar o potencial de produção para a manufatura desses artigos em grande escala, o governo eleva deliberadamente os preços, tornando-os inacessíveis. Outra razão para preços tão altos é que os estabelecimentos de venda a varejo fazem parte, naturalmente, da estrutura geral das finanças governamentais e devem dar lucros, se possível. Todos os lucros das empresas estatais vão para o fundo comum. A maior parte das casas comerciais de Moscou são identificadas não pelo nome, mas pelo número: há inúmeros gastronoms (armazéns de gêneros alimentícios) e aptekas (farmácias), conhecidos por Gastronom № 17 ou Apteka № 56. Alguns nomes são mais complicados, como “Loja de Artigos para Crianças № 14 do Truste de Comércio de Moscou”. — GUNTHER, John. A Rússia por dentro. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1959. p. 49.
Concluí essa semana a leitura do livro de Gunther sobre a Rússia soviética de meados dos anos 1950. Com mais de 500 páginas, pode ser considerado um imenso — e valioso — livro-reportagem, que talvez só peque pela ausência de ilustrações ou fotos. Durante a leitura, separei os trechos que mais me chamaram a atenção e começo hoje a publicá-los em forma seriada, todos os domingos. Tenho material suficiente para o próximo semestre. Dois outros excertos que já publiquei (aqui e aqui) também podem ser considerados partes desta nova série.